Breve abordagem sobre a vida e obra de Sara pelo viés da teologia feminista

Tipo de documento:Artigo cientifíco

Área de estudo:Teologia

Documento 1

TATUAPÉ – SÃO PAULO 2018 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus que é Pai e que é Mãe, que esteve e está sempre comigo nas minhas lutas e me fortalece para que supere cada obstáculo no meu caminho. “Meu principal trabalho é a desconstrução do pensamento, da filosofia, da teologia que mantém estas posições contra as escolhas das mulheres, contra os corpos femininos, contra as dores femininas”. Ivone Gebara) RESUMO A Teologia Contemporânea tem um universo vasto para investigação, muito já se escreveu e muito ainda está por produzir. Ao escolher a personagem bíblica Sara para analisar sob o viés da Teologia Feminista, o objetivo é, não esgotar o assunto, mas levantar as características da mulher, seja sua beleza, seja sua esterilidade, e como estas interferiram em sua vida.

Ao longo dos séculos, na história do povo de Deus e no cristianismo, a mulher foi relegada à inferioridade e submissão. Há várias mulheres de destaque nas escrituras, mas Sara foi uma escolha que considero apropriada para analisar sob o viés da Teologia Feminista. A estéril escolhida por Deus para gerar e fazer surgir uma grande descendência. A mulher formosa (como diz o texto), que, já naquela época tinha que se submeter aos homens, pelo fato de ser mulher e atraente. A literatura teológica feminista é rica e evoluiu sensivelmente nas últimas décadas. Fazer a releitura bíblica sob esta ótica é uma contribuição importante para as mudanças que se esperam nesses novos tempos em que se faz necessário desconstruir a cultura do patriarcado que, ainda hoje, fundamenta não apenas as religiões, mas todo o modelo sociocultural.

Ao adotarem o termo “Teologia Feminista” para a sua produção, as teólogas assumem também a categoria analítica de gênero, na perspectiva metodológica da construção e desconstrução. A partir da leitura da teóloga Delir Brunelli e da antropóloga Fabíola Rohden, ao relerem Ivone Gebara, uma das referências no Brasil quando se fala em TF, podem-se considerar três fases distintas na produção construção de gênero. A primeira é “a teologia e a ‘questão da mulher’ (segunda metade da década de 70). Nesse primeiro momento a reflexão se deu em torno do resgate do papel da mulher, discriminada e oprimida tanto na sociedade quanto dentro das igrejas cristãs. Furlin (2011, p 144): “É o momento em que sentem a necessidade de uma nova hermenêutica para a leitura bíblica, que fosse ferramenta no processo de “libertação” das mulheres.

“a Teologia da Libertação ainda é patriarcal e repleta de imagens masculinas de Deus”. E, a terceira fase, é denominada por Gebara como “Teologia Ecofeminista”. Para a teóloga, há um potencial para romper com as orientações patriarcais. Ela usa os termos desconstrução e reconstrução para situar o objeto das reflexões. Brunelli (2000) entende diferente esta terceira fase, à qual chama de “Teologia Feminista: a Mediação de Gênero na Teologia”. A LEITURA BÍBLICA SOB A ÓTICA FEMINISTA Para chegarmos ao tema central deste trabalho, a vida de Sara, é preciso fazer uma breve passagem sobre a proposta de uma releitura bíblica sob uma visão de gênero, desconstruindo o sistema patriarcal que permeia os livros da Sagrada Escritura. Possivelmente, a primeira a manifestar uma leitura feminista da Bíblia, foi a americana Elizabeth Cady Stanton no século XIX, que resultou na ‘Woman’s Bible’ (Bíblia da Mulher).

Mônica Baptista Campos contextualiza:. Stanton reuniu um grupo de mulheres que conheciam hebraico e grego e lançou, entre 1895 e 1898, a "Bíblia das Mulheres". Hoje, a abordagem feminista é reconhecida pelo Magistério da Igreja, que no Documento da Pontifícia Comissão Bíblica, item E n° 2, afirma que são numerosas as contribuições da exegese feminista, inclusive no sentido de corrigir interpretações tendenciosas que visavam a justificar a dominação do homem sobre a mulher. Johnson, 1995, p. Ao utilizar as imagens masculinas, estará se reforçando e identificando o Divino com ELE, masculinizando-O. O que é visto como natural, sem considerar que a divindade é assexuada. Apesar dos esforços em busca de uma ruptura com o predomínio de imagens masculinas, os caminhos escolhidos ajudaram a desenvolver uma visão unilateral do “feminino” que não permitiu a superação da mentalidade androcêntrica.

Seria como desconsiderar a mulher em sua historicidade, projetando em Deus características femininas: Deus-mãe, Deus-Trindade, Sofia, por exemplo. C. de Sara. Além do livro de Gênesis, Sara é mencionada, ainda no Antigo Testamento no livro do Profeta Isaías: "olhem para Abraão, o pai de vocês, reparem em Sara, que os deu à luz. Quando eu o chamei, ele era um só; mas eu o abençoei e multipliquei" (Is 51,2). No Novo Testamento, Paulo se refere a Sara em duas cartas, mesmo não citando seu nome diretamente em uma delas, em Rm 4,19; 9,9) e Gl 4,21-31. Seria ela filha de seu pai Terá, não com sua mãe, mas com outra mulher. Mas, a mentira ou omissão de Abraão era para preservar sua vida.

O primeiro fato se deu no Egito quando, fugindo da fome, Abraão foi levado ao faraó que se encantou por Sara, até descobrir que era esposa de seu hóspede. Fato semelhante teria se dado em Gerar quando o rei quis tomar Sara para si, crendo que fosse irmã e não esposa de Abraão. A mulher era considerada propriedade, portanto, podia ser envolvida em negociações, conforme alusão ao conceito de pater famílias, no capítulo anterior. E não se chamará mais Abrão, mas o seu nome será Abraão, pois eu o tornarei pai de muitas nações. Eu o tornarei extremamente fecundo. De você farei surgir nações, e de você nascerão reis. Vou estabelecer para sempre a minha aliança entre mim e você, como aliança eterna.

Serei o Deus de você e o Deus de seus futuros descendentes. É a própria Sara quem toma a iniciativa: Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos; mas tinha uma escrava egípcia chamada Agar. Então Sarai disse a Abrão: “Javé não me deixa ter filhos: una-se à minha escrava, para ver se ela me dá filhos”. Abrão aceitou a proposta de Sarai. Dez anos depois que Abrão se estabeleceu na terra de Canaã, sua mulher Sarai tomou sua escrava, a egípcia Agar, e a entregou como mulher a seu marido Abrão. Este se uniu a Agar que ficou grávida. Lamentável, porém, é que ambas continuam vítimas do mesmo sistema patriarcal. A importância da mãe, também no caso de Agar, deriva da importância do filho homem Ismael, assim como é o filho homem Isaac que atribui a Sara sua importância da genealogia de Israel.

Além disso, como indicávamos, a atualidade desse texto para a teologia feminista atual reside noutro lugar. Candiotto, 2008, p. A promessa de Deus, conforme relata o livro de Gênesis, quando anunciou a Abraão que o faria pai de uma grande descendência, era para que Sara lhe desse um filho, mantendo a mesma linhagem genealógica. A mesma simbologia uterina encerra a sua vida: a gruta, na qual foi sepultada, representa simbolicamente o seu útero, estéril, estanque, retentor, escuro e frio. Nela, seu corpo de se decomporá até perder todos os contornos e se transformar em uma massa informe e indiferenciada, como um walad. Chwarts, 2004, p. O walad, aqui, sem querer definir o termo, denota o que se tratou acima, da mulher invisível ou colocada num segundo plano, pela Teologia e Hermenêutica patriarcalista.

Visão esta confrontada pela Teologia Feminista. Libertação da mulher: um desafio para a Igreja e a Vida Religiosa na América Latina. Rio de Janeiro: CRB, 1988. BRUNELLI, Delir, Teologia e Gênero. In: SUZIN, Luiz Carlos (org). Sarça Ardente – Teologia na América Latina: Prospectivas. Teologia na perspectiva das relações de gênero: a contribuição da hermenêutica bíblica”. In: Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Teologia – PUC – Rio de Janeiro, 2008 CHWARTS, Suzana. Uma visão da esterilidade na Bíblia Hebraica. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2004, p. EISENBERG, Josi. In: Contexto Pastoral, p. apud de FURLIN, Neiva. Teologia feminista: uma voz que emerge nas margens do discurso teológico hegemônico. In: Rever • Ano 11 - No 01 - Jan/Jun 2011, p.

JOHNSON, Elizabeth. vol. no. p. Disponível em: http://www. scielo.

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