ESTRUTURANDO O FEMINISMO POR UM VIÉS SOCIOLÓGICO E RELIGIOSO

Tipo de documento:Tese de Doutorado

Área de estudo:Sociologia

Documento 1

A História da Mulher na Sociedade do Período Conhecido como Pré-História 08 1. A História da Mulher nas Sociedades da Idade Antiga 13 1. A História da Mulher na Sociedade Medieval 19 1. A História da Mulher na Idade Moderna 26 1. A História da Mulher na Contemporaneidade 31 2. No entanto, o movimento estruturado e intencionalmente desenvolvido, é considerado mais recente, sendo definido por suas três ondas iniciadas na modernidade, conforme supracitado. Para a melhor compreensão da formação do feminismo, entende-se como pertinente, o desempenho de uma busca sucinta sobre a mulher ao longo da história. Nesse contexto, é possível verificar, consoante expôs a historiadora e feminista Michelle Perrot (2005), que as mulheres foram habitualmente esquecidas ou relegadas ao segundo plano, seja por pesquisadores ou artistas, os quais as referiam tão somente pelos papeis secundários que desempenharam nesse período.

Posteriormente a análise da mulher na história, busca-se contextualizar o início do feminismo, explanando sua gênese, representações e as implicações que abrolharam no meio social. Para isso, inicia-se esse estudo elucidando determinados conceitos que abarcam a temática. Dessa maneira, o pós-estruturalismo apresenta concepções alternativas acerca do gênero, possibilitando essa ruptura com o remoto e indagando novos significados nas relações de poder. Sintetizando, “[. o pós-estruturalismo e o feminismo contemporâneo são movimentos de fins do século XX que compartilham uma certa relação crítica auto-consciente diante das tradições política e filosófica estabelecidas” (SCOTT, 2000, p. Scott complementa situando o imperativo em explorar tal relação. A história da mulher se estabelece como um “[. Vista em conjunto desses dois ângulos, ela oferece um modo de compreensão e uma contribuição ao processo através do qual gênero é produzido”.

Destarte, fundamentados na história, assim como em outras ciências, isto é, a sociologia, a antropologia e a filosofia, alcançaremos tal compreensão acerca da construção das relações entre os homens e as mulheres, bem como o papel que estas desempenhavam no decorrer do processo histórico, social e religioso. Destarte, inicialmente salienta-se que em preponderância, as mulheres deparam-se com delimitações, as quais são impostas pelos homens que constroem uma subjetividade feminina fundamentada em seus princípios masculinos. A respeito da subjetividade, esta incide na personalidade do ser humano, estruturando seu modo de agir e pensar. Para o filósofo Michel Foucault (2004, p. Em síntese, são os agentes externos que subjetivam a mulher. A título de exemplo, a “fragilidade” e a “histerização” da mulher é resultado desta subjetivação patriarcalista, a qual sobrepõe a mulher, de acordo com Foucault a uma [.

comunicação orgânica com o corpo social (cuja fecundidade regulada deve assegurar), com o espaço familiar (do qual deve ser elemento substancial e funcional) e com a vida das crianças (que produz e deve garantir, através de uma responsabilidade biológico-moral que dura todo o período da educação): a Mãe, com sua imagem em negativo que é a "mulher nervosa" (FOUCAULT, 1988, p. Assim sendo, as concepções do patriarcalismo criam uma nova identidade às mulheres, as quais se tornam submissas a esse sistema aderindo à subjetividade imposta. O corpo feminino, consoante Foucault (1988, p. Desse modo, nas investigações se encontrava apenas o silêncio das mulheres. Com essa escassez de informações, a presença das mulheres na história evidentemente não se solidificava. Nessa conjuntura, Perrot assevera: Evidentemente, a irrupção de uma presença e de uma fala feminina em locais que lhes eram até então proibidos, ou pouco familiares, é uma inovação do século 19 que muda o horizonte sonoro.

Subsistem, no entanto, muitas zonas mudas e, no que se refere ao passado, um oceano de silêncio, ligado à partilha desigual dos traços, da memória e, ainda mais, da História, este relato que, por muito tempo, “esqueceu” as mulheres, como se, por serem destinadas à obscuridade da reprodução, inenarrável, elas estivessem fora do tempo, ou ao menos fora do acontecimento. No início era o Verbo, mas o Verbo era Deus, e Homem. As mulheres que extrapolam o “seu lugar” e assumem posições normalmente reservada aos homens são “exceções”. As exceções podem até ser louvadas pelos homens – enquanto permanecem exceções. Mas quando há perigo de que a exceção se torne a norma, os homens se rebelam. Consequentemente, o patriarcado funciona melhor quando o sexo oprimido, o sexo feminino, suporta o status quo e opta pela segurança que sua função oferece (LAFFEY, 1994, p.

Consoante ao exposto evidencia-se que no decurso do tempo, o patriarcalismo e a religião impuseram à mulher uma condição de submissa, por meio da qual, a mesma se tornou dependente do homem, limitada e marginalizada. Esse programa social de percepção incorporada aplica-se a todas as coisas do mundo e, antes de tudo, ao próprio corpo, em sua realidade biológica: é ele que constrói a diferença entre os sexos biológicos, confortando-a aos princípios de uma visão mítica do mundo, enraizada na relação arbitrária de dominação dos homens sobre as mulheres, ela mesma inscrita, com a divisão do trabalho, na realidade da ordem social. A diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo masculino e o corpo feminino, e especificamente, a diferença anatômica entre os órgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença socialmente construída entre os gêneros (BOURDIEU, 2012, p.

As diferenças sexuais e anatômicas, segundo Bourdieu, são fatores cruciais que contribuem para a construção de estereótipos na sociedade e, consequentemente, nutrem a desigualdade de gênero, a dominação masculina e o silenciamento das mulheres que se sucedeu ao longo da história. Posto isso, salienta-se que nas últimas décadas do século XX, as mudanças na historiografia mediante as suas teorias e metodologias, resultaram em grandes avanços para os estudos sobre as temáticas relacionadas a grupos sociais que se encontravam fora do interesse das pesquisas nas ciências humanas. Diante do exposto, pesquisadores começam a se dedicar a temas como: grupos étnicos raciais, camponeses, pessoas comuns e, em especial, as mulheres. “a ciência pré-histórica é efetivamente masculina, branca e ocidental como aliás têm sido, ao longo dos tempos, os seus autores”.

No entanto, a percepção cultural dos períodos da pré-história, como o Paleolítico3 por um longo período, arquitetava uma sociedade constituída por homens caçadores, produtores de instrumentos, tendo assim, uma evolução retratada por cientistas e artistas. Diniz explana que os homens desse período [. produzem cultura, inventam novos artefatos, correm perigos caçando animais selvagens, são artistas que pintam interiores de grutas, abrem campos agrícolas, levam os animais ao campo, inventam a guerra, a metalurgia, constroem casas para vivos e templos para mortos, assumem o poder religioso, político, econômico, social, em suma… conduzem a História (DINIZ, 2006, p. A arqueóloga Ana Vale (2015, p. A figura 1 ilustra os restos de Lucy e sua reconstituição gráfica. Figura 1 - Lucy Fonte: Mariana Diniz (2006) Ainda consoante Diniz (2006, p.

“percebe-se assim que, desde as mais remotas origens e com muito pequenas alterações nos próximos milhões de anos, a função das fêmeas, e depois das mulheres, está já definida pelos cientistas, progenitoras e recoletoras”. Vale (2015, p. complementa expondo que “a mulher, remetida aqui ao espaço doméstico, é responsável pelas tarefas de manutenção da comunidade – prepara os alimentos, tece, cuida e trata do espaço intramuros”. No entanto, grande parcela das descrições sobre a mulher pré-histórica – inicialmente produzida no século XIX – possuía a atitude de naturalizar uma percepção de que o ambiente dessa personagem histórica era doméstico e familiar. Desse modo, tem-se uma naturalização da própria situação que muitas mulheres vivenciavam no século XIX (CURNOE, 2017).

O período pré-histórico foi continuamente silenciado ao passo em que se discutia sobre o passado, ponderando a escassez de fontes para pesquisas e conclusões. Nesse contexto, mesmo quando se estudava sobre a pré-história, tornava-se evidente a superioridade da figura masculina em detrimento da feminina. Como se sucedeu em diferentes épocas, a participação ativa da mulher na história foi ignorada. No discurso dominante, a descodificação destas imagens foi quase sempre, e apesar da polissemia dos signos, unívoca. Estas mulheres que aparecem raramente grávidas ou acompanhadas por crianças, representariam símbolos de fecundidade e fertilidade, e demonstravam a, compreensível, preocupação do homem com a reprodução do grupo (DINIZ, 2006). Nas figuras deificava-se portanto, e exclusivamente, um atributo que a Natureza oferecera às mulheres, a geração de vida, mas a existência destas “deusas”, criadas em reconhecimento de imperativos biológicos, nunca atribuiu qualquer estatuto social/econômico/político ou religioso, às mulheres no “mundo real”, perpetuamente desconectadas, na historiografia oficial, de qualquer forma de poder (DINIZ, 2006, p.

Contudo, os estudos sobre gênero aparecem em conjunto a uma gama de temática nas ciências, as quais buscam conhecer e identificar a função desempenhada pela mulher nas distintas etapas da vida, bem como evidenciar a relevância da História da mulher para as sociedades contemporâneas, mediante aos estudos de gêneros iniciados no século XX, que foram recorrentemente marginalizados e agora, recebem destaque nos meandros da academia. Em termos práticos, isso colocou em evidência a figura da mulher enquanto personagem histórico e deu voz a ela em um extenso emaranhado de contextos em que a figura masculina parecia dirigir todas as ações que vieram a estabelecer o que já aconteceu (CURNOE, 2017). Posteriormente, aborda-se sobre as transformações e permanências na função da mulher nas sociedades da Idade Antiga, onde ainda verifica-se a presença do sistema patriarcalista.

A História da Mulher nas Sociedades da Idade Antiga A Idade Antiga ou Antiguidade foi o período da história que se iniciou com a invenção da escrita (4000 a. C. a 3500 a. C. Destarte, a mulher no Egito possuía um status privilegiado em comparação ao de outras mulheres das civilizações antigas, considerando a igualdade entre os sexos como um fator natural, sendo comum atribuir similar importância a filiação paterna e a materna. A religiosidade dos egípcios justifica essa condição da mulher na sociedade, tendo em vista que consoante suas crenças, “[. masculino e feminino eram encarados como complementares e seu contraste visto como o principal exemplo do que é dinâmico”, conforme relatou a historiadora Aline Fernandes de Sousa (2008, p. Nessa conjuntura, Sousa revela a existência de funções delimitadas aos homens e as mulheres, onde a elas, “[.

caberiam as funções de gerar, curar e manter o equilíbrio e aos homens as funções de julgar, guerrear e conduzir” (SOUSA, 2008, p. Posto isso, faz-se importante ressaltar que esses direitos concedidos as egípcias, não abrangiam concretamente todas as mulheres da civilização, ponderando que essa igualdade entre homens e mulheres fundamentava-se no patrimônio e na base familiar. De acordo com Pratas (2011, p. “as áreas como o direito e a política têm pouco espaço para mulheres de origens modestas”. É considerando essa conjuntura que a historiadora Gay Robins faz suas observações: [. não devemos permitir que a grande visibilidade das mulheres na arte egípcia obscureça o fato de que existia a distinção de sexos como parte da estrutura formal da sociedade e que, em geral, as mulheres ocuparam uma posição secundária em relação aos homens ao longo de toda a história antiga do Egito (ROBINS, 1996, p.

Aludindo a Grécia da Antiguidade, verifica-se uma conjuntura inteiramente dessemelhante dessa retratada anteriormente com os egípcios, ponderando que a mulher restringia-se ao contexto doméstico, mediante a presença do patriarcalismo. De acordo com a cientista jurídica e social Cecília Caballero Lois (1999), a casa era um espaço destinado à mulher, bem como a conservação do homem. Reitera ainda, que “[. o patriarca estabelecia, neste local, relações desiguais e de sujeição para com os seus, relações das quais nem mesmo ele estava liberto a necessidade de sobrevivência submetia até mesmo o chefe ao seu jugo” (LOIS, 1999, p. Nesse contexto, o doutor em filosofia Tércio Sampaio Ferraz Júnior (1993, p. Evidentemente, a sociedade grega do Período Clássico era equiparada a um clube dos homens, tendo em vista que os mesmos não toleravam o acesso da mulher ao conhecimento, depreciando tudo aquilo que lhe dizia respeito, sobretudo a sua beleza.

Doravante o casamento, a mulher rompe seus vínculos com sua família paterna, ponderando que consoante Lois (1999, p. o pai deixa de ser “senhor e juiz” de sua filha e passa a ser o marido, aquele que vai exercer o pater famílias sobre sua mulher. Destarte, o marido torna-se pai de sua esposa, possuindo absoluto controle sobre as suas decisões, o seu comportamento, o seu futuro, isto é, sobre a vida da mesma. No entanto, o desígnio principal do casamento era a reprodução, tendo em vista que a mulher era ponderada como uma receptora da semente masculina, a qual produziria filhos. a mulher passava a depender da família do marido, ficando submetida a um poder familiar semelhante ao que tinha em casa antes do matrimônio (BARATA, 2016, p.

Dentre suas tarefas principais, o historiador José d'Encarnação (2005, p. elucida que caberia a mulher “as tarefas do quotidiano feminino”, ou seja, “[. amar o marido, criar os filhos, ser agradável na fala e ter graça no modo de andar, cuidar da casa, fiar a lã. ” e, sobretudo, transmitir seus ensinamentos a prole. Assim, ficou sob a incumbência da mulher, a solução de questões antes deixadas a encargo dos homens. Francisco de Oliveira explana que Fica implícito que, particularmente durante as Guerras Púnicas, a ausência e morte de maridos ajudou a um movimento de emancipação da mulher [. Tal emancipação implicava acesso à riqueza, à educação, à facilitação do divórcio e ao casamento sine manu, isto é, consórcio sem submissão à tutela do marido (OLIVEIRA, 2015, p.

Postas essas considerações, evidencia-se que a mulher da Roma Antiga, desfrutava de melhores condições quando comparadas a da Grécia Antiga, sobretudo, com o decurso do tempo e a expansão romana, por intermédio da qual, as mesmas foram possibilitadas de impetrar certa autonomia e emancipação. Sintetizando, verifica-se que cada civilização da Idade Antiga possui suas peculiaridades na forma de tratamento e na função da mulher perante a sociedade. Assim, aponta que se tratava de uma sociedade masculina e guerreira, a qual designava geralmente os dois sexos chamando-os de “o lado da espada” e o “lado de roca”. O historiador Itamar de Sousa (2004) desempenha apontamentos sobre a analogia entre as civilizações gregas e romanas e o período medieval. Desse modo, À semelhança da antiguidade greco-romana, a Idade Média foi também uma época dominada pelos homens: senhores feudais, cavalheiros, padres e monges.

Dissemos predominantemente, mas não exclusivamente, porque neste período histórico, algumas mulheres exerceram importantes funções fora do lar, sendo abadessas, rainhas e dirigentes empresariais (SOUSA, 2004, p. Evidencia-se então, a representatividade dos homens em ambos os contextos, sobretudo ponderando que “[. Embora Cristo tenha valorizado as mulheres, contrariando assim a tradição judaica, muitos de seus seguidores, como os Padres da Patrística, manifestaram uma percepção diferente a respeito do sexo feminino. A título de exemplo, São Paulo em sua Primeira Carta aos Coríntios, 14,34-35 declara que: “As mulheres devem calar na assembléia, pois não lhes é permitido falar”. Ademais, na primeira Carta a Timóteo 2,11-14, ele repete e amplia o seu discriminante pensamento ao declarar que: A mulher deve aprender em silêncio e ser submissa - Não é admitido que a mulher dê lições ou ordens ao homem.

Esteja calada, pois, Adão foi criado primeiro e Eva depois. Adão não foi seduzido; já a mulher esta sim foi seduzida e cometeu a transgressão (BÍBLIA SAGRADA, 2002, p. De acordo com Sousa (2004), tal mentalidade discriminadora da antiguidade na cultura cristã perpassou grande parte do período medieval e, somente no século XII sucedeu uma mudança de direção na espiritualidade cristã, ao passo em que se instituiu o culto a Maria, “que passa a sublinhar a redenção da mulher pecadora por Maria, a Nova Eva” (LE GOFF, 2005, p. considerada por muitos uma maneira de promoção da mulher. Nesse contexto, Sousa reitera que: A corrente intelectual de valorização da mulher foi elaborada pelos teólogos João Duns Escoto, Alberto Magno, Tomás de Aquino, quando eles desenvolveram os fundamentos do culto de veneração à Virgem Mãe de Deus.

Então, Maria foi apresentada à cristandade como a Nova Eva, escolhida por Deus para ser a mãe do seu Filho, o nosso Salvador. Sendo assim, nesta perspectiva teológica, a mulher deixou de ser vista como a "encarnação do mal" para ser considerada como um ser humano, criado também por Deus, e capaz de adquirir grandes virtudes. Análogo ao que se sucedeu em Roma antiga, na Idade Média a mulher continua sendo tutelada, tendo em vista que quase toda a legislação dos séculos XIII e XV reconhecia a incapacidade jurídica das mulheres (SOUSA, 2004). Verdade é que, numa época que os valores transcendentais do cristianismo estavam no auge, milhares de mulheres inspiradas no modelo de Maria, a Mãe de Deus, levaram uma vida santa, nos conventos e dedicaram os seus preciosos dias em cuidar dos pobres, dos doentes, enfim dos excluídos (SOUSA, 2014, p.

Considerando a perspectiva jurídica, na era medieval a mulher continuou tutelada ao seu genitor e após o casamento, pelo marido. Esta situação de controle e de submissão só começou a mudar a partir do século XVIII, quando os movimentos feministas se expandiram e se fortaleceram, reivindicando igualdade de direitos entre homens e mulheres (SOUSA, 2004). Nota-se que os estudos que abordam a situação da mulher na Idade Média apresentam-se como uma tarefa bastante complexa, sobretudo em razão do emaranhado de informações e a extensão do período que perdura quase um milênio. Posteriormente, eram possibilitadas de ingressarem em escolas paroquiais ou conventos. As pobres restringiam-se apenas a servidão, onde deveriam inserir-se campesinato, com o intuito de auxiliar os homens no trabalho feudal e garantir a sobrevivência.

Sousa (2004, p. corrobora expondo que “na agricultura, que era a base da economia medieval, a presença da mulher foi uma constante ao lado do homem”. Aludindo ao casamento, Sousa (2004, p. evidencia que “[. o dote exerce um papel fundamental: garantir a elitização dos mosteiros”. Consoante Sousa (2004, p. as mulheres dos mosteiros eram caracterizadas por aquelas “[. que eram abandonadas pelos maridos, ou que enviuvavam, ou que se rebelavam contra a opressão da família. Destarte, consoante Sousa (2004, p. foi por causa deste costume da nobreza e da burguesia, de contratar professores em casa, que encontramos, na Idade Média, mulheres admiravelmente cultas”, sendo estas, apenas as mais abastadas. Faz-se importante constatar que a Idade Média foi palco de uma das maiores perseguições contra a figura feminina, isto é, contra as bruxas.

A "Caça as Bruxas" foi um movimento pelo qual a Igreja, através do Santo Ofício (inquisição), caçou os rituais pagãos que tinham a mulher como base da fertilidade e o corpo feminino como centro da vida. Segundo Chagas (2017), contra esse movimento a igreja Católica comandou um massacre chegando ao ponto de em um único dia executar três mil mulheres. complementa que “a sociedade no início da modernidade, vivia sob as premissas de controle social e da delimitação dos espaços no núcleo doméstico. A mulher ensina às suas filhas as premissas básicas e os dogmas da fé cristã”. Complacente a essa conjuntura e independente de sua classe social, a mulher era responsável por sua residência, cumprindo as funções e os princípios difundidos pela sociedade como sendo algo natural a ela.

Assim, distinta do homem que possui plena liberdade, a figura feminina limita-se ao seu ambiente específico, o qual é isolado e vigiado, tendo em vista que segundo Tedeschi (2009, p. mesmo os afazeres da casa, não são para a mulher uma “atividade” que ela possa desenvolver com autonomia”, uma vez que tal autonomia é concedida apenas aos homens. Ulrich (2016, p. corrobora que “nomes como Martinho Lutero, João Calvino, entre outros, são conhecidos. No entanto, nomes como Argula Stauff von Grumbach, Elisabeth von Calenberg, Elisabeth Schütz Zell ou Katharina von Bora são praticamente desconhecidos”. Assim, a autora enfatiza os feitos dessas mulheres, elucidando que todas participaram efetivamente nas discussões teológicas acerca da Reforma, destacando-se para Argula Stauff von Grumbach. Ademais, Ulrich (2016, p. Mediante o advento da industrialização, a conjuntura da mulher na modernidade se altera progressivamente, ponderando o imperativo de incorporar novas forças de trabalho nas fábricas.

Assim, a mulher ocupou determinados lugares no mercado de trabalho, simbolizando o princípio de nova era. Consoante Chagas, Com o advento da Idade Moderna, o desenvolvimento do sistema capitalista e a chegada da revolução industrial (Sec. XVIII) na Inglaterra, houve a exigência de aumento da mão de obra e, nessa ocasião, mulheres e crianças foram recrutadas para trabalhar nas indústrias. Diante desse acontecimento, as mulheres, mesmo recebendo salário menor que os homens, passaram a ocupar outra posição social, a de trabalhadora (CHAGAS, 2017, p. Paralelamente, existe um discurso dos ofícios que faz a linguagem do trabalho uma das mais sexuadas possíveis. “Ao homem, a madeira e os metais. À mulher, a família e as tecidos” (PERROT, 2006, p. Assim, a mulher era limitada até mesmo no interior das fábricas, reforçando a desigualdade trabalhista entre os gêneros.

Ademais, salienta-se que propensos ao acúmulo de capital, os donos de fábricas aproveitaram-se da mulher para lucrar, tendo em vista o salário menor. Nesse contexto, verifica-se que as mesmas tiveram oportunidades restritas no mercado de trabalho, quando comparadas aos homens, sobretudo em relação ao salário e as extensas jornadas nas fábricas. No que tange ao Brasil, antecedente ao processo colonizador, a historiadora Mary Del Priore (2004) elucida que as indígenas priorizavam os cuidados com o corpo e a prole. Ademais, auxiliavam na agricultura visando à subsistência do grupo. No entanto, com o advento da colonização e a catequização dos indígenas, o papel da mulher sofreu transformações. Respaldando-se nas concepções européias, a função da mulher tornou-se especialmente restrita ao ambiente familiar e doméstico, tendo em vista o sistema patriarcal desenvolvido na colônia portuguesa da América.

Sua identificação principal aludia à maternidade e ao trabalho doméstico. Em termos profissionais, lhes era permitido, no máximo, o exercício de algumas profissões essencialmente femininas tais como: ser professora, enfermeiras ou parteiras. Todavia, mediante o desenvolvimento da sociedade e as concepções liberais difundidas pela Revolução Industrial, grandes transformações sucederam-se nas relações humanas, possibilitando que homens e mulheres assumissem uma nova posição, seja na esfera privada ou coletiva. Concomitantemente, a mulher, como um ser dotado de pensamento e capacidades, travou inúmeras batalhas em busca do respeito à sua identidade, de seu espaço na sociedade, na política e hoje, na economia do país. A mulher como sujeito da história da humanidade, mesmo sendo silenciada em muitos estudos, teve seu papel ativo em momentos significativos.

No entanto, Beauvoir analisa a contemporaneidade evidenciando a inserção da mulher no mercado de trabalho e, para a autora, “é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta” (BEAUVOIR, 1987, p. As palavras de Perrot (1994, p. corroboram, pois “as mulheres souberam apoderar-se dos espaços que lhes eram deixados ou confiados para alargar a sua influência até as portas do poder”. Além deste ingresso no mercado de trabalho, o movimento feminista – o qual abordaremos no próximo capítulo – também contribuiu intensamente para a transformação da conjuntura da mulher na contemporaneidade. Perrot (2007) evidencia inúmeras conquistas impetradas mediante o feminismo, como o direito a educação pública englobando todas as classes sociais, além do ensino básico e universitário; o direito ao trabalho com salários dignos e igualitários, além da carga horária justa; os direitos civis, como a emancipação dos maridos, o direito a herança, ao divórcio e ao requerimento da guarda da prole; os direitos políticos, com o sufrágio e a eleição para cargos públicos com o sistema de cotas; o direito sobre o próprio corpo, mediante a liberação de pílulas anticoncepcionais orais, revolucionando a vida sexual feminina; e a punição da violência contra a mulher por intermédio de legislações, como a Lei Maria da Penha no Brasil.

Hall (2002) explica que, historicamente falando, as concepções de identidade que permeiam o sujeito desde o Iluminismo europeu mudaram. Por isso ele diferencia três concepções de identidade dos homens: o sujeito do Iluminismo, que é munido de capacidades de razão; o sujeito sociológico, próprio do mundo moderno e dependente da sua relação com os outros; e o sujeito pós-moderno, que não tem uma identidade fixa. É nessa última perspectiva identitária que se trata a mulher contemporânea. Nesse sentido: As velhas identidades criadas a partir do renascimento cultural e do iluminismo europeu estão em declínio num mundo pautado pela compressão espaço-tempo. Nisso, temos uma crise de identidade que fragmenta o indivíduo moderno. Deste modo, por intermédio de culturas mais avançadas e desprendidas do patriarcalismo, como a influência dos ideais da Revolução Francesa no processo de emancipação da mulher, a contemporaneidade se alterou, concedendo espaços para que as mulheres impetrassem sua autonomia.

Nesta conjuntura, a sociedade se desata da tradição e deve aceitar a nova conjuntura da mulher contemporânea, a qual não se submete a figura masculina e não se restringe ao cenário doméstico, sendo possibilitada de tomar posições antes destinadas e restritas ao masculino. Aludindo ao Brasil, salienta-se que doravante a vinda da Família Real em 1808, novos paradigmas foram inseridos na sociedade promovendo uma ruptura com a tradição patriarcalista, os quais viabilizaram as transformações no comportamento da mulher, como a sua maior participação no âmbito coletivo. No século XX, outras mudanças sucedem-se, sobretudo aludindo à organização social. Desse modo, mediante a abolição da escravatura, as mulheres passaram a ocupar postos de trabalho antes destinado aos homens e, consoante a Maria Lúcia Rocha-Coutinho (1994, p.

Nessa perspectiva, reconhece-se que historicamente, a mulher tem sido sujeito ativo na transformação de sua própria condição social. Propensos a verificar esse processo, somos remetidos a refletir sobre os momentos que marcaram as fases da evolução do feminismo. Essa abordagem será desempenhada no capítulo posterior. A FORMAÇÃO DO FEMINISMO O Feminismo emana e se desenvolve como um movimento estruturado, a partir do fenômeno da modernidade, acompanhando o percurso de sua evolução desde o século XVIII, tomando corpo no século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, transformando-se, também, em instrumento de críticas da sociedade moderna (SILVA, 2008a). Sendo um movimento moderno, o feminismo emana das percepções iluministas difundidas na Revolução Francesa (1789-1799) e Americana (1775-1781). Assim, caracterizado como uma ideologia política que busca a igualdade entre os gêneros, o feminismo abrolha como um movimento social, político e econômico visando à legitimidade dos direitos das mulheres.

Nas manifestações do feminismo, as mulheres buscavam e buscam contrapor, à subjetividade de mulher assujeitada pelo masculino, uma subjetividade de mulher autônoma. Dessa forma, segundo a historiadora Margareth Rago, o feminismo [. abriu mão do corpo, da beleza, da estética e da moda, considerados reificadores, apropriando-se paradoxalmente do modo masculino de existência que questionava e, ao mesmo tempo, desconstruía. A feminista apareceu, então, na figura da “oradora”, da mulher que rompe o espaço público e toma a palavra, denunciando e revolucionando como os homens. Desse modo, o processo construtivo da subjetividade feminina é resultante de dois princípios essenciais contraditórios entre si, quais sejam, o sistema patriarcalista e os movimentos feministas. Em suma, o patriarcalismo conseguiu produzir, no âmbito coletivo, e fez inúmeras gerações de mulheres consentirem com isso, uma representação de mulher que subestima as suas potencialidades femininas e impõe a arcaica segmentação dos postos de trabalho segundo o sexo biológico e, por conseguinte, a clássica função das mulheres no contexto doméstico e na sociedade.

Os movimentos feministas, em contraposição, concretizaram uma nova subjetividade para a mulher, visto que, na era de permanência do sistema patriarcalista, a luta feminista não se restringiu somente à igualdade por seus direitos, tendo se empenhado também pela libertação dos estereótipos preestabelecidos socialmente por meio dos patriarcas, sobretudo na condição de terem sido idealizadas como seres passivos e frágeis. Assim sendo, a subjetividade da mulher se desprendeu dos padrões patriarcalistas, constituindo uma nova identidade. Ademais Borges e Figueiredo explanam que As lutas feministas trouxeram grandes avanços para a sociedade feminina e escancararam as opressões sofridas pelo gênero. A figura 2 ilustra uma manifestação das sufragistas, onde as mulheres carregam cartazes reivindicando o direito ao voto. Figura 2 – Manifestação Sufragista Fonte: Aventuras na História (2019) Somando-se ao movimento sufragista, abrolham mulheres que alcançam determinadas lideranças frente à luta por direitos.

Consoante Silva (2008a, p. “em meados do século XIX, também começam a surgir os primeiros jornais e periódicos dirigidos por mulheres e voltados para a luta da emancipação e construção da identidade feminina”. Esses feitos iniciais contribuíram fortemente para a concretização do movimento organizado. Ademais, Bertha Lutz em conjunto a outra percussora do feminismo no Brasil, Nísia Floresta, fundaram a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, a qual lutava não somente pelo direito ao sufrágio, mas também, pelo direito da mulher trabalhar sem o consentimento do marido. Nesse cenário, cabe ressaltar que o Brasil se organizou desde sua colonização, em uma estrutura patriarcal, onde as filhas deixavam de ser dominadas pelo progenitor para padecerem com a dominação de seu marido (SILVA, 2008a).

Ponderando as inúmeras manifestações feministas, no ano de 1932, as mulheres conquistam o direito de votar no Brasil, no entanto, é neste período que os padrões normativos da ideologia da domesticidade se constituem como ponto comum no meio social. A socióloga Juciane de Gregori explana ainda que Animadas com a ampliação da democracia através da conquista do direito do sufrágio universal e do voto secreto, as mulheres tiveram participação ativa na política marcando presença no processo eleitoral não só como votantes, mas também como candidatas para diversos postos, desde prefeitas, deputadas estaduais, deputadas federais e até senadoras (GREGORI, 2017, p. Evidencia-se então que, a conquista do direito ao sufrágio, não restrito somente ao Brasil, incide em marco relevante na luta das feministas, bem como na transformação da sociedade.

rica em reflexão e investigação acadêmicas sobre a origem das desigualdades sexuais, bem como, forte nas lutas radicais contra todas as formas de opressão feminina situadas, principalmente, no sistema patriarcal. A ênfase das análises era a família, a sexualidade, a violência sexual e os direitos sobre o corpo (SILVA, 2008a, p. Considerado por Silva (2008a) como a fase do Feminismo Radical, o movimento alcança o patamar de militância, sendo influenciado por diversas teóricas, como Simone de Beauvoir, e atuando diretamente no combate as desigualdades entre os gêneros e no desarraigamento do sistema patriarcalista. Silva (2008a, p. reitera que “para vencer a opressão feminina, [. a marcante política de resistência e contestação em todo o mundo; a defesa da legalização do divórcio e da aceitação dos chamados filhos “ilegítimos”; reivindicações de creches para os filhos das mulheres trabalhadoras; a defesa de que as mulheres tivessem controle sobre seu próprio corpo – que no momento era a questão da reprodução e descriminalização do aborto; a defesa da criminalização da violência contra as mulheres [.

a luta pela politização da esfera pública e pela implantação de casas de acolhimento à mulheres em condições de risco; e uma das principais realizações do feminismo radical foi a organização de grupos de auto-consciência e de auto-conhecimento (SILVA, 2008a, p. Desse modo, na década de 1960 as mulheres buscavam por direitos que a sociedade lhes negava. É verídico que doravante o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o movimento feminista vinha mobilizando milhões de mulheres no mundo todo. No ano de 1960, contudo, a liberação ao público da pílula anticoncepcional, marcou o início de uma verdadeira revolução sexual. elucida que “quando a segunda onda do feminismo foi introduzida no mundo ocidental, nos anos 60 a 70, mulheres teólogas começaram a incorporar sua crescente consciência feminista em sua prática religiosa e em seu trabalho acadêmico”.

Desse modo, verifica-se a busca pela transformação da condição das mulheres não apenas na sociedade, mas também nas igrejas. Dentre as manifestações sucedidas durante a segunda fase, salienta-se que as mulheres saíram ás ruas na Marcha da Coalizão pela Liberação da Mulher, em 26 de agosto de 1970, no Estado Michigan, nos Estados Unidos. Nesse evento, foi exigida a igualdade de salários entre homens e mulheres. A figura 3 demonstra a manifestação de Michigan. Em seguida, alastrou-se pelos países do Ocidente. Sua principal proposição era a libertação da mulher e não apenas a sua emancipação. Os desempenhos da segunda fase estimularam a criação de uma nova fase, a terceira. A Terceira Fase do Feminismo O que se designa como terceira fase feminista é o movimento que pode ser entendido, na história do feminismo, como o contemporâneo, iniciado doravante a década de 90.

Desse modo, trata-se da difusão das pautas do movimento para o que se pode considerar uma ampla gama de questões da micropolítica. Marques (2018, p. corrobora expondo que “o surgimento de novas correntes ou vertentes do movimento feminista surgem a partir de demandas e da necessidade de discussão da realidade das mulheres de classe mais baixa e diferenças raciais”. Obviamente, a terceira fase não representa o momento final na história do feminismo, pois claramente ainda há muito para ser buscado, incluindo as premissas mais básicas do movimento, ou seja, o fim das disparidades. Sua existência, no entanto, dá força para que novas fases e vertentes, cada vez mais sofisticadas, surjam com espaço e força na sociedade, algo impensável há pouco mais de um século, quando a batalha ainda era ter alguma voz que fosse ouvida.

A conquista social da mulher é limitada a determinados países e classe sociais, sendo o maior preconceito, vivenciado pelas mulheres no mercado de trabalho. “para a direita era um movimento imoral, portanto perigoso. Para a esquerda, reformismo burguês, e para muitos homens e mulheres, independentemente de sua ideologia, feminismo tinha uma conotação antifeminina”. Concepções como essas, encontram-se ainda hoje na sociedade brasileira, ponderando o errôneo discurso de que o feminismo busca a superioridade da mulher em relação ao homem. Embora isso ocorra, cabe salientar as conquistas que o movimento ocasionou para as brasileiras, como o acesso a educação básica e universitária; o direito a inserção no mercado do trabalho sem a autorização do marido; a licença maternidade e a proibição de demitir grávidas; o direito ao sufrágio e a candidatura política; a possibilidade de divorciar-se; a criação das delegacias de atendimento especializado à mulher; as cotas na legislação eleitoral; o acesso aos anticoncepcionais; e as legislações em caso de violência, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio.

No entanto, embora sejam grandes conquistas, o Brasil necessita evoluir muito em relação aos direitos e a proteção das mulheres, ponderando a persistência na prática da desigualdade salarial entre os gêneros; a escassez de mulheres na política, tanto na ocupação de cargos como na tomada de decisões; a discussão sobre o direito a decidir sobre seu corpo e, a libertação de padrões impostos pela cultura; o intenso assédio e a violência, seja ela física, sexual, moral ou dentre outras; e, sobretudo, a discriminação no mercado de trabalho justificada pela reprodução. reitera que “outros representantes da ciência médica (embriologia experimental, teoria do córtex), filósofos bioeticistas e representantes do movimento feminista têm dúvidas quanto ao exato momento a partir do qual se pode falar em vida humana”.

Assim, tem-se um dualismo que consoante as feministas, impossibilita a mulher de decidir sobre o próprio corpo. A autora explana sobre essa percepção feminista: O movimento feminista tem como principal argumento o direito inalienável da mulher ao próprio corpo, sob a alegação de que o aborto constitui um problema de fórum íntimo e que deve ser lhe dado o direito de escolha quanto ao número e o momento de ter filhos (KALSING, 2002, p. Debates e problematizações a parte, faz-se necessário e urgente um parecer do Estado em conjunto aos setores de saúde, tendo em vista o grande número de abortos realizados clandestinamente e, consequentemente, de maneira insegura, o que ocasiona em diversas mortes no país. Tendo em vista as diversas pautas, na contemporaneidade, as feministas seguem reinventando o movimento, na busca pela adesão de mais mulheres, no encorajamento e na conscientização, visando elucidar como as mesmas são afetadas pela desigualdade social, política e econômica.

Ademais, constatam-se três vertentes principais, sendo elas: o Catolicismo Romano, a Igreja Ortodoxa Oriental e o Protestantismo. Na doutrina cristã, segundo Wirth (2013, p. “a palavra autorizada (Bíblia) serviu, muitas vezes, para justificar a dominação do homem sobre a mulher como algo natural” e, dessa forma, sustenta-se o discurso em que a mulher deve se submeter aos homens. A autora reitera expondo que tal dominação é fundamentada “[. como castigo de Deus pelo pecado da queda” (WIRTH, 2013, p. Análogo ao Cristianismo, o Judaísmo aprecia o homem como superior a mulher, todavia, esses são considerados incompletos até se casarem. Assim, consoante Rita de Lourdes de Lima (2010), a mulher judia possui grande representatividade na família e na Igreja, ponderando que a mesma possui a habilidade e as características necessárias para sustentar o cenário doméstico.

Ademais, é a mulher quem deve perseverar na fé e conduzir seu marido e seus filhos nesse caminho. Salienta-se ainda que as judias são as responsáveis pela educação da prole, desde os primeiros passos dentro do judaísmo. Lima (2010) explana que determinados papeis são específicos para homens e mulheres, entretanto, justifica que não se trata de uma inferiorização feminina, mas sim, de uma diferença nas funções designadas para cada sexo. A nosso ver, elas fazem parte de sua própria lógica interna: as religiões nascidas da figura de Deus-Pai só podem estruturar-se a partir do androcentrismo e das constantes interdições as mulheres (LIMA, 2010, p. Diante do exposto, ressalta-se que essa conjuntura deve ser alterada em caráter de urgência, ponderando que os ensinamentos sagrados, devem se inserir no contexto contemporâneo, o que acarreta em transformações práticas.

De acordo com Wirth, A religião tem tendência à arrogância e, a princípio, não é dada à mudança. No entanto, a vida é um processo dinâmico; ela está em constante movimento, por isso o quotidiano dita as mudanças. A religião precisa acompanhar as mudanças na contemporaneidade (WIRTH, 2013, p. Nos primórdios, isto é, no período designado como Pré-História o patriarcalismo já dominava, tendo em vista a era da caça, a qual exigia a força máscula para determinadas atividades. Desse modo, a mulher foi submetida a uma posição de inferioridade ao homem, sendo restrita ao contexto doméstico e responsável pela reprodução. Na Idade Antiga, analisamos três civilizações com características distintas que aludem à posição da mulher na sociedade, sendo o Egito, a Grécia e Roma.

Assim, verificou-se que no Egito a mulher deleitava de uma conjuntura privilegiada e distinta de outras civilizações, com igualdade e direitos garantidos. Já na Grécia e em Roma, de maneira análoga, a mulher mantinha-se em casa, sendo responsável pelos afazeres domésticos e cuidados com a prole. Atualmente, inúmeros direitos e conquistas foram alcançadas, sendo essas nos diversos setores da sociedade, incluindo, o contexto religioso. No entanto, evidentemente, temos muito a evoluir e alterar nossas percepções em relação à mulher, ponderando que vivemos em um Estado democrático de direito. Essa missão, não se restringe apenas ao governo e aos homens, mas a todas as mulheres, os setores sociais e a igreja, a qual deve caminhar em direção ao progresso e promover a igualdade entre os gêneros em seus templos sagrados.

Por fim, esse estudo que evidencia a superação e o progresso da mulher no decurso do tempo, no espaço e nas imposições sociais, busca contribuir e fornecer os subsídios necessários para todos aqueles que acreditam na importância da luta pela igualdade de gêneros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADOVASIO, J. AS trajetórias e lutas do movimento feminista no Brasil e o protagonismo social das mulheres. IV Seminário CETROS. Neodesenvolvimentismo, Trabalho e Questão Social. Fortaleza – CE – UECE – Itaperi, 2013. ARISTÓTELES. phtml. Acesso em: 26 jun. BARATA, Filomena. A Mulher em Roma: Apontamentos e contributos sobre a condição feminina na Roma Antiga. Companhia da Palavra: Portugal, 2016. São Paulo: Ave Maria, 2002. BORGES, F. R. FIGUEIREDO, I. V. Disponível em: http://www. psicologia. pt/artigos/textos/A1095.

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