O RISÍVEL E O CÔMICO MORALIZANTE PARA DESCONSTRUIR E DENUNCIAR NAS OBRAS DE GIL VICENTE E ARIANO SUASSUNA

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Física

Documento 1

” Auto da compadecida, Ariano Suassuna RESUMO Neste artigo encontrar-se-á a comparação e a análise de O Velho da horta de Gil Vicente e o Auto da Compadecida de Ariano Suassuna, ambos autos moralizadores que se utilizam do risível e do cômico para desconstruir e, por meio disso, denunciar. Nos dois enredos, os personagens principais motivados pela ganância acabam por sofrer provações e injustiças, com as quais ao final, acabam por ter um desfecho merecido. Palavras-chave: devoção, ganância, justiça, Vicente, Suassuna RESUMEN En este artículo se encontrará la comparación y análisis de El Viejo del jardín de Gil Vicente y el Auto de la Compadecida de Ariano Suassuna, ambos autos moralizantes que se utilizan del risible y del cómico para deconstruir y, por medio de eso, denunciar.

En ambas historias, los personajes principales, impulsados por la codicia, sufren penurias e injusticias, con las que al final, llegam a tener un desenlace bien merecido. Palabras clave: devoción, codicia, justicia, Vicente, Suassuna SUMÁRIO INTRODUÇÃO __________________ Pág. Seja sobre a religião, o matrimônio, a justiça, a salvação, a morte e a própria ideia de vida; o risível e o cômico são instrumentos que desconstroem a tradição e busca denunciar como as pessoas aceitam esses ideais tão comuns a todos os povos - porque abrangem, sem distinção, valores universais - sem pensar em seus significados, e como suas existências são dirigidas por influencias que transcenderam séculos e séculos e que, no entanto, ainda permanecem atuais.

As duas peças possuem traços específicos do período em que foram produzidas, ambas muito particulares, isto é, são desafiadoras ao momento em que foram escritas com características singulares que as definem e diferenciam. E mesmo o fato de Ariano Suassuna ter se inspirado nos autos vicentinos, nas farsas e no pícaro ibérico, a tradição se mistura na cultura popular nordestina e abre as cortinas para novas desconstruções e novas denuncias, que humanizam os defeitos e fraquezas consideradas inadmissíveis pelo cânone. Tal feito fica explícito se compararmos os finais de O Velho da horta e do Auto da Compadecida, onde o Velho por culpa de sua ganância perde tudo e fica a lamentar; enquanto João Grilo causará muitas confusões para se livrar de confusões anteriores, motivadas pela gana, ainda assim, ganha direito a uma segunda chance.

Apesar das duas obras terem muitos traços em comuns, neste artigo será feita uma análise comparativa afim de procurar as denuncias que diferem em cada obra e, por isso, as torna tão únicas em sua irreverência moralizante. Além de teatrólogo, Suassuna é professor, romancista e advogado. Uma Mulher Vestida de Sol foi a primeira peça escrita. As mais conhecidas foram Auto da compadecida, de 1957, e O Santo e a Porca, de 1964, a primeira, inclusive, ganhou versões no cinema e na televisão. Ambos os autores reforçam a manipulação que o clero exerce sobre o povo mais simples, compactuando com os interesses econômicos representados por coronéis, bispos (Ariano Suassuna) e por nobres, ricos (Gil Vicente); as figuras de diabos, anjos, Jesus e Nossa Senhora estarão presentes nas obras dos escritores, com a devida evolução de linguagem no caso dos textos de Suassuna - dentre essas a figura que rouba a cena é a do diabo pela sua força expressiva e sua posição de juiz das almas já que enumera as falcatruas dos outros personagens (efetuando, inclusive, uma rememoração da história que está sendo contada).

A ironia é a grande marca que identifica os autores e é o grande recurso utilizado para elaborar a crítica. O português Gil Vicente, apesar de não ser o primeiro, é o mais famoso dramaturgo português, sem esquecer o título de poeta. Não se sabe com precisão a data de seu nascimento, mas se supõe que tenha nascido em 1465 ou 1466. Vários autores divergem sobre essa data, mas o importante aqui é entender o momento em que os autos foram produzidos e até que momento esse período influenciou na escrita do dramaturgo. Gil Vicente era um autor que escrevia para os eventos do palácio, eventos dos quais era responsável. Entende-se, então, que apesar de ser uma obra questionadora, ela só irá contestar até certo ponto que não o comprometa.

Ó meus olhinhos garridos: análise do protagonista de O Velho da horta O Auto O Velho da horta tem como protagonista um homem citado apenas como “Velho”. Apresenta-se o personagem como um homem maduro em idade, proprietário de uma horta, dono de fortuna considerável e casado; apesar de tudo o que possui põe os olhos em uma mocinha que se apresenta em sua horta uma única vez. Percebe- se, através da análise desse personagem que Gil Vicente traz para sua obra uma crítica sobre a ganância e cobiça dos seres humanos. Gil Vicente também tratará seu personagem como alguém que possui fé, pois já no início do Auto há uma oração: “ Velho — Pater noster criador, Qui es in coelis, poderoso, Santificetur, Senhor, nomen tuum vencedor, nos céu e terra piedoso.

Adveniat a tua graça, regnum tuum sem mais guerra; voluntas tua se faça sicut in coelo et in terra. João Grilo é a caracterização de um nordestino pobre, apresenta tais características em sua fala, e algumas vezes é chamado de “amarelo”. Funcionário de um padeiro e sua esposa, devoto de Nossa Senhora Compadecida. João Grilo causará muitas confusões para se livrar de confusões anteriores. Utiliza de sua boa argumentação para se vingar de seus patrões que não tiveram compaixão dele quando esteve doente. Também usa da mentira e de sua habilidade de coesão para prejudicar o padre, o bispo e o sacristão que lhe causam antipatia. Porém no mesmo momento retorna a sua condição de desafortunado, levado por sua devoção a Compadecida, já que Chicó lhe prometerá todo o dinheiro caso o amigo se livrasse da condenação.

O ato de cumprir a promessa e entregar todo o dinheiro à igreja aponta também uma mudança nas atitudes de João Grilo. Uma característica importantíssima de Ariano Suassuna é justamente a que ele mais utiliza em suas obras, que é a de humanizar os personagens, justificando suas ações através das provações que sofrem. Comparações finais sobre as Obras Auto da Compadecida e O Velho da horta As duas Obras retratam traços típicos de seus lugares e tempos, mas sem deixar de lado o interesse de mostrar os problemas universais da sociedade. Tanto em Auto da Compadecida, quanto em O Velho da horta, os autores se preocupam com as problemáticas que envolvem as pessoas. Além disso, todo o texto está seguido por rubricas, que é a forma em que o autor indica o tom das cenas, as emoções a serem usadas, os elementos participantes dos atos, etc: “Entra logo o velho rezando pela horta.

Foi representada ao mui sereníssimo rei D. Manuel, o primeiro desse nome. Era do Senhor de M. D. A esposa do velho ao perceber que seu marido está apaixonado por outra, decide se separar. Branca Gil se aproveita da paixão do velho para se beneficiar. E o desfecho da história tem como elemento principal também uma personagem feminina que conta ao velho o que aconteceu com sua amada. As mulheres no auto de Gil Vicente possuem um papel importante e uma personalidade forte. Já no Auto da Compadecida temos a personagem da mulher do padeiro que trai seu marido e o mesmo faz tudo que sua esposa quer, como percebemos nesse diálogo: “MULHER, furiosa Quer dizer, quando era o cachorro do major, já estava tudo pensado, para benzer o meu é essa complicação! Olhe que meu marido é presidente e sócio benfeitor da Irmandade Almas! Vou pedir a demissão dele! PADEIRO Vai pedir minha demissão! MULHER De hoje em diante não me sai lá de casa nem um pão para a Irmandade! PADEIRO Nem um pão! MULHER E olhe que os pães que vêm para aqui são de graça! PADEIRO São de graça! MULHER E olhe que as obras da igreja é ele quem está custeando! PADEIRO Sou eu que estou custeando!”.

Gesto de desânimo. A COMPADECIDA É verdade que não eram dos melhores, mas você precisa levar em conta a língua do mundo e o modo de acusar do diabo. O bispo trabalhava e por isso era chamado de político e de mero administrador. Já com esses dois a acusação é pelo outro lado. É verdade que eles praticaram atos vergonhosos, mas é preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. Et ne nos, Deus, te pedimos, inducas, por nenhum modo, in tentationem caímos porque fracos nos sentimos formados de triste lodo. Sed libera nossa fraqueza, nos a malo nesta vida; Amen, por tua grandeza, e nos livre tua alteza da tristeza sem medida. Entra a MOÇA na horta e diz o VELHO: Velho — Senhora, benza-vos Deus, Moça — Deus vos mantenha, senhor.

” (VICENTE, 1512) No auto de Suassuna a religião predomina por toda a Obra, desde a questão da corrupção dos membros da igreja, até a devoção que seus personagens possuem. Essa devoção está relacionada na realidade em que tais personagens vivem, ou seja, a realidade do nordeste: “ENCOURADO Medo? Medo de quê? BISPO Ah, senhor, de muitas coisas. Está-me chamando de ladrão? Severino do Aracaju pode ser assassino, mas não mata ninguém sem motivo. Até hoje só matei para roubar. É assim que garanto meu sustento. Mas você me chamou de ladrão e vai se arrepender. BISPO Quer dizer que o senhor vai nos matar a todos? SEVERINO Vou, por que não? BISPO Mas você não disse que só mata para garantir seu sustento? SEVERINO E não é o que estou fazendo?”.

” (VICENTE, 1512). “CHICÓ Tem que eu, pensando que não tinha mais jeito, fiz uma promessa a Nossa Senhora para dar todo o dinheiro a ela, se você escapasse! JOÃO GRILO Ai meu Deus, ai minha Nossa Senhora! CHICÓ Ai meu Deus, ai minha Nossa Senhora! JOÃO GRILO Mas Chicó, como é que se faz uma promessa dessas? CHICÓ E eu sabia lá que você ia escapar, desgraça? Oh homem duro de morrer, meu Deus! JOÃO GRILO Ah promessa desgraçada, ah promessa sem jeito, Chicó!”. SUASSUNA, 1955). REFERÊNCIAS Biografia de Ariano Suassuna. Disponível em: http://educacao. blogspot. com. br/2013/05/a-semelhanca-entre-ariano-suassuna-e. html Acesso em: 27/06/2014 SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. pdf. Acesso em: 08/06/2014 Vida e obra de Gil Vicente. Disponível em: http://www. estudopratico. com.

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