INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE: ASPECTOS SOCIAS E DIDÁTICOS

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Gestão ambiental

Documento 1

Terceira Idade. Envelhecimento. Aprendizagem. Introdução O crescimento populacional da terceira idade tem sido uma realidade da sociedade brasileira que a obriga repensar o lugar do idoso nos espaços sociais de convivência, os estereótipos vinculados ao envelhecimento e as políticas públicas de para sua integração e de participação cidadã. Tem-se, diante dessa perspectiva, o marco histórico do Estatuto do Idoso que o coloca como o centro das políticas públicas e primazia no seu atendimento aos serviços em órgãos públicos e privados. Art. º – É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p. Diante desses direitos que lhe são assegurados, o Estado reconhece o respeito e a dignidade para com a pessoa da terceira idade, priorizando-a no acesso às políticas públicas. Do ponto de vista estatístico, a população brasileira vem mostrando um crescimento constante do envelhecimento de sua população: o Brasil cresce cada vez menos e ao mesmo tempo sofre uma sensível transformação de sua estrutura etária que tem levado ao envelhecimento relativo de sua população que, além de incrementar o volume e peso relativo da população idosa, implica, sobretudo no aumento, ainda por algumas décadas, de sua população em idade ativa fruto da inércia demográfica. No entanto, os dados relativos à alfabetização nesse segmento etário alertam para uma perda de qualidade de vida, participação e interação social, além da extrema dependência familiar para a resolução de suas atividades diárias.

A taxa de analfabetismo da população brasileira do Brasil é segundo, dados do IBGE (2015) é de 8,0%, enquanto que a taxa para a terceira idade, quase é triplicada, 22,3%. Nesse aspecto, 22,3% da população da terceira idade estão totalmente excluídas de quaisquer bens culturais, tecnológicos e sociais do mundo letrado, impossibilitadas, dessa forma, a atuarem de qualquer processo de aprendizagem em que a alfabetização seja pré-requisito obrigatório, como, por exemplo, a inclusão digital. No que tange à relação entre a terceira idade e as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NITC’s), os dados estatísticos também apontam para uma relativa expressividade desses bens tecnológicos. Segundo dados do IBGE (2014) da população da terceira idade, 55,6% possuem telefonia móvel e 15,9% conectados à internet: A terceira idade vem tendo seu primeiro contato com os sistemas de informação através da internet, e este contato envolve algumas particularidades, abordando seus interesses, forma de aprendizagem, medos e dificuldades.

A ONU destaca ainda a natureza única e transformadora da Internet não só para permitir aos cidadãos exercer o seu direito à liberdade de opinião e expressão, mas também uma gama de outros direitos humanos, além de promover o progresso da sociedade como um todo. CONCEIÇÃO, 2012, p. apud FORNASIER; SCARANTTI, 2016, p. Fixados, dessa maneira, os parâmetros nos quais as relações da terceira idade estabelecem com a sociedade digital no Brasil, e sua consequente inserção quer por políticas públicas de direito assegurado dos idosos, quer por entidades ou associações não governamentais ou no próprio seio familiar, a aprendizagem das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação deve ser aquela que respeite e conheça o estágio cognitivo, motivacional e o nível de escolaridade de seu público para que essa experiência seja vivenciada em sua plenitude e sucesso.

Conhecimentos prévios para a aprendizagem do idoso da NTIC’s O conhecimento sobre os fatores cognitivos, psicológicos, fisiológicos e psicomotores que atuam no processo do envelhecimento é condição primordial para se construir um ambiente de aprendizagem motivador, eficaz e prazeroso que vai além do domínio da máquina, estende-se à reflexão crítica, à seleção e escolhas das informações disponíveis, o que contribui para a sua qualificação crítica. Outro fator que se liga ao envelhecimento e vinculado à velocidade um processamento mais lento das informações quando estas são apresentadas muito rapidamente ou sem muita clareza. BEE, 1997). No entanto, estudos apontam que as funções intelectuais da terceira idade necessitam de estímulos, como a leitura, o estudo, o raciocínio, a reflexão, a meditação etc.

NETTO, 2004). Diante desse ponto, a aprendizagem de novas habilidades na terceira idade requer mais tempo e paciência do educador, pois ao ter consciência que o ritmo de aprendizagem é maior poderá motivá-lo pela persistência e pela compreensão desse limite. Retorna-se, dessa forma, a noção de “lentidão” nos processos corporais dos mais idosos que devem ser levados em consideração em quaisquer atos educativos. Como último fator a ser considerado no processo de ensino e aprendizagem da população da terceira idade é sua capacidade psicomotora mais reduzida. A psicomotricidade é entendida como “um meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade. A psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade”. COSTA, 2011, P.

p. ressaltam que embora a perspectivas de novas aprendizagens sejam motivadoras na terceira idade, o envelhecimento corrobora para um olhar especial de caráter metodológico, levando-se em conta as limitações dos aprendizes: novas oportunidades de aprendizagem, lazer, acesso à informação e autopercepção como cidadão, mas também dificuldades que vão desde o pouco acesso às TICs até aquelas ocasionadas pelo envelhecimento: “dificuldades de enxergar e diferenciar ícones e letras pequenas, controlar o mouse, encontrar as letras no teclado” o que torna imperativo que fabricantes pensem em “adaptar o computador para que as pessoas da terceira Idade tenham acesso ao uso minimizando suas dificuldades. Portanto, embora o envelhecimento ponha em evidência os limites de ritmo na aprendizagem, estes limites podem ser superados por meio de um projeto pedagógico de inclusão digital voltado às idiossincrasias da população atendida cujo princípio norteador é baseado no respeito e na superação dos desconfortos que a terceira idade vivencia.

Nesse sentido, é imprescindível o conhecimento do processo do envelhecimento da equipe pedagógica envolvida na inclusão digital para a terceira idade. Teorias de aprendizagem motivadoras para a prática didática de inclusão digital As Teorias da Aprendizagem fornecem elementos de compreensão para o processo no qual se opera a relação professor-conhecimento-aluno cujo objetivo é a aprendizagem significativa. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. VYGOTSKY, 2003, p. O processo de aprendizagem reitera-se, nessa perspectiva, a dependência da interação com o meio cultural-histórico e com as demais pessoas. Nessa teoria, embora a centralidade da aprendizagem esteja no sujeito-aluno-protagonista para construção do saber, o mediador (professor) exerce a função para ativar essa aprendizagem: o aprendiz é o sujeito protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, alguém que vai produzir a transformação que converte informação em conhecimento próprio.

Essa construção, pelo aprendiz, não se dá por si mesmo e no vazio, mas a partir de situações nas quais ele possa agir sobre o que é objeto do seu conhecimento, pensar sobre ele, recebendo ajuda, sendo desafiado a refletir, interagindo com outras pessoas (WEIZ, 1999. Piaget considera as ações humanas, e não as sensações como a base do comportamento humano. O pensamento é, simplesmente, a interiorização da ação. OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. Pode-se ainda incluir as Teorias Humanistas de aprendizagem, onde se destaca o protagonismo dos alunos na aprendizagem com objetivo de sua “auto realização”: “o homem que aprendeu a aprender; o homem que aprendeu a adaptar-se e mudou, que percebe que nenhum conhecimento é seguro e que só o processo de buscar conhecimento dá alguma base para segurança” (DELORS, 2012, p.

e a figura inspiradora do professor: Para que o professor seja um facilitador, ele precisa ser uma pessoa verdadeira, autêntica, genuína, despojando-se do tradicional “papel”, “máscara”, ou “fachada” de ser “o professor” e tornar-se uma pessoa real com seus alunos. Como práxis política a serviço da permanente libertação dos seres humanos, que não se dá, repitamos, nas suas consciências apenas, mas na radical modificação das estruturas em cujo processo se transforma as consciências. FREIRE, 2003, pp. p. Por fim, considera-se ainda que, segundo Pozo (2002), vive-se um período histórico no qual a sociedade como um todo é caracterizada como uma sociedade de aprendizagem, da mais banal atividade às atividades mais complexa, o homem necessita de novas aprendizagens para gerir sua vida cotidiana, sobretudo, no que se liga às novas tecnologias de informação que possibilitam a recuperação do conhecimento, não mais situado nas instituições de ensino ou bibliotecas.

Essa realidade atinge necessariamente às relações do ensino e aprendizagem: Não só os teóricos devem assumir a diversidade e complexidade da aprendizagem. É sob essa perspectiva que os esforços das políticas públicas na Terceira Idade devem ser orientados para conduzir seus programas com vistas às concepções de envelhecimento bem sucedido e envelhecimento produtivo: O envelhecimento bem-sucedido pode ter três conotações: 1) a ideia de realização do seu potencial na busca do bem-estar físico, social e psicológico, dado como adequado para sua faixa etária; 2) a ideia de funcionamento semelhante às populações mais jovens e 3) á ideia da manutenção da competência em domínio pré-estabelecido por compensação ou otimização. O envelhecimento produtivo está ligado a ideia de envelhecimento bem-sucedido, se contrapõe à ideia de velhice como inatividade, afastamento e improdutividade.

Incorpora questões como trabalho remunerado, ou não, atividades de lazer; contribuição para a economia pela criação de áreas de consumo; contribuições para a melhoria da saúde, capacidade funcional e satisfação. MOTTA, 2005 apud COSTA, 2011, p. Diante disso, é que deve ser situada a Inclusão Digital, entendida como um ato educador, como uma integração social para o envelhecimento bem sucedido, como uma ressignificação da participação social do idoso na sociedade digital: O problema do ‘acesso para todos’ não pode ser reduzido às dimensões tecnológicas e financeiras geralmente apresentadas. Diante esses dois conceitos que são complementares, a inclusão digital não deve ser abordada apenas ao nível da alfabetização digital, ao contrário, como uma das políticas públicas de inclusão social, esta tem de estar inserida a uma dimensão maior, o letramento digital: É empreender uma busca de informação, o sujeito deve ser capaz de encontrar a informação no suporte digital, interpretá-la e atribuir-lhe significado, com a construção de modelos mentais.

Assim, o sujeito irá estabelecer relações entre as informações apreendidas, o seu conhecimento prévio e irá desenvolver a construção de novos conhecimentos. Neste nível, espera-se que o sujeito compreenda como o conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como usá-la para resolução de problemas. A inclusão social é o nível que se refere ao letramento informacional com ênfase na construção da cidadania, abrangendo valores da dimensão social e da situacional. GANDRA, 2012, p. Como último ponto, ressaltam-se os benefícios que a inclusão digital promove na terceira idade: Com maior acesso à informação e à participação ativa em diferentes vivências, outra marca da sociedade globalizada, o idoso vem tendo oportunidades, nos mais diversos âmbitos, inclusive no contexto do lazer, de ressignificar sua existência, sua aprendizagem, sua importância como cidadão detentor de direitos e garantias legais, seu envelhecimento, sua própria velhice e os níveis de sua efetiva participação dentro da sociedade.

GASPARI; SCHWARTZ 2005, p. apud MIRANDA; FARIAS 2009, p. Com efeito, inúmeras são as pesquisas de campo na área acadêmica que ratificam a importância da internet na terceira idade, donde se destacam: a perspectiva de uma nova sociabilização, qualidade de informação, estímulos cognitivos, a autonomia diante do mundo burocrático e do consumo e o lazer digital. A perspectiva de uma nova sociabilização relaciona-se aos diferentes grupos de interesse que se formam nas redes sociais, de acordo com White et al. Um exemplo da aplicabilidade do computador e da internet para esses fins é a casa de repouso Erickson Retirement Communities, que, a exemplo de outras nos Estados Unidos, dispõe, para os seus residentes, de uma sala de computação com aulas periódicas, buscando manter e estimular a saúde mental deles.

MIRANDA; FARIAS, 2009, p. Nesse aspecto, uma inclusão digital para terceira idade de qualidade e responsabilidade social deveria ser aquela em que esses elementos fizessem parte de sua grade de conhecimentos. No que se refere à autonomia do idoso diante do mundo burocrático e do consumo, sabe-se que os órgãos públicos vêm cada vez mais interagindo com seus cidadãos por meio da internet nos mais diversos setores de atendimento, as transações financeiras feitas também pela internet e o comércio eletrônico que oferece uma gama imensa de produtos, essas comodidades auxiliam os idosos a sua rotina diária. No entanto, se não houver uma destreza para identificar a confiabilidade desses sites, os danos podem ser irreparáveis; assim uma inclusão digital que alerte para os riscos concretos cumpre seu papel pedagógico.

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VERONA, Silvana Marinaro et al. Percepção do idoso em relação à Internet.  Temas psicol.   Ribeirão Preto ,  v. S.  Formação social da mente. Martins Fontes. São Paulo. WEISZ.

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