Democracia em Vertigem

min). Apresentação da autora da obra O documentário em estudo trata de questões sensíveis à democracia brasileira ao mesmo tempo em que apresenta uma narrativa autobiográfica da autora, a cineasta Petra Costa, que, com “trinta e poucos anos”, se aproxima em idade do atual período democrático. Nomeada em homenagem a Pedro Pomar, Petra nasceu no vigésimo ano da Ditadura Militar e desde cedo foi estimulada por seus genitores a adotar uma posição política guiada pelas ideias da esquerda, prezando pela maior participação popular no governo. Em contraponto, seus familiares de origem materna, ligados à construtora Andrade Gutierrez, são adeptos à ideologia de direita. Nas últimas eleições presidenciais, apoiaram Jair Bolsonaro, cujo discurso defendia que seus pais, enquanto atuavam como militantes na ditadura, deveriam ter sido mortos pelo regime.

Como solução, Lula recorre a uma nova aliança, dessa vez com o partido mais poderoso do Congresso, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), liderado por Michel Temer. Com Lula na presidência, os índices de desigualdade do Brasil diminuem e o país passa a ser a sétima potência econômica mundial mesmo durante a crise de 2008. Ainda no seu governo, se dá a descoberta do pré-sal como uma nova fonte de extração de petróleo, fortalecendo a estatal Petrobras e oferecendo perspectivas promissoras para o futuro do país. Ao final do segundo mandato, mantendo uma das maiores taxas de aprovação do mundo, Lula apresenta como sua sucessora a economista Dilma Roussef. A fim de promover sua eleição, a aliança com o PMDB é fortalecida, e Dilma concorre com a condição de que o líder daquele partido atuasse como seu vice-presidente.

Pouco depois, a aprovação do governo cai para 9%. Grupos de direita utilizam as redes sociais para fomentar a revolta popular contra os líderes do PT. Ao mesmo tempo, a queda do preço das commodities e uma série de erros econômicos fazem com que a presidente quebre as promessas de campanha, e o país entra em recessão. Enquanto isso, Lula é investigado pela Lava Jato. Sua acusação se baseava na teoria de que ele havia recebido um apartamento triplex como propina de uma construtora já implicada na operação, a despeito da falta de evidências que o ligassem diretamente à propriedade do referido imóvel. Lula, ao declarar que irá se candidatar novamente, é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF), através do procurador federal Deltan Dallagnol, como “comandante máximo” de todo o esquema de corrupção identificado.

Contudo, a única acusação de fato, após dois anos de investigação, seria o recebimento do triplex de uma empreiteira, apesar da falta de provas bastantes para sustentá-lo. Lula declara que não tinha conhecimento dos crimes praticados pela Petrobrás, os quais consistiam no pagamento de propina aos dirigentes das empreiteiras por meio de percentuais estabelecidos nos contratos de prestação de serviço. Dois meses depois de acusado, é condenado por Moro a nove anos e meio de prisão. Após passar pela segunda instância, em fase recursal, sua pena é aumentada para doze anos. Mais tarde, em meio às discussões referentes ao processo de Impeachment, em depoimento à cineasta Petra Costa, a então presidente admitiria que o seu erro foi não perceber que a hegemonia da direita no Congresso era crescente, e fora marcada pela posse de Eduardo Cunha à frente da Câmara.

Com a esquerda contando com menor número de parlamentares, sua governabilidade, por consequência, ficou comprometida. Noutro ponto, enquanto Lula era processado pela Lava Jato, lhe foi negado, enquanto réu, o direito fundamental a um juiz imparcial. Sua prisão se deu, em sentido contrário ao que prega o ordenamento jurídico brasileiro, para promover personalidades e alimentar o sentimento social anti-PT. No que concerne ao Impeachment de Dilma, importante ressaltar que não houve qualquer acusação de corrupção, não ficando caracterizado crime de responsabilidade que autorizasse a invocação do instituto.