CARREIRAS ITINERANTES: Estudo sociológico acerca das interações sociais de tripulantes brasileiros em navio transatlântico

Tipo de documento:Dissertação de Mestrado

Área de estudo:Sociologia

Documento 1

Supervisor/Orientador: PROF. DR. MICHEL NICOLAU NETTO ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO MICHAEL DOS SANTOS GOMES, E ORIENTADA PELO PROF. DR. MICHAEL NICOLAU NETTO. Meu orientador, Prof. Dr. Michel Nicolau Netto, sempre atencioso e prestativo, nunca mediu esforços para que eu pudesse desenvolver meu trabalho da melhor maneira possível. Da minha parte, admiração, respeito e carinho foram os sentimentos nutridos durante esses anos de trabalho juntos. Aos professores do curso de graduação em Ciências Sociais, IFCH/UNICAMP, em especial aos professores do curso de Sociologia que, desde a minha graduação, sempre estiveram presentes e interessados em oferecer apoio e respeito nas trocas do conhecimento científico. Têm-se como objetivo geral, a realização de uma investigação baseada na sociologia da cultura que procurou discutir: i) a relação entre marcadores sociais e “capitais” específicos nas interações tripulantes hóspedes em um espaço social de regras e papéis (pré)estabelecidos; II) estudo desse espaço físico e social composto por estruturas objetivas e subjetivas que constrangem atuações dos agentes, sendo incorporadas, (re)produzidas e (res)significadas por eles próprios; e iii) verificamos a possibilidade (ou não) de mudanças significativas em termos de identidade e mobilização de “capitais” adquiridos durante a experiência de embarque dos tripulantes.

Palavras-chave: Cultura; Trabalho; Turismo; Sociologia. Identidade. Reconhecimento. ABSTRACT This research aimed to understand the interactions and social exchanges established between Brazilian crew and guests on transatlantic ships destined for sea cruises, the social markers class, race and gender were considered with the conditions of social possibilities of these crew members who work in their service sector. Recognition. LISTA DE TABELAS Tabela 1- Tendência em duração de Viagens de Cruzeiros no Mercado Norte-Americano. Tabela 2 – Impactos Econômicos. Tabela 3 – Maiores Navios do Mundo. Tabela 4 – As principais agências recrutadoras especializadas neste mercado. As principais companhias internacionais 35 1. Introdução ao mundo dos navios de cruzeiro 38 1. Trabalhadores a Bordo 43 1. Composição salarial: 49 1. Legislação 50 1. Tipo de estudo 65 PARTE III – PESQUISA E ANÁLISE 66 3. Mapeamento da análise (ou panorama) 66 3. Formação social e da identidade 66 3.

Caracterização sociodemográfica 67 3. Relação Hospedes e tripulantes 69 3. A pré-pesquisa foi realizada durante a temporada brasileira de cruzeiros 2018/2019 em um navio de cruzeiros. Por sua vez, houve a oportunidade de realizarmos a pesquisa de campo através de observação participante nesse navio, sempre conscientes de que, “diante da impossibilidade de conhecer a totalidade dos processos [e agentes] sociais, os estudos sobre seus fragmentos e detalhes podem levar à compreensão do todo” (SIMMEL, 2012, p. Por isso, quando da possibilidade do encontro entre tripulante e cientista social em um mesmo indivíduo1, tornou-se ainda mais possível realizar uma pesquisa sociológica empírica que buscou compreender as interações e trocas sociais estabelecidas entre tripulantes e hóspedes brasileiros em navios transatlânticos de cruzeiros marítimos considerando os marcadores sociais classe, raça e gênero com as condições de possibilidades dos tripulantes inseridos neste segmento do turismo brasileiro – setor de serviços de navios transatlânticos.

O estudo foi desenvolvido a partir de uma perspectiva sociológica visando analisar as relações estabelecidas entre as interações e trocas sociais a bordo com as condições sociais possibilitadas por esses marcadores sociais nas experiências dos tripulantes tendo, devido a isso, suas vidas afetadas nas dimensões sociais, econômicas, culturais e simbólicas. Sendo assim, um dos objetivos principais foi destacar a relevância social em compreender a realidade d e s e s trabalhadores itinerantes, em um mundo cada vez mais globalizado e articulado com o setor de serviços. É preciso entender suas percepções sobre esses referenciais, sua importância e significado. Com base em experiência adquirida em estudos anteriores de iniciação científica sobre o assunto4 e visando contribuir para ampliar os horizontes da pesquisa social.

A partir desse contexto e com base nas teorias de identidade e do reconhecimento aqui trabalhados é que se busca entender como e a partir de quais situações e vivências, os tripulantes lidam com a construção de suas identidades em uma sociedade que valoriza hierarquicamente as pertenças, tanto étnicas como ocupação social privilegiada, bem como partir de que eventos significativos essa construção identitária pode ser construída. Para tanto, a proposta é investigar se houve na vida dos entrevistados eventos desencadeadores de uma percepção de desigualdades ou injustiças. Caso o entrevistado relate algo nesse sentido, cabe conhecer qual foi a posição diante do fato e qual o caminho percorrido para a construção de uma identidade positiva. Em 1808, têm-se a abertura dos portos brasileiros e em 1837, o primeiro navio a vapor é encomendado para o Brasil, através da Companhia Rio Doce.

TRIGO, 2001). Data de 1841 a fundação da operadora de turismo de “Thomas Cook” dá início a modalidade de vender “pacote turístico” que envolve “o cooperativismo entre as empresas e outros componentes do mercado turístico (agência de viagens, hotéis, transportadoras, restaurantes, atrações, entre outros)” (REJOWSKI, 2002, p. No ano de 1862 extingue-se o privilégio de cabotagem (navegação costeira) para companhias nacionais e já em 1866 o Rio Amazonas é aberto para navegação internacional (TRIGO, 2001). Assim que o mercado turismo torna-se muito abrangente e vem desde o século XVII e suas viagens denominadas de Grand Tours. Esse fato possibilitou o aumento no número de turistas potenciais, alcançando, portanto, a classe popular. No final do século XIX e início do século XX, é que se consolida a mudança nas grandes viagens que envolviam o passeio, que passam então a ser exclusiva de passeio, o que até então se realizavam junto com o transporte de passageiros que tinha como foco principal a migração.

Contudo, a indústria de cruzeiros continuou explorando mercadologicamente o destino da viagem ou dos portos visitados. Essa é uma variante em que deixa de ser um meio para o turista chegar ao seu destino, a própria viagem passa a ser uma atração turística. Desta forma os cruzeiros passam a significar uma verdadeira experiência em desfrutar todo o conforto do navio cruzeiro e as paradas previstas no trajeto. De acordo com Urry (2001), na contemporaneidade surge um “paradigma cultural relativamente novo, o pós-moderno”, gerando um novo tipo de turista, o “pós-turista”. Enquanto “o modernismo tem se refletido na tentativa de tratar as pessoas que se situam em lugar socialmente diferenciado como semelhantes entre si”, no pós modernismo “uma das características fundamentais é a recusa das pessoas em aceitar serem tratadas como parte de uma massa indiferenciada” (URRY, 2001, p.

Assim, segundo Urry o turismo torna-se uma prática socialmente diferenciadora, só que não mais entre quem viaja e os que não viajam e sim de que forma eles viajam. Como sugere Renato Ortiz (2019) […. é o caso dos serviços, turismo, hospedagem em hotéis, passeios e compras nas boutiques, e particularmente as viagens de iates, nas quais a tripulação e os convidados são obrigados a partilhar durante dias um espaço bastante restrito. Desde seu início em meados de 1840, representados pela companhia “Peninsula & Oriental Steam Navigation Company – P&O” (AMARAL, 2006, p. esses transportes vêm apresentando crescimento, evolução e popularização em escala global. Em eras antigas o mar se configura como algo amedrontador, a partir do século XVIII as praias tornaram-se uma atração para as elites que passam a se preocupar com a saúde e atividades ao ar livre.

O mercado de cruzeiros marítimos é relativamente recente no Brasil, sendo permitido por lei somente em 1995, através da Emenda Constitucional nº7/95, apesar disso, esse mercado do turismo no Brasil surge nos anos de 1960 (AMARAL, 2019) com os navios transatlânticos de passagem7 dando início a disponibilidade e ofertas de produtos, serviços e destinos deixando de servir apenas como transporte de turistas. Atualmente o encanto pelas praias e a água salgada rompeu barreiras culturas, econômicas e de classe, comprovadamente pelo número crescente do turismo de massa em navios de cruzeiros no Brasil e no mundo, assim, esses hábitos se tornam, em alguma medida, universais. A disponibilidade e oferta desses produtos, serviços e destinos dependem das novas fronteiras simbólicas, culturais e sociais (re)produzidas pela denegação e fragmentação da experiência.

No que se refere a definição de alguns termos importantes aqui utilizados, destaca-se os seguintes: produto turístico “como tudo aquilo que assume um sentido dado ou explorado pelo turismo” (p. em particular, o mercado do turismo de massa, os produtos podem ser classificados em dois tipos: i) objetos do espaço, neste caso, os navios transatlânticos, orlas de praia etc. ou ii) unidades espaciais amplas, tais quais cidades, países e regiões -denominadas destinos turísticos (MIRALDI & NETTO, 2017, p. Os produtos, serviços e destinos disponíveis e ofertados pelo mercado do turismo de massa, ainda que não exclusivamente, se relacionam com as práticas desse mercado e, portanto, são todos comercializados como produtos pelos operadores deste segmento. O total de passageiros, a seu turno, cresceu de 1,4 milhões em 1980 para 9,1 milhões em 2004, taxa de expansão de 536,4%.

Desta forma as viagens de curtos períodos, cuja tendência é de preços mais econômicos, tornando a viagem acessíveis a um número maior de famílias. Tendência em duração de Viagens de Cruzeiro Mercado Norte-Americano Categorias Passageiros (mil) 1980 2003 Crescimento em % 2 a 5 dias 347 2. a 8 dias 9 a 17 dias 18 ou mais dias Total 846 5. Fonte: CLIA Year End Passenger Carryings Reports, apud CLIA, primavera de 2005. Ainda de acordo com a mesma fonte, esse resultado foi um recorde de um crescimento pelo nono ano consecutivo. Com relação ao turismo nacional, as “Sondagens do Consumidor, de Intenção de Viagem”, realizadas mensalmente pela FGV e pelo Ministério do Turismo até novembro de 2017, foi detectado ao longo dos anos do estudo que as preferências por viagens pelo Brasil superam amplamente as realizadas para o exterior, independente de faixas de renda, fator esse, positivo para o segmento de cruzeiros marítimos de cabotagem no Brasil (CLIA BRASIL & FGV, 2018/2019, p.

O relatório CLIA/FGV 2018-2019 também mostra que, embora o número de cruzeiros marítimos no Brasil tenha diminuído nos últimos anos (principalmente devido aos altos custos de atuação das companhias marítimas no país e da falta de infraestrutura adequada dos portos brasileiros), apenas três companhias marítimas internacionais aportaram no país durante a temporada de cruzeiros 2018-2019, totalizando juntas sete navios, proporcionando muitas oportunidades de empregos diretos e indiretos aos brasileiros. Os impactos na economia e na geração de empregos beneficiaram destinos turísticos e empresas de atividades características desse segmento do turismo de massa brasileiro que movimentou R$ 2,083 bilhões, na temporada 2018-2019. A empresa MSC Cruzeiros teve a maior participação neste período no Brasil em número de navios, com a presença de quatro embarcações (MSC Seaview, Poesia, Fantasia e Orchestra), seguida pelos navios da empresa Costa Cruzeiros (Costa Fascinosa e Favolosa) e a Pullmantur Cruzeiros com somente um navio: Sovereign (FGV/CLIA-Brasil, 2019, p.

viagem restrita para pessoas sofisticadas, esnobes e com alto poder aquisitivo e isso acaba afastando potenciais consumidores com reais condições de usufruírem desse tipo de turismo” (AMARAL, 2006, p. Camargo, (2001) ajuda a entender os navios são construídos com o propósito de oferecer lazer e diversão em um contexto turístico. Atualmente eles se caracterizam como “cidades flutuantes”, o ambiente é muito similar à um resort, com objetivo de proporcionar aos turistas conforto e relaxamento. CAMARGO, 2001). Ao analisar o tráfico turístico, por via marítima Beni (2000, p. pessoas e, em 2020, mais 25 novos navios já estão previstos, com capacidade adicional total de 43. pessoas (Cruise IndustrNews). Segundo a Associação Internacional de Cruzeiros (CLIA), em 2018, o número total de cruzeiristas no mundo foi de 28,5 milhões. Em 10 anos, a procura por cruzeiros aumentou pouco mais de 60%, passando de 17,8 milhões em 2009 para os 28,5 milhões atuais.

Gráfico 1 – Número de Passageiros no Mundo (em milhões) Segundo o documento da FGV/CLIA-Brasil, 2019, o número de turistas residentes no Brasil que realizaram viagens de cruzeiros no exterior durante o ano de 2018 foi de 206. …) O espaço social implica uma grande diversidade de conhecimento (LEFEBVRE, 1991, p. O autor coloca ainda que além do espaço não poder ser caracterizado como uma coisa, o espaço social é um conjunto de relações entre as coisas, produzido através de ações sociais. LEFEBVRE, 1991), Na concepção de Michel de Certeau (1998), o espaço só é concretizado se houver alguma interação com as pessoas que o habitam ou o atravessam. Para ele o espaço representa “um cruzamento de móveis, um resultado das operações que o orientam, circunstanciam, temporalizam levando-o a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais” (CERTEAU, 1998, p.

Ainda na tentativa de alargar o entendimento sobre a questão do convívio confinado no navio, enquanto Stuart Hall (2003), afirma que é através da operacionalização de um código que uma mensagem, ou acontecimento produz sentido e se transforma em uma prática social. e vai além dizendo que o espaço consiste em uma posição social e cultural, uma “porção do espaço significada”, para qual se atribui “signos e valores que refletem a cultura de uma pessoa ou um grupo” (DUARTE, 2002, p. Cabe ressalvar que todo grupo possui uma cultura, no entanto, na maioria das vezes percebe-se mais facilmente a cultura do outro, a qual não pertencemos, do que a própria cultura que se faz mais nítida quando se mantém contatos com outras.

Geertz, (1989, nos demonstra o quanto o conceito de cultura não é padronizado e propõe que seja ao menos “internamente coerente e, o que é mais importante, que tenha um argumento definido a propor” (Geertz, 1989, p. Ele garante ainda que esse conceito é semiótico, “o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu [sendo a cultura,] essas teias e suas análises” (Geertz, 1989, p. Com a modernidade, J. A bordo, os cruzeiristas podem consumir todos os produtos, serviços e experiências disponíveis e ofertados dentro do navio, pagando somente aquilo que “escolherem”, o parcelamento pode chegar até 6x sem juros, e mesmo a moeda de bordo oficial dos cruzeiros na América do Sul ser o dólar (Europa, o euro), o navio possui cotação em reais fixa por cruzeiro para o parcelamento de toda conta de bordo (elemento importante para programar e controlar as dívidas futuras).

Os cruzeiros, com raras exceções, sempre repetem a mesma rota, cada navio transatlântico percorre o mesmo destino durante toda a temporada, permanecendo por algumas horas a cada dia em um porto-cidade diferente, os cruzeiros tem duração entre 3 e 7 noites. No que se refere a relação dialética entre oferta demanda, estes são apresentados, no curto e longo prazo, como produtos, serviços e destinos produzidos para o consumo individual e menos associado a diferenciação, status e distinção de classe, para isso, a denegação do econômico se faz importante, uma vez que, a “escolha” do pacote de viagem é colocada pelos operadores do turismo de luxo como algo relacionado ao estilo de vida e gosto do cruzeirista do que no capital econômico pertencente a cada indivíduo.

Dito de outra maneira, a disponibilidade e oferta de produtos, serviços e destinos não está necessariamente relacionada ao desejo da demanda, a participação da demanda surge como respostas das práticas e hierarquias sociais e não como necessidade do desejo humano universal disposto a usufruir do que já está disponível e ofertado. A demanda desses produtos, serviços e destinos surge, então, como expressão de uma nova lógica de hierarquização de práticas de diferenciação, status e distinção de classe as quais a denegação do econômico está presente através da fragmentação da experiência e consumo que produz e reproduz novas fronteiras simbólicas, culturais e sociais aparentemente individualizadas. CLIA BRASIL & FGV, 2018/2019, p. Os tripulantes brasileiros são contratados por um período estipulado que varia entre dois e nove meses, dependendo da função desempenhada a bordo, com previsão de férias, não remuneradas, de um a dois meses.

Conforme matéria do Jornal O Globo (junho/2017): em 2014 o setor de serviços em navios transatlânticos ofereceu mais de 2. vagas para brasileiros em doze companhias marítimas internacionais que atracaram no Brasil. Em média, os salários podem superar os R$ 5. Geralmente, somente durante a temporada brasileira é que este profissional poderá ser contratado. Uma vez selecionados, os candidatos precisam apresentar os seguintes documentos e pré-requisitos para trabalharem a bordo, especificamente, no caso de cruzeiros marítimos durante a temporada brasileira: ter no mínimo dezoito anos de idade, certificado de antecedentes criminais, passaporte válido, exames médicos13, certificado CBSN (Curso Básico de Segurança no Navio), que se encontra vinculado ao STCW (Standards of Training, Certification and Watchkeeping) e BST (Basic Safety Training). É solicitado também o CFPN (Curso de Familiarização de Proteção de Navio), regulamentado pela Autoridade Marítima Brasileira (Marinha do Brasil) através da Norma-24.

marinha. mil. º QUEEN MAR CUNARD 151. toneladas 2. º ADVENTURE OF THE SEAS ROYAL CARIBBEAN 142. toneladas 3. EXPLORER OF THE SEAS ROYAL CARIBBEAN 142. toneladas 2. º COSTA CONCORDIA COSTA CRUZEIROS 112. toneladas 3. CARNIVAL CONQUEST CARNIVAL 110. toneladas 2. Fonte: Newmon Travel & Conventions, 28 ago. In: Neit-IE-Unicamp, p. Tabela 4 - As principais agências recrutadoras especializadas neste mercado de operadoras Fonte: elaborado pelo autor É importante ressaltar que algumas dessas agências especializadas recrutam também para trabalhos nacionais e internacionais nas mesmas atividades socioprofissionais existentes nos navios transatlânticos, porém em empresas em terra como resorts, hotéis, estações de golfe, ski e correlatos. Apesar de algumas companhias marítimas internacionais, como por exemplo, a Costa Cruzeiros e Royal Caribbean, disporem de sites de recrutamento próprios, o que ocorre com maior frequência aos potenciais tripulantes é se submeter a um processo seletivo específico no Brasil.

Algumas dessas agências de recrutamento ainda disponibilizam cursos de “como ser um tripulante” para candidatos que nunca tiveram nenhum tipo de experiência e contato com o trabalho e a vida abordo. Os potenciais tripulantes têm os seus conhecimentos na área pretendida avaliados, porém a falta de experiência não é um critério de eliminação imediata na seleção, já que também são levados em consideração, durante a entrevista, presencial ou online, traços de comportamento e personalidade. Outro fator muito verificado pelos recrutadores está relacionado à habilidade do candidato em se comunicar em língua inglesa. O nível de fluência apresentado pelo candidato pode eliminá-lo do processo seletivo ou determinar a companhia marítima, atividade socioprofissional e itinerário. Frequentemente, o pouco ou nenhum domínio da língua inglesa pode limitar o novo tripulante a ser contratado para trabalhar somente durante a temporada brasileira.

Introdução ao mundo dos navios de cruzeiro A Infinity Brazil: jobs for cruise ships é a maior agência especializada em recrutamento de brasileiros para navios de cruzeiros no Brasil, dispondo de parcerias com 14 empresas internacionais de navios de cruzeiros, entre elas: “Azamara Cruises”, “Ibero Cruzeiros”, “Costa Cruzeiros”, “Royal Caribbean”, “Club Med”, “Norwegian Cruise Line”, “Pullmantur”, “Starboard Cruise Services”, “OceanView”, “OPS, the Image group”, “Crystal” e “Celebrity Cruises”. Toda roupa de cama e banho será fornecida pelo navio e ela deverá ser trocada na laudry (lavanderia do navio), quando necessário. O banheiro é bem pequeno e normalmente funciona como suíte ou dividido entre duas cabines. Em alguns navios é localizado no corredor, sendo coletivo. As cabines de todos os tripulantes serão fiscalizadas. Esse é o procedimento chamado b. d. Lavanderia dos tripulantes É onde o tripulante lavará as roupas do dia-a-dia.

É recomendado que fique até o final da lavagem para não ter problemas de sumir ou perder peças, já que é de uso coletivo. e. Uniforme e Higiene Pessoal Cada departamento tem seu tipo de uniforme e existem vários tipos, como por exemplo: uniforme do dia, da noite, de gala, tropical night, datas comemorativas, entre outros. Crew Office É o escritório do navio para resolver qualquer tipo de problema da tripulação. Lá fica o crew purser e é neste escritório que você poderá levar qualquer tipo de contratempo da parte operacional, como problemas e troca de cabine, mau funcionamento de chave, perda do crew pass, problemas nos utensílios da cabine entre outros. O escritório também cuida de várias particularidades dentro de um navio, tais como entrega do contrato que o tripulante deverá assinar, entrega da documentação para o tripulante quando finalizar o contrato, entrega da passagem para o tripulante retornar para sua residência, auxílio na imigração, entre outros serviços de caráter administrativos.

Este também é o departamento responsável pelo pagamento do salário e seus adicionais respectivos como gorjetas, comissões etc. se houver). O consumo a bordo é pago com o crew pass e descontado do salário. Solarium geralmente fica na proa (parte da frente) do navio, abaixo da cabine de comando ou, em alguns navios, na popa (parte de trás) do mesmo. Trata-se de um local de descanso, privilegiado ao ar livre onde é permitido fumar, tomar sol, descansar e a exemplo do crew bar, até mesmo organizar as famosas festas da tripulação, que em geral acontecem uma vez ao mês e são muito animadas. Infelizmente nem todos os navios possuem piscina nesse espaço, que podem ser eventualmente substituídos por banheiras de hidro massagem ou duchas.

Em uma grande parte dos navios, esse espaço é somente um “solarium”. Seu custo é alto e é indicado somente para as emergências. O normal é quando o tripulante for se fixar em um itinerário, comprar o chip pré-pago do país onde o navio fizer mais paradas. j. Documentação a bordo No primeiro o tripulante terá que entregar o seu passaporte com o visto (caso necessário); certificados de STCW e SSA (CBSN e CFPN) também caso necessários para companhias que o exigem em terra; exames médicos com a ficha da companhia, além da carteira de febre amarela; carta de embarque e contrato; recibos de reembolso (caso a companhia forneça para algum procedimento); paperwork extra caso solicitado pela companhia. k. Seaman´s Book: Essa é uma carteira parecida com a carteira profissional.

O processo de obtenção do Seaman’s Book é feito pela companhia e poderá ser descontado do seu salário. Em alguns países há a obrigatoriedade de brasileiros possuírem o Seaman’s Book, pois serve como visto para entrada. O valor deste documento varia entre $50 e $100 dólares, mas não são todas as companhias que fazem. Será avisado se for necessário a obtenção dele, que só acontece a bordo. Isso soma pontos a favor. Outro fator que agrega positivamente é o fato de que s brasileiros têm também poucas restrições de vistos e o país é destino internacional de viajantes, o que facilita a interlocução do passageiro com o tripulante. Atualmente muitas famílias brasileiras fazem cruzeiros em rotas internacionais o que também dá um plus na contratação de brasileiros.

No entanto, a falta de qualificação profissional além do hábito de não seguir normas, regras rígidas e uma intensa jornada de trabalho, faz com que muitos desistam no meio dos contratos, gerando grandes prejuízos à companhia contratante e ao contratado também. Ao receber a notícia de que foram selecionados e aprovados para uma determinada função a bordo inicia-se, agora novo tripulante, a mais difícil tarefa para quem resolve e consegue ter uma oportunidade de se aventurar nesta carreira itinerante: aprender a se adaptar a uma vida que requer muita resistência, disposição, controle e preparo emocional, físico e psicológico. • Lojas de departamentos: inglês e espanhol fluentes, experiência prévia na área; média salarial USD 500 (dólares) + comissões.

• SPA (cabeleireiro, massagista, instrutor fitness): curso superior/técnico na atividade exercida, experiência prévia na área; média salarial entre USD 1. a USD 1. dólares). Recreação (adultos e infantil): curso superior/técnico preferencialmente em turismo, hotelaria, comunicação ou letras, experiência prévia na área; média salarial entre USD 800 a USD 1. Em números, para uma recepção de navio com oito membros, temos um departamento de restaurante com cento e oitenta, em de housekeeping para cento e sessenta pessoas. Assim, as companhias contratantes selecionam quem tem as maiores qualificações e mais fluência em mais idiomas. CREW – A mesma composição de um hotel, excluindo-se o setor de recepção, concierge, reservas e administrativo. As posições restantes são as de CREW.

A divisão de Crew no setor de hotelaria e prestação de serviços em navios de cruzeiros, por sua vez, está subdividida em duas partes: front of the house (tripulantes visíveis) e back of the house (tripulantes não visíveis), Rachel Sherman (2007)18 Dessa forma, diferentemente do Staff que trabalham diretamente com os hóspedes, apenas os tripulantes crew-front of the house prestam serviços e estão disponíveis diretamente aos hóspedes e, por isso, visíveis a estes. O pagamento é feito mensalmente ou quinzenalmente e não sofre incidência de qualquer desconto, como estamos acostumados em terra. Os tripulantes têm direito a todas as refeições diárias sem limite máximo, acomodação dupla na maioria dos navios ou quádrupla (com banheiro privativo) e assistência médica em caso de doença, urgência ou emergência a bordo.

A remuneração de um crew-front of the house está entre USD 800 e USD 1. dólares mais gorjetas, a depender da empresa internacional de navios de cruzeiros contratante. Já, a remuneração de um crew-back of the house gira em torno de USD 800 e USD 1. É possível receber todos ou algum deles, que são: • Gorjetas – Famosas a bordo, elas podem ser tip-in-hands ou pré-pagas. No modo tip-in-hands normalmente a companhia dá uma sugestão de um valor por noite de cruzeiro por passageiro. Na penúltima noite de cruzeiro, é dado um envelope onde o passageiro coloca o valor calculado dentro do mesmo e o entrega ao tripulante do respectivo departamento. São valores diferentes a depender da função. Esse é o modo mais atuante em cruzeiros que partem dos EUA por ser uma nacionalidade mais familiarizada com o procedimento.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT, 2016), a elaboração desse novo TAC foi resultado de um ano e meio de negociações conduzidas pelo procurador do Trabalho, Maurício Coentro Pais de Melo. Segundo o procurador, o principal resultado das discussões foi a aplicação da Convenção sobre o Trabalho Marítimo (CTM), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que fixa a jornada de trabalho em, no máximo, 14 horas diárias. Dentre os principais pontos do TAC, que aprimoram e ampliam os direitos trabalhistas dos tripulantes, pode-se destacar: o direito do trabalhador brasileiro de realizar a remessa de seu salário mensal por transferência bancária para sua família; a proibição de descontos salariais no fornecimento de uniformes e outros itens considerados instrumentos de trabalho; controle contínuo da jornada de trabalho pelo próprio trabalhador, e não antecipadamente formatada; a eliminação de taxas para seleção e recrutamento e a disponibilidade de médico ou enfermeiro brasileiro a bordo para o atendimento dos tripulantes brasileiros.

As vantagens da vida a bordo: • A pessoa não terá que abastecer seu carro ou usar transporte público para chegar ao trabalho ou nos seus locais de lazer; • A pessoa viverá em um resort, uma cidade flutuante, 100% segura; • A pessoa irá morar a alguns metros dos seus melhores amigos, do seu emprego e do lugar que você se diverte; • A pessoa fará todas as refeições com padrão de qualidade e higiene impecáveis e sem pagar nada; • A pessoa pode dormir em um país e acordar em outro e, mais uma vez, sem gastar nada. • Durante um bom tempo, a irá abrir e fechar a porta da sua cabine e não chegará nenhuma conta; • A pessoa terá uma grande economia com os gastos de alimentação, transporte lazer, viagens.

A representação socialmente válida, positiva e aceita, de um tripulante ou hóspede, para ambos, diante de seu público (tripulante-tripulante, tripulante-hóspede ou hóspede-hóspede), depende, num primeiro momento, da apreciação que um (ou mais) agente social estabelece em relação ao(s) outro(s), para, num segundo momento, se sedimentar uma visão geral do coletivo. Por exemplo, é muito comum a bordo os hóspedes atribuírem ao conjunto dos tripulantes, estendo até mesmo à empresa pertencente o navio, qualificações positivas ou negativas levando a consideração o atendimento ou não de um produto ou serviço almejado. Assim, na interação tripulante-hóspede, para o segundo, na maioria das vezes observadas, não importava muito a política da empresa, mas a efetivação, pelo tripulante, do seu pedido.

É neste momento, então, que surge, representações coletivas, iniciadas repetidas vezes, ainda que não na sua maioria, nas interações individuais (ou em grupos) face a face, generalizando-as e estabelecendo estigmas: “os hóspedes brasileiros não sabem se comportar a bordo”, “os tripulantes têm má vontade”, para citar dois exemplos muito comuns de escutar a bordo entre ambas as partes envolvidas. Entretanto, como veremos, essa situação pode oscilar quando da ocorrência de “incidentes” surgidos durante a interação. Somente os (as) tripulantes “visíveis” no setor de serviços, aqueles (as) que precisam desempenhar atividades como falar outro idioma, sugerir roteiros, dar informações, aconselhar e interagir com os hóspedes, etc. podem construir oportunidades de encontrar e conhecer pessoas para adquirir e mobilizar trunfos em suas vidas (cf.

BOURDIEU, 1992). Sobre esta questão de se adquirir bens, econômicos, social e cultura que vão interferir, modificar e ressignificar valores, Bourdieu, (1987) nos ajuda a entender expondo: O mundo social pode ser concebido como um espaço que pode ser construído empiricamente pela descoberta dos principais fatores de diferenciação que contam para as diferenças observadas em um universo social dado, ou, em outras palavras, pela descoberta dos poderes ou formas de capital que são ou podem se tornar eficientes em um universo particular, isso é, na luta (ou competição) pela apropriação de bens escassos dos quais esse universo é o local. Disso segue que a estrutura desse espaço é dada pela distribuição de várias formas de capital, isso é, pela distribuição de propriedades que são ativas nesse universo sob estudo – essas propriedades são capazes de conferir força, poder e, consequentemente, lucro para que as tem” (BOURDIEU, 1987, p.

Conforme afirma Goffman (1959), uma representação bem-sucedida, depende de que o agente social envolvido, disponha de uma aparelhagem simbólica de fachada, o que lhe permite estabelecer uma definição da situação apresentada. GOFFMAN, 1959). Objetivos e Hipótese 1. MSC Cruzeiros e a produção de novas fronteiras O turismo de massa, definido como um segmento do mercado do turismo e que tem por características diferenciadas e diferenciadoras a elevada concentração de pessoas, a passividade e sazonalidade, está disponível majoritariamente para um público de consumidores, turistas potenciais, de classe média e classe popular. Portanto, tem-se uma problemática centrada em questões sociais a qual o turismo de massa ocupa uma posição relevante nas estratégias de marketing, nas questões econômicas, simbólicas e culturais tanto das empresas relacionadas a esse mercado específico quanto aos consumidores/turistas (potenciais).

Revisão de literatura Para melhor fundamentar teoricamente esta pesquisa, definiu-se buscar autores e teorias que abordem as questões de como as relações intersubjetivas – indivíduo e sociedade –, e a capacidade da pessoa se reconhecer independente das qualificações que lhes são atribuídas nas interações com o outro. As condições sociais e culturais do Brasil enraízam elementos negativos na construção de suas identidades muitas vezes gerando uma percepção de si, como inferior na escala social. Essa consciência de si mesmo torna-se possível em uma estrutura dialógica, que conta com teóricos como Herbert Mead (1863-1931) e Axel Honneth. entre outros. A dedicação de Mead (1993) era entender de que forma surge a consciência do significado das ações sociais.

De acordo com Mead o (Eu) e o (Mim), vivem em conflito constante em uma relação entre uma parte do self mais anárquica, impulsiva e outra mais conservadora, que carrega em si os atos dos outros generalizados (Mead, 1993). Cabe ressaltar que a luta pelo reconhecimento identitário, recebe posicionamentos divergentes, enquanto o sujeito na luta por sua originalidade enfrenta os dispositivos sociais que o subjugam aos padrões normativos, conforme posiciona Mead (1993), na concepção de Fraser (2002), a busca de reconhecimento é questionada dentro dos campos das identidades. A autora justifica que a luta pelas identidades surge na era pós-socialista e substituem as lutas e conflitos de classe, como consequência do crescimento da interação e da comunicação transculturais, em função da hibridização de todas as formas culturais.

O sujeito, que vive a experiência do reconhecimento de seus valores e contribuições sociais produz um sentimento de orgulho em que, “o indivíduo se sabe aí como membro de um grupo social que está em condições de realizações comuns, cujo valor para a sociedade é reconhecido pelos demais membros” (HONNETH, 2003, p. Quando ocorre uma situação que leve o indivíduo, - podendo ser representado aqui pelo tripulante do navio transatlântico – a viver uma experiência que o exponha a uma reação emocional negativa, de desrespeito, vergonha, desprezo os quais compõem os sintomas psíquicos, Honneth ajuda a entender que o sujeito é capaz de perceber que o reconhecimento social lhe está sendo negado injustamente: “A tensão afetiva em que o sofrimento de humilhações força o indivíduo a entrar só pode ser dissolvida por ele na medida em que reencontra a possibilidade da ação ativa” (HONNETH, 2003, p.

O consumo, de acordo com Enne (2006) é uma importante estratégia, não apenas de equiparação social, mas sim “de construção de referências públicas acerca do lugar social que se deseja ocupar, do estilo de vida que se busca partilhar e, fundamentalmente, da construção de si que se quer projetar” (ENNE, 2006, p. O consumo no contexto desta pesquisa caracteriza-se como uma forma de ir além de suprir as necessidades básicas e marcar uma posição social, torna-se uma maneira de se constituir como sujeito. Campbell, (2006), esclarece a questão, quando afirma: “o consumismo moderno está, por sua própria natureza, mais preocupado em saciar vontades do que em satisfazer necessidades” (CAMPBELL, 2006, p. É importante observar-se também que ao conviver em um ambiente diferente do que o tripulante vivia até então, ele não passa a consumir apenas produtos e serviços, mas também ideias, hábitos, estilos de vida, visões de mundo, culturas.

Ao fazer parte de um determinado grupo passa a agir, pensar, vestir e desejar de acordo com o grupo. PARTE II – Enquadramento Metodológico Adotando o conceito de Fortin, (1999) “A fase metodológica operacionaliza o estudo, precisando o tipo de estudo, as definições operacionais das variáveis, o meio onde se desenrola o estudo e a população” (FORTIN, 1999, p. Com esta perspectiva, durante este capítulo será realizada a descrição de todo o processo metodológico, fundamentando as opções tomadas, com o objetivo de reger todo o processo de investigação. A fim de atender o objetivo proposto, é necessário analisar o cenário do convívio de um tripulante confinado durantes meses, em um espaço que não distingue a atividade profissional da vida pessoal, inserido em um ambiente com comportamentos e hábitos diferentes da sua origem e tendo contato novas culturas.

Finalidade do estudo A partir do contexto exposto, esta pesquisa voltará seu olhar investigativo para entender as seguintes questões: Como se estabelecem as interações tripulantes/hóspedes através das regras pré-estabelecidas por esse campo e quais são os papéis sociais representados e esperados por esses tripulantes? Os marcadores sociais classe, raça e gênero dos tripulantes brasileiros podem influenciar na disposição destes nos diferentes níveis da hierarquia de privilégios e status referentes a mandos, a salário e à visibilidade nas diversas funções exercidas abordo? Como esse espaço social específico composto por estruturas sociais objetivas e subjetivas constrange as atuações desses tripulantes, sendo incorporadas, reproduzidas e (res) significadas pelos próprios tripulantes? Estas investigações permitirão analisar e compreender de que forma se estabelecem as interações e trocas sociais assimétricas entre tripulantes-hóspedes no que se refere ao consentimento e (re)produção de desigualdades na produção e consumo dos serviços prestados a bordo.

Com o propósito de se trazer os dados da forma mais fidedigna possível para a interpretação e compreensão dos conteúdos e significados apresentados pelos sujeitos em suas narrativas, será utilizados os métodos de análise de conteúdo conforme Cappelle, Melo & Gonçalves, (2003): significados “de natureza psicológica, sociológica, política, histórica, dentre outros” (CAPPELLE, MELO & GONÇALVES, 2003, p. As respostas foram reunidas, os dados foram interpretados e chegou-se a uma tabulação que apresente apenas as essências das respostas, de acordo com o esquema proposto por Panosso Netto (2005, p. Reunião de Dados Interpretação de Dados (Discurso na linguagem do sujeito) (Redução – Unidades de significados) Nova Compreensão Asserções articuladas do discurso Na “reunião de dados” têm-se as respostas das questões abertas de forma integral.

Na “interpretação de dados”, destaca-se as ideias fundamentais de cada resposta. Em “nova interpretação” procura-se atingir o significado fundamental do que cada entrevistado. PANOSSO NETTO, 2005, p. Cor raça; 2. Sexo; 3. Orientação sexual; 4. Idade; 5. Escolaridade; 6 e 7. Número de dependentes; 19. Tipo de estudo Estudo sociológico acerca das interações sociais de tripulantes brasileiros em navio transatlântico. O espaço físico e social dos navios de cruzeiros, considerados como instituições totais, é composto por estruturas sociais objetivas e subjetivas que constrangem as atuações desses tripulantes e hóspedes, sendo incorporadas, reproduzidas e ressignificadas pelos próprios agentes sociais envolvidos. Assim, as interações e trocas sociais são estabelecidas de formas cultural, econômica e socialmente assimétricas entre os agentes, principalmente, no que se refere ao consentimento e reprodução de desigualdades na produção e reprodução do consumo de produtos e serviços a bordo.

De acordo com Weber, (2004), retradução simbólica de uma posição social privilegiada, estilização da vida, reivindicação de superioridade em relação aos submetidos as urgências ordinárias (WEBER, 2004, p. Contudo Oliveira apud Freud (2002) apontam que existe uma reação em relação a tal padronização civilizatória (OLIVEIRA apud FREUD, 2002, pp. As identidades na concepção de Souza (2009), são múltiplas e complexas, construídas continuamente através de nosso contato com a alteridade, o que demarca, categoriza e hierarquiza grupos e sujeitos (T. SOUZA, 2009). Embora aparente ser continua a identidade se modifica e reformula constantemente é o que nos afirma (DESCHAMPS & MOLINER, 2009). Caracterização sociodemográfica Entre os tripulantes pesquisados encontra-se uma leve maioria de homens, brancos, com orientação sexual predominantemente heterossexuais seguido de homossexuais, a faixa etária se concentra entre 26 a 40 anos, a escolaridade se estende em maior parte até a pós-graduação.

Com isso, frente a essa na nova realidade social e consequentemente diante uma nova identidade, os tripulantes se reconstroem cotidianamente no jogo das relações sociais. A condição social, “ser tripulante”, gradativamente assume uma nova referência, quase uma personagem incorporando traços e práticas que lhes permitem a sua identificação como um indivíduo distinto da sua origem social. É um personagem social que vai se encarnando e atuando no cenário social de acordo com o papel estabelecido pela sociedade. Cabe ressalvar, que por vezes, esses papéis atribuídos socialmente aos indivíduos acabam por confundi-los ao compor uma interrelação específica e na maioria das vezes adaptam-se como coadjuvantes. Essa identidade vai se transformando em uma realidade cultural onde todos compartilham o mesmo ambiente.

De forma geral, pode-se dizer que o perfil do tripulante brasileiro entrevistado, embora também pautado pela questão financeira, porém o interesse cultural mostra-se como central para a motivação. A partir desse ponto vista, a análise foi orientada no sentido de verificar as interações sociais tripulantes-hóspedes através das regras preestabelecidas e preexistentes a chegada destes agentes à instituição, considerando também os papéis sociais representados por e esperados desses tripulantes e hóspedes. A nível da hierarquia de privilégios e status referentes subordinação-superioridade, salário e visibilidade tripulantes-hóspedes nas diversas atividades profissionais exercidas a bordo. Estilo de vida Conceituando de acordo com alguns autores estilo de vida é “[. um construto sumário definido como padrões nos quais as pessoas vivem e gastam tempo e dinheiro, refletindo as atividades, os interesses e as opiniões das pessoas (.

Nessa análise entende-se o indivíduo assumindo e consumindo produtos, serviços, ideologias de um estilo de vida que faz parte do seu aspiracional social. Para entender o aspiracional social, que leva o indivíduo a consumir produtos, serviços e ambientes que atendam aos seus desejos, pode-se recorrer a Zeithaml, Bitner e Gremler (2011), que se valem do modelo de Maslow e classificam as necessidades em: (i) fisiológicas – alimento, água e sono; (ii) segurança e proteção – abrigo, segurança; (iii) sociais – afeto, amizade e aceitação; (iv) relativas ao ego – prestígio, sucesso, realização e autoestima; (v) autorrealização – experiências de sucesso e enriquecimento pessoal, como bungee jump, por exemplo (ZEITHAML, BITNER, GREMLER, 2011, p. e 92 grifos nossos). Se partimos do princípio que o ser humano é um ser social, entende-se que traz consigo inúmeras consequências das mais diversas ordens: sociológica, antropológica e mesmo psicológica.

Para o foco do estudo aqui em questão, o entendimento é que de acordo com a natureza social do ser humano, ele avalia seu lugar na sociedade com base nos grupos aos quais pertence, gostaria de pertencer, ou ainda, dos quais quer se distanciar. Dessa forma, “é através de sua pertença a diferentes grupos que o indivíduo adquire uma identidade social que define o lugar particular que ele ocupa na sociedade” (DESCHAMPS & MOLINER, 2009, p. Essa diferenciação e discriminação entre os grupos, é que se dá nome de identidade social, no entanto, caso essa diferenciação seja entre os indivíduos, será definido como identidade pessoal. DESCHAMPS & MOLINER, 2009). Blackwell, Miniard e Engel (2005) definem grupos de referência como: “qualquer pessoa ou grupo que influencia o comportamento de um indivíduo de forma significativa”.

BLACKWELL, MINIARD, ENGEL, 2005, p. Conceito que nos remete a Bourdieu (1994), em que a noção de “denegação, é ressignificada”, de forma a demonstrar o desinteresse sob o ponto vista econômico e se utilizar para esclarecer sob os espaços de produção simbólica. Bourdieu articula mostrando a “estrutura de denegação singular do mercado de luxo que expõe o luxo desvinculado de condicionantes sociais que permitem seu acesso” (BOURDIEU, 1994, p. Aqui adotamos a denegação do social, estabelecendo uma distinção da prática de viver a experiência do luxo independente da classe social. A diferença se instala no estilo de vida e escolhas que não estão relacionadas à posição de classe social. Sem pretensões em aprofundar a discussão sobre o conceito de classe, cabe esclarecer que a noção de classe aqui se pauta nas práticas estabelecidas por pessoas, no caso, os tripulantes em posições objetivas no espaço social.

O primeiro está relacionado ao luxo individualizado ao extremo. Seu consumo não proporciona mais o progresso da humanidade, de acordo com Ortiz (2015) remete a uma outra visão, um outro patamar e, é aí que a experiência se torna central nesse “novo luxo”, a autora Danzinger (2005), afirma que: “toca em uma nova psicologia do consumidor que transcende o produto ou a coisa que está sendo comprada ou consumida para alcançar um novo nível de experiência aprimorada, sentido mais profundo, prazer mais rico, sentimentos mais intensos” (DANZIGER, 2005, p. xii). Já o segundo elemento se refere a democratização do luxo, o qual até bem pouco tempo se restringia a altas classe sociais (BOURDIEU, 2002). Desta forma os dois elementos discursivos dos agenciadores do luxo – experiência e democratização é que garante uma concepção de luxo como independente de diferenças sociais.

Observou-se também a evidencia das diferenças a partir do trânsito em novos locais. Nesse novo e estranho cenário os elementos se apresentam de forma interdependentes o que serve de motivação para realizar as análises da melhor forma possível esses elementos. Identificamos também por intermédio de estudos de DESCHAMPS, J. C. MOLINER, P. Tendo isso em vista, a análise foi orientada no sentido de verificar as interações sociais tripulantes-hóspedes através das regras preestabelecidas e preexistentes a chegada destes agentes à instituição, considerando também os papéis sociais representados por e esperados desses tripulantes e hóspedes. Através de aplicação de questionário foi possível identificar, por amostragem, o perfil social relacionado a classe, raça e gênero desses tripulantes brasileiros, tornando possível verificar, no decorrer da pesquisa, uma relação entre o perfil social dos tripulantes na disposição destes nos diferentes níveis da hierarquia de privilégios e status referentes subordinação-superioridade, salário e visibilidade tripulantes-hóspedes nas diversas atividades profissionais exercidas a bordo.

No decorrer da pesquisa verificamos os principais conflitos surgidos a partir das experiências socio-profissionais a bordo, traduzidos nas interações tripulantes-tripulantes, subordinados e supervisores, assim como também, a maneira como esses tripulantes percebem o tempo neste espaço físico e social de confinamento e restrições, levando também em consideração há provável relação entre classe, raça e gênero na disposição dos tripulantes nas diferentes atividades socio-profissionais exercidas a bordo, hierarquização e status em relação a superioridade-subordinação26, salário e visibilidade27. Na coleta de narrativas históricas, visando analisar a interpretação dos fatos pelos próprios tripulantes ao seu contexto espaço-temporal e, por fim, no trabalho de campo buscando vivenciar o dia a dia desses tripulantes. Em resumo, a investigação do objeto de pesquisa e a coleta de dados foram realizados quantitativa e qualitativamente, por amostra, recorrendo a estatística, observação participante e entrevistas gravadas.

Considerando-se que os tripulantes transitam e convivem com diferentes contextos de poder, percebe-se que de acordo com Hall (2006, 2009), eles buscam re/construir suas identidades de forma a obter legitimidade nos espaços que ocupam. Ao desfrutarem da experiencia de um ambiente totalmente distinto de sua origem evidencia-se o contraste imenso de sua identidade real. Outro fator importante para a (re)construção identitária é a memória. Segundo Hawbachs (2014), a memória é um fenômeno social e fundamentalmente coletivo. Portanto, pode-se entendê-la como elemento constitutivo da formação da identidade, tanto individual como coletiva. Outra coisa que se observou foi a evidente diferenciação no trânsito diário em novos locais, novos ambientes como o navio e os lugares em que aporta. Em meio a esse conflito de emoções os elementos se mostravam interdependentes.

Fato esse que interfere de forma muito direta nas identidades dos sujeitos, foi possível identificar de que forma elas se constituem a partir da troca de influências entre os sujeitos e a sociedade, diferenciando, categorizando, normatizando, hierarquizando e estigmatizando grupos e sujeitos. As entrevistas com suas riquezas de detalhes, expondo seus anseios, frustrações, desejos, conquistas e decepções foram mostrando que a construção da identidade está relacionada a questões de reconhecimento, em qualquer âmbito, ou de preferência, em todos: social, político, econômico, emocional entre outros. Todos presentes nas ideologias e mitos presentes no cotidiano do indivíduo brasileiro, que carrega fortes marcas de experiências e vivências familiares, escolares e sociais. ARON, C. S. Working at Play: A History of Vacations in the United States.

New York Oxford: Oxford University Press, 1999. In: NICOLAU NETO, M; MIRALDI, J. P. Desenvolvimento de uma escala para mensuração das confianças cognitiva, afetiva e comportamental e seus impactos na lealdade. Revista Crítica de Ciências Sociais, 63, 2002. In: TAVARES, N. de O. BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. ed. São Paulo: SENAC, 2000. Paris: Seuil, 1994. O PoderSimbólico. RiodeJaneiro:BertrandBrasil,1992. Coisas ditas. SãoPaulo:Brasiliense,1987. Disponível em: Acesso em 15 de junho de 2017. BRASIL. Ministério do Turismo. Estudos da competitividade do turismo brasileiro- Turismo, transporte aquaviário e a indústria de cruzeiros. O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliação da Competitividade e Propostas de Políticas Públicas para o Setor – Neit-IE-Unicamp. n. p. maio 2002. CAMARGO, L. O. Campbell (Orgs. Cultura, consumo e identidade (pp.

Rio de Janeiro, RJ: FGV, 2006. CAPPELLE, M. C. de. A invenção do cotidiano. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. a. ed. COSTA, M. C. C. Sociologia: introdução à Ciência da Sociedade. São Paulo: Editora Moderna LTDA, 1987. A identidade em psicologia social: dos processos identitários às representações sociais (L. M. E. Orth, trad. Coleção Psicologia Social). À perplexidade, a complexidade: a relação entre consumo e identidade nas sociedades contemporâneas. Comunicação, Mídia e Consumo, 3(7), 11-29, 2006. FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em <https://www1. folha. Rio de Janeiro, RJ: Graal, 1979. FRASER, N. A justiça social na globalização: redistribuição, reconhecimento e participação, Revista Crítica de Ciências Sociais, 63, 2002. In: TAVARES, N. de O. A Representação do Euna Vida Cotidiana.

ed. Petrópolis:Vozes,2011 ____________. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. ed. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2004. HALL, S. Quem precisa de identidade? In: Identidade e diferença: A perspectiva dos estudos culturais. SILVA, T. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. HIERNAUX-NICOLAS, D. Cancún Bliss. In: JUDD, D. R. nº 1, 2004. LEFEBVRE, Henri. Social Space. In: ______. The Production of Space. P. Desenvolvimento de uma escala para mensuração das confianças cognitiva, afetiva e comportamental e seus impactos na lealdade. Revista Brasileira de Marketing - REMark, São Paulo, v. n. p. In: TERRES, M. da S; SANTOS, C. P. Desenvolvimento de uma escala para mensuração das confianças cognitiva, afetiva e comportamental e seus impactos na lealdade. Revista Brasileira de Marketing - REMark, São Paulo, v.

Temas em psicologia, 14(2) 177-187, 2006. MEAD, G. Espíritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. México: Paidós, 1993. MOTTA, F. OLIVEIRA, P. S. de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2002. Filosofia do turismo – teoria e epistemologia. São Paulo, Aleph, 2005. PASSERON, J. C. Le raisonnement sociologique: l’espace nonpoppérien du raisonnement naturel. Novo Hamburgo: Feevale, 2009. PRYEN, S: Stigmate et Métier. Une Approche Sociologique de la Prostitution de Rue, Rennes, Presses Universitaires de Rennes, 1999. REJOWSKI, M. Turismo no Percurso do Tempo. In: TERRES, M. da S; SANTOS, C. P. Desenvolvimento de uma escala para mensuração das confianças cognitiva, afetiva e comportamental e seus impactos na lealdade. Revista Brasileira de Marketing - REMark, São Paulo, v. Disponível em: http://www. bndes. gov.

br. Acesso em 26. SILVA, C. R. GOBBI, B. C. SIMÃO, A. “Excurso sobre o problema: como é possível a sociedade?”. Sociologia & Antropologia, 2013. SOLOMON, M. R. O Comportamento do Consumidor – Comprando, possuindo e sendo. VEYNE, P. O Império Romano. In: DUBY, G. ARIÈS, P. Orgs. Luxo. pdf>Acesso em: 28. YACCOUB, H. A chamada "nova classe média". Cultura material, inclusão e distinção social.

483 R$ para obter acesso e baixar trabalho pronto

Apenas no StudyBank

Modelo original

Para download