Estudo Conceitual sobre o Feminismo - Final

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Psicologia

Documento 1

Foram encontrados 102 resultados, após essa etapa, aplicou-se os critérios de seleção, sendo eles: idioma, data de publicação, Qualis da revista, tipo de documento e país de filiação do periódico científico. Artigos que não foram escritos em português, publicados entre os anos de 2012 até 2017 no Brasil e em revistas que não seguem a qualificação A1 foram excluídos. As revistas utilizadas, que correspondem a qualificação A1 são: “Revistas de estudos feministas”, “Cadernos Pagu”, “Galáxia”, “Tempo social” e a “Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea”. Assim restaram 19 artigos que correspondiam a todos os critérios para análise. Após a realização do levantamento de dados, os materiais foram obtidos via download. Palavras-chave: Feminismo; Gênero; Nacionalismo; Ana de Castro Osório; Júlia Lopes de Almeida MAIA, C.

Feminismo e narrativa nacional no Brasil e em Portugal. Revista Estudos feministas, Florianópolis, vol. n. setembro/ dezembro. Depois, por considerar que bell hooks e Patricia Collins elaboraram reflexões teóricas sobre homens e masculinidades negras a partir de uma perspectiva interseccional, damos destaque aos textos por elas elaborados, ao buscarmos pontuar, com outros autores e autoras, dentro ou fora do Brasil, de que modo estes mobilizaram ideias e perspectivas de análise que estejam ou não em conexão vinculativa com os posicionamentos teóricos dessas autoras. E, finalmente, o nosso interesse é de tornar ainda mais elucidativa a necessidade da discussão de estereótipos que possam contribuir na construção de outros sentidos, outras narrativas, outras versões acerca do debate proposto. Palavras-chave: Blackness; Black Experience; Diáspora; Masculinidades Negras; Feminismo Negro CONRADO, M.

RIBEIRO, A. Homem negro, negro homem: masculinidades e feminismo negro em debate. G. Par além dos feminismos: uma experiência comparada entre Guiné-Bissau e Brasil. Revista Estudos feministas, Florianópolis, vol. n. Setembro/ Dezembro. Procuro explorar a tensão constante e produtiva entre esses ideais contraditórios como narrativas que têm eficácia na construção de compreensões e vivências sociais de gênero e sexualidade. Palavras-Chave: Gênero; Sexualidade; Desejo; Feminismos; Violência; Brasil SIMÕES, J. A. O Brasil é um paraíso sexual –para quem? Caderno Pagu, Campinas, n. agosto, 2016. Os resultados sustentam o pressuposto de que o ecofeminismo tem estreita relação com a sustentabilidade do meio ambiente, em nível local, e apontam para a possibilidade de soluções inovadoras no relacionamento entre sociedade e natureza.

Palavras-Chave: ecofeminismo; ecovilas; comunidades sustentáveis; desenvolvimento local FLORES, B. N. TREVIZAN, S. D. Cadernos Pagu A1 Este artigo debate o tema da despatriarcalização do Estado brasileiro, especialmente, a partir da dinâmica de participação/representação nos âmbitos dos poderes Executivo e Legislativo. Esse é um processo em curso no Brasil (e também em outros países latino-americanos). O artigo trás uma contribuição ao debate sobre as agendas de descolonização das nossas sociedades e também do Estado, numa perspectiva em que o marcador de gênero não seja tratado perifericamente, mas como elemento estratégico para a descolonização/despatriarcalização do Estado, um dos eixos centrais de análise das opressões de origem patriarcal. Mas para chegar a esse ponto foi necessário um percurso longo por leituras críticas da teoria feminista e do pensamento social brasileiro, que debateram sobre estruturas, valores e fundamentações teóricas de um sistema social e político que afirmo ser ainda enraizadamente patriarcal e neocolonial em nosso país.

Veremos como esse contexto é permeado de inúmeras contradições: o patriarcado tem igualmente se transformado e, infelizmente, continua moldando as nossas instituições estatais, tratando de garantir e sustentar a inserção subordinada das mulheres nas distintas dimensões da esfera pública e, com isso, retardando e muito os avanços que os movimentos de mulheres demandam e lutam, mas já há iniciativas também em curso de mecanismos que possam compor sistemas de responsabilização institucional sensíveis a gênero e que sejam receptivos a processos continuados de empoderamento das mulheres como estratégia democratizadora do Estado brasileiro no âmbito dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. DEBER, G. G. Arenas de conflitto em torno do cuidado. Tempo Social, São Paulo, v. n. pp. ISSN 0104-8333.

  http://dx. doi. org/10. n. Janeiro/ Abril, 2014. Revista Estudos Feministas A1 A Revista Ártemis – Estudos de Gênero, Feminismo e Sexualidades  esteve entre os periódicos que participaram do evento "REF 20 Anos: militância e academia nas publicações feministas", em novembro de 2012, na cidade de Florianópolis, SC, Brasil. A Ártemis foi apresentada na mesa redonda "Desafios das publicações no campo feminista", juntamente com as editoras dos periódicos Cadernos Pagu; Cadernos de Crítica Feminista, da ONG SOS Corpo; Revista Gênero (UFF) e ONG CFEMEA. Nossa apresentação pontuou a relação da revista acadêmica com os movimentos sociais, assim como as propostas editoriais, os objetivos futuros, as dificuldades enfrentadas e as estratégias de superação que nos permitem estar no oitavo ano da publicação.

R. G. Intervenções feministas: pós- colonialismo, poder e subalternidade. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. n. O romance, nesse sentido, integra o processo de implantação de vozes dissonantes em relação a ideologias dominantes como o patriarcalismo e o falogocentrismo, comumente representadas e reduplicadas na literatura canônica. Trata-se de inscrever, no lugar da tradicional identidade feminina, fixa e presa aos papéis de gênero, estabelecidos pelo pensamento patriarcal, a multiplicidade e a heterogeneidade, portanto, o descentramento de identidades, por meio da intersecção com múltiplas outras questões como raça, etnia, classe e orientação sexual. Fundamentando nossa investigação no feminismo crítico e, de modo geral, no pós-estruturalismo, nosso propósito é empreender uma discussão acerca do modo como a escritora, em diálogo com a tradição espanhola, representa identidades femininas, bem como, as relações de gênero nesse importante romance do século XX.

Palavras-chave: gênero, representação, personagem feminina, Espanha, Brasil. ZOLIN, L. S. MAIO, M. C. MONTEIRO, S. Feminismo negro: raça, identidade e saúde reprodutiva no Brasil (1975-1993). O Brasil é um paraíso sexual –para quem? Caderno Pagu, Campinas, n. agosto, 2016. MACHADO, Lia Zanotta.  Interfaces e deslocamentos: feminismos, direitos, sexualidades e antropologia.  Cad. FERNANDES, D. A. O gênero negro: apontamentos sobre gênero, feminismo e negritude. Revista Estudos feministas, Florianópolis, vol. n. MAIO, M. C. MONTEIRO, S. Feminismo negro: raça, identidade e saúde reprodutiva no Brasil (1975-1993). Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. Cadernos Pagu, Campinas, n. Julho/ Dezembro, 2014. Biografia de mulheres com participação na História oficial brasileira Narrativas Biográficas SILVA, T. FERREIRA, G. E as mulheres negras? Narrativas históricas de um feminismo à margem das ondas.

Cadernos Pagu, Campinas, n. Janeiro/ Junho, 2013. Com o objetivo de organizar os materiais de forma mais dinâmica, os trabalhos foram divididos em eixos temáticos que dão um panorama das principais discussões contemporâneas sobre o feminismo no Brasil. DISCUSSÃO De todos os textos analisados, emergiram os temas que refletem os principais debates contemporâneos que estão sendo travados dentro da produção teórica e ativista do feminismo no Brasil e refletem um percurso tanto de avançar na perspectiva teórica como de oferecer aportes empíricos que situam e ajudam a entender a realidade da mulher brasileira. A perspectiva teórica foi baseada na compreensão ou na busca por situar a realidade brasileira, sua formação e de que maneira ela contrasta com a realidade do feminismo branco ou feminismo neoliberal.

Poderiam os grupos oprimidos falar? Dentre as diversas correntes que pretendem exercer os saberes localizados como metodologia, estão as pesquisas biográficas de mulheres. Apesar da Ciência ter sido construída no masculino, tem sido cada vez mais recorrente as tentativas de restituir o lugar de mulheres em momentos importantes da História. A chamada “História das mulheres” é hoje um campo consolidado em universidades em todo o mundo (ROIZ, 2008) e aborda uma história de conquistas de direitos e rompimentos do silêncio a que as mulheres foram relegadas, por exemplo, a conquista do direito ao voto, ao trabalho ligado a uma carreira profissional, a falar e produzir Ciência a partir da subjetividade feminina. Além da história das mulheres enquanto categoria, há também a história de mulheres dentro da própria narrativa histórica hegemônica, que é geralmente contada a partir de personagens masculinos.

De acordo com Michelle Perrot (apud ROIZ, 2008, p. Maria Rita, como muitas feministas de seu tempo, adotou uma política conservadora, apropriando-se da representação de mulher que o discurso masculino propagava, que celebrava o amor materno, a ética burguesa, o desprendimento e o altruísmo, fazendo-se assim símbolo de uma mudança que amenizava desigualdades, ainda que preserva-se o que era tido como tipicamente feminino pelo discurso dominante. Sob o estandarte de mulher batalhadora, empática e religiosa – o que sempre representava sua figura como provas de suas virtudes quando retratada pela mídia – teceu inúmeras negociações políticas. Certamente, sem estas qualidades estampadas, tais feitos não seriam possíveis: É fundamental destacar que esses usos certamente foram fundamentais para a vida pública de Maria Rita, já que essa “feminilidade”, que simbolicamente representava a branquitude e a experiência de vida das mulheres de classe média e alta no Brasil, era recorrentemente dissociada da imagem das mulheres negras.

SILVA; FERREIRA, 2017, p. A despeito da posição política de Maria Rita, durante a ditadura defendeu juridicamente acusados de subversão e criou alianças com partidos alinhados à esquerda quando estas uniões beneficiavam seu partido. Há de se esperar que nas narrativas feministas o nome de Maria Rita ganhe destaque, porém tampouco: talvez pelo caminho liberal que esta mulher tenha escolhido, ou ainda por não se encaixar nas ondas feministas. O certo é que “os paradoxos e contradições que atravessam a vida dessa militante são interessantes para problematizarmos a complexidade das vivências e ações feministas, vividas na defesa de bandeiras coletivas ou na resistência cotidiana e individual” (SILVA; FERREIRA, 2017, p. Tal construção ideológica, como não poderia deixar de ser, sofre diversas alterações no decorrer do tempo e, no caso da representação do feminino, terá consideráveis mudanças com a intensificação do movimento feminista.

As romancistas Júlia Lopes de Almeida e Ana de Castro Osório A historiadora Cláudia Maia (2017), em seu artigo “Feminismo e narrativa nacional no Brasil e em Portugal” publicado na revista “Estudos Feministas”, apresenta uma análise comparada entre duas obras do início do século passado e que foram romances escritos por duas feministas, a brasileira Júlia Lopes de Almeida e a portuguesa Ana de Castro Osório, na qual propõem um novo projeto republicano de nação em forma de narrativa. Nos seus trabalhos, as escritoras deixam transparecer em parte a representação do feminino dentro de um feminismo voltado à causa de uma construção de identidade nacional. Ainda assim, não é sem ressalvas que a obra dessas autoras deve ser compreendida, como podemos inferir a partir de Maia (2017).

O movimento feminista já possuía diversas vertentes desde o início do século XX no Brasil – inclusive as mais radicais – o que vemos foi que a popularização da representação feminista do início do século se acentuou no polo que mais conversava com a representação então vigente. As mulheres representadas nos romances das autoras são mulheres intelectuais e livres administrativa e politicamente, embora ainda sigam o ideal elitista e burguês de mulher, que é tributária à estrutura familiar, ao ideário de mãe e de cuidadora da casa. Outra representação das quais as autoras não conseguem escapar – e que é fruto da época e da sociedade ao redor– é o discurso higienista e eugenista, visto em maior ou menor grau em suas obras.

Ainda assim, conforme Maia (2017): Não se pode, porém, desconsiderar o potencial e a contribuição dessas feministas de elite para desconstruir efeitos de verdades e modelos femininos de submissão, passividade e futilidade predominantes na literatura escrita por homens – e nas narrativas da nação – e, portanto, mais hegemônicas. Maia (2017) nos aponta diversos outros pontos de convergência nas obras das feministas, tais como: são escritos em forma de correspondência via correio, são problematizadoras da pouca e pobre educação ofertada às mulheres, da apatia e superficialidade da mulher burguesa, entre outros aspectos. Ambas colocam, também, a mulher como figura central de civilidade e reconstrução de sociedade, como guia para onde suas nações deveriam seguir. Assim como tem ocorrido com as modernas análises literárias – em especial àquelas que têm como foco o debate sobre o gênero – a conceituação de representação é muito preciosa e basilar.

É, entretanto, uma noção que permite diversas leituras em variados campos de conhecimento: representação pode ser vista como a concretização da realidade com meio simbólico; ou ainda o ato de romper com a invisibilidade que parece cobrir determinados temas e grupos, demonstrando suas feições sem distorções para o mundo (GINZBURG, 2001). Os símbolos, as representações são mutáveis e flutuantes, mas sempre definidas pelos grupos que constroem tais figuras, em um jogo de dominação e poder de determinar como o outro é e deve se comportar. Em 1970, Zuleika asilou-se no Chile onde começou a tomar contato com os feminismos, fundou o Comitê de Mulheres Brasileiras no Exílio e organizou um Seminário Latino-Americano de Mulheres para discutir as questões das mulheres na região.

Para Zuleika, este foi um momento de despertar para o problema específico da mulher, uma vez que teve um contato intenso com o movimento feminista europeu, especialmente, o Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris. No mesmo período o partido comunista afirma a necessidade de reconhecer a importância das questões de subordinação das mulheres e que deveria ser um problema a ser enfrentado interna e externamente. Na sua volta ao Brasil, já nos anos 1980, Zuleika Alambert busca ampliar pautas feministas no país, fez declarações, organizou grupos de mulheres que haviam voltado do exílio e aprovou no Comitê Central do PCB, uma resolução que deixou claro que seria um erro pensar que os direitos das mulheres só seriam possíveis com a extinção do capitalismo (SOIHET, 2013).

Em 1980, no III Congresso da Mulher Paulista, Zuleika criticou que os partidos entendessem os movimentos de mulheres como extensão das causas partidárias e defende movimentos autônomos de mulheres, que podem explorar a singularidade da condição feminina: Com relação aos movimentos feministas, os partidos teriam uma função positiva e importante se buscassem compreender a condição feminina e acionar os instrumentos capazes de introduzir mudanças nessa condição. Ainda em Salvador, comandou uma famosa pensão onde abrigava todos seus partidários da paz, que logo se viu convertido em um bastião do movimento político. O Movimento da Paz baiano acabou por ser reconhecido, não por acaso, como um dos mais desenvolvidos, e Maria Brandão como sua liderança natural, sendo premiada em reconhecimento.

Tanto esforço e dedicação lhe renderam a indicação para ser nomeada “Campeã da Paz”, representando o Brasil no exterior. E a despeito de todo brutal sexismo e preconceito que Brandão recebera até aqui, foi nesse momento seu ataque mais cruel: enquanto ela desempenhava a função servil de auxiliadora de uma causa, de doação de trabalho incansável, Maria ainda cumpria o encargo que lhe fora atribuído. Entretanto: Ao se engajar nos movimentos políticos e nas atividades intelectuais, essas mulheres negras são personagens em ruptura com as funções que lhes foram atribuídas historicamente, como o servilismo visto como atributo natural caracterizado pela visão apresentada por Gilberto Freyre da negra, “ser-corpo-sexualizado” e “ser-corpo-trabalho” que foi construída na sociedade brasileira […] Maria Brandão foi impedida de representar o país no exterior, sendo substituída por um homem.

Silva e Ferreira (2017) falam também sobre Maria José Camargo de Aragão, que também foi partidária do Partido Comunista Brasileiro e militante na Federação de Mulheres do Brasil. Era uma figura bastante notável na área jornalística, além de médica conhecida na capital maranhense, atendendo a população de baixa renda e, por consequência do bom trabalho, ficou famosa entre a classe mais abastada. Sob acusação de liderar a greve e a insurgência que convulsionaram São Luiz do Maranhão no ano de 1951 – conhecida como “Balaiada de São Luiz” – foi condenada e presa. Durante essa revolta, foi representada pela imprensa de esquerda como exímia oradora e liderança da população, respeitada e creditada como uma campeã que combatia o abuso, a pobreza e a escassez.

Sua prisão causou protestos e manifestações que pressionaram o governo a libertá-la. FEMINISMOS DECOLONIAIS E O LUGAR DA MULHER BRASILEIRA Dos diversos textos analisados no momento da revisão bibliográfica, ficou claro que existe uma busca por consolidar e enunciar como se dá o movimento feminista no Brasil em termos teóricos e em termos políticos. Em termos políticos, a seção anterior que se dedicou a falar sobre percursos biográficos de mulheres importantes da história brasileira também faz jus a consolidar uma narrativa hegemônica sobre um movimento de mulheres em defesas dos seus direitos. Contudo, o movimento feminista, assim como outros movimentos sociais, está amplamente amparado nas visões de mundo que são trazidas, especialmente, pelos estudos feministas. É de competência do mundo acadêmico pensar em modelos, fazer análises e refletir sobre a realidade empírica que se apresenta bem como pensar em estratégias pra a liberação feminina que passem por compreender intelectualmente de que situações estamos falando.

Desde a década de 1980, vem ganhando força o chamado movimento ou estudos pós-coloniais. A agenda teórica feminista decolonial e pós-colonial Para Almeida (2016) as agendas pós-colonial e feminista têm uma preocupação comum em resgatar e fazer uma leitura de experiências silenciadas ou que não podem falar ou que não constituem o sujeito hegemônico. Se o feminismo desponta em várias áreas do saber como um potencial crítico e capaz de oferecer novos olhares, a sua penetração nos estudos culturas e pós-coloniais, segundo a autora, não foi fácil: É justamente essa possibilidade de pensar o trabalho teórico como uma forma de interrupção teórica e episte- mológica, como aquela efetuada não apenas pelos estudos feministas e de gênero, mas também pelos estudos sobre etnicidade e raça (campo especialmente articulado na crítica pós-colonial), que pode levar a uma desestabilização pro- dutiva nas teorizações e nas análises da sociedade e das práticas culturais a ela associadas (ALMEIDA, 2013, p.

A crítica feminista foi também responsável por sustentar um espaço plural, especialmente entre os vários feminismos e identidades, na forma de denunciar a falácia da universalidade, as diferenças entre as mulheres, a experiência localizada das mulheres brancas, negras e indígenas como também articuladoras da história e das narrativas de construção do espaço nacional. Danubia Fernandes (2016), em seu artigo “O gênero negro: apontamentos sobre gênero, feminismo e negritude”, nos expõe uma revisão bibliográfica das ideias de feminismo partindo dos pressupostos teóricos das pesquisas sobre racismo. Desta forma, a autora relaciona as bases teóricas feministas com o ponto de vista racial com o propósito de demonstrar o ponto de vista da mulher negra, em uma relação complexa que Fernandes denomina como “dupla alteridade”.

Sendo que no período pós-colonial obtiveram papéis de mantenedoras de suas famílias já que seus companheiros foram substituídos pela mão-de-obra estrangeira, e essas mulheres acabaram se inserindo nos mercados tanto formal quanto informal de trabalho. Quando se fala em feminismo negro, há de se pensar sobre o impacto de temas raciais e sua vinculação com o gênero. O feminismo negro deve dar devida atenção a uma paridade política complexa e as diversas variáveis que se interseccionam. FERNANDES, 2016). A mulher negra precisa assumir seu papel de protagonista na luta contra o machismo e o racismo, além de resistir à pressão contra o embranquecimento e a submissão que historicamente se espera do mundo feminino. No artigo “Feminismo negro: raça, identidade e saúde reprodutiva no Brasil (1975-1993)”, objetivando como eixo de análise a saúde ginecológica para o movimento feminista negro no Brasil, Damasco, Maio e Monteiro (2012) analisam pesquisas que colidem informações de saúde, gênero e raça/cor no Brasil, entre meados dos anos 70 e meados dos anos 90.

O recorte temporal da análise inicia-se no ano de 1975, por se tratar do período de abertura política no Brasil, o que permite o irromper do movimento feminista organizado no país. O período de análise cobre até o ano de 1993, período histórico em que a atividade das feministas negras na área da saúde reprodutiva alcançam a órbita da saúde pública, com a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou as acusações de esterilização cirúrgica em massa das mulheres negras brasileiras. Como Damasco, Maio e Monteiro (2017) nos mostram, o período de reabertura política brasileira foi fecundo ao surgimento do movimento feminista negro organizado, em especial na região sudeste, atuando com os temas da anistia de presos políticos, luta pelos direitos civis das mulheres, combate à violência doméstica e promoção da saúde feminina.

No começo dos anos 1980 surgem no país os órgãos especializados em resguardar os direitos femininos, onde ganha relevo a questão da saúde das mulheres, em especial com a criação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). A onda de protesto em resposta culminou no arquivamento do projeto e no afastamento do responsável pelo relatório, que ainda tentou se justificar dizendo que estava preocupado com a questão do planejamento familiar, mas não conseguiu afastar o conteúdo preconceituoso e opressor de seu relatório. Ao propor o controle populacional da população não-branca, deu força ao movimento feminista negro para lutar pela saúde reprodutiva da mulher. Naquele período, um dos grandes avanços do ativismo feminista negro em prol à saúde da mulher foram as pesquisas comandadas pelo Núcleo de Estudos de População (NEPO), capitaneado por Elza Berquó.

Aquelas pesquisas puderam dar luz e embasamento à constatações anteriormente empíricas, coletando informações sobre as desigualdades raciais existentes no Brasil. Além daquelas pesquisas, em 1986 foi aplicado um suplemento especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, onde a informação desagregada por cor foi publicizada. Finalmente, o texto de Figueiredo e Gomes (2016) busca estabelecer uma comparação entre as experiências de organização política das mulheres em Brasil e na Guiné Bissau. O principal argumento das autoras é que o feminismo tal qual é entendido na teoria pode ou não sustentar a luta de mulheres negras, a depender do contexto, ou seja, nem sempre a luta das mulheres foi ou é chamada de feminismo, mesmo que tenha o mesmo objetivo. Com isso, as autoras querem localizar tanto o feminismo como uma produção ocidental e que não consiste na única narrativa possível de liberação das mulheres.

Não obstante tenhamos que considerar as imensas contribuições do movimento feminista ocidental até que ponto as categorias de gênero são aplicáveis a toda e qualquer realidade? As próprias feministas negras brasileiras e as mulheres guineenses respondem a esta questão ao teorizarem sobre a dupla ou tripla opressão que sofrem, que escapam à categoria mulher e ingressam também em lógicas coloniais e, portanto, raciais. Um caso trazido pela autora é o conceito de interseccionalidade muito importante na articulação teórica feminista negra brasileira. De outro lado, um movimento feminista preocupado em questionar as bases do racismo, sexismos e patriarcado e demandam direitos iguais. Sobre essas agendas, Suely Carneiro diz (apud FIGUEIREDO; GOMES, 2016, p. Enegrecer o movimento feminista brasileiro tem significado, concretamente, demarcar e instituir na agenda do movimento de mulheres o peso que a questão racial tem na configuração, por exemplo, das políticas demográficas, na caracterização da questão da violência contra a mulher pela introdução do conceito de violência racial como aspecto determinante das formas de violência sofridas por metade da população feminina do país que não é branca; introduzir a discussão sobre as doenças étnicas/ raciais ou as doenças com maior incidência sobre a população negra como questões fundamentais na formulação de políticas públicas na área de saúde; instituir a crítica aos mecanismos de seleção no mercado de trabalho como a “boa aparência”, que mantém as desigualdades e os privilégios entre as mulheres brancas e negras.

No caso da Guiné-Bissau, não parece haver esta distinção, que assim como o feminismo ocidental é também localizada e sinaliza um tipo particular de opressão. No mesmo caso a questão da raça, se, por exemplo, a empregada doméstica brasileira é um elemento de análise da marginalização da mulher por ser negra, na Guiné, a raça opera de outras formas. Neste sentido, a chamada condição feminina tendeu a reproduzir lógicas e demandas de mulheres brancas e ocidentais, que expressavam suas pautas políticas e demandas de emancipação a partir de sua própria realidade. As viagens dos conceitos feministas pelo mundo e, principalmente, pelo Sul Global, levou a críticas e a pluralização dos feminismos que, inicialmente, fortaleceram-se a partir da crítica a este feminismo “original” e a forma como pressupunha que a opressão patriarcal era a única fonte de opressão da mulher.

Ao juntar a crítica feminista a partir do lugar de fala de mulheres vindas de segmentos populares, como as mulheres negras e também de povos originários, o feminismo foi obrigado a reconhecer-se múltiplo e diverso, bem como se inaugurou um campo de debate sobre a relevância de manter-se um fenômeno de múltiplas opressões. A revisão sistemática da literatura retornou 102 resultados que, após alguns filtros foram reduzidos para 19 artigos de revistas feministas brasileiras, classificadas como A1 pela Capes. Foi possível fazer um recorte temático que traduz as principais pautas do debate feminista contemporâneo que podem ser subdividas em eixos: a busca por uma elaboração teórica sobre as especificidades do movimento feminista brasileiro e o resgate de biografias de mulheres que tiveram um importante papel na história do país.

Publicações que, à primeira vista, parecem ter pouco em comum: um sobre uma experiência comparada de movimentos de mulheres e movimentos feministas em Brasil e Guiné-Bissau (FIGUEIREDO; GOMES, 2016); o outro especificamente discutindo a influência da negritude no entendimento e formas de operar o gênero (FERNANDES, 2016); o terceiro, que busca relacionar pós-colonialismo com feminismo latino-americano (ALMEIDA, 2013) e, finalmente, um relato sobre a relação entre raça e saúde reprodutiva no Brasil (DAMASCO; MAIO; MONTEIRO, 2012). Contudo, o movimento feminista, assim como outros movimentos sociais, está amplamente amparado nas visões de mundo expressas pelas teorias e a função do campo acadêmico é justamente oferecer formas de pensar sobre a realidade que se apresenta. Neste sentido, é crescente a importância dos estudos pós-coloniais e decoloniais na sua intersecção com o feminismo para, do mesmo modo que a vertente anterior, oferecer aparatos conceituais para pensar a realidade brasileira a partir dela mesma em diálogo com outras teorias e perspectivas.

Neste sentido, o eixo comum que une os textos mencionados acima é justamente a necessidade de se analisar a especificidade brasileira e, a partir daí, elaborar um aparato conceitual que dê conta desta realidade, a perspectiva comparativa com a Guiné Bissau permite perceber que muitos dos operativos conceituais que fazem sentido no Brasil como o conceito de interseccionalidade e mesmo a noção de raça como um operativo hierárquico são contextuais e não podem ser generalizados para outros países. Fernandes (2016) fala da impossibilidade de dissociar a raça e o gênero como um lugar de opressão da mulher negra, bem como Almeida (2013) retoma ambos os conceitos para trazer a colonialidade como um dispositivo também subjetivo de opressão da mulher para, então, terminarmos a análise com o emblemático artigo de Damasco, Maio e Monteiro (2013) que pesquisam as políticas de esterilização da mulher negra até a década de 1990 e a sua relação com uma forma de opressão à brasileira.

Para além da sociedade civil: reflexões sobre o campo feminismo. Cadernos Pagu, Campinas, n. p. Julho/ Dezembro, 2014. ALVES, B. Tecnicidades, identidades, alteridades: mudanças e opacidades da comunicação no novo século. Rio de Janeiro: Editora Mauad. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. A. Um caminho ainda em construção: a igualdade de oportunidades para as mulheres. Revista USP, n. p. maio 2001. In: Strey, M. et al. Gênero e cultura: questões contemporâneas, 2004, pp. XXXX CONRADO, M. RIBEIRO, A. Feminismo negro: raça, identidade e saúde reprodutiva no Brasil (1975-1993). Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. n. p. Janeiro/ Abril, 2012. Rio de Janeiro: EdUERJ,1997. FERNANDES, D. A. O gênero negro: apontamentos sobre gênero, feminismo e negritude. Revista Estudos feministas, Florianópolis, vol.

Setembro/ Dezembro. FLORES, B. N. TREVIZAN, S. D. jun. p. GARCIA, L. SCHNEIDER, L. Ártemis: por um feminismo crítico, artístico e libertário. ed. São Paulo: Atlas, 2009. GINZSBURG, 2001 HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida. Rio de janeiro, 2015. LUGONES, M. Rumo a um feminismo descolonial. n. p. setembro/ dezembro. MARCONI, M. A. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. n. p. MATOS, M. PARADIS, C. MOHANTY, C. T. Bajo los ojos de Ocidente: feminismos académicos y discursos coloniales. Descolonizando el feminismo: teorías y prácticas desde los márgenes, n. p. Famílias e patriarcado: da prescrição normativa à subversão criativa.

 Psicol. Soc.  [online], vol. n. Teoria política feminista – textos centrais. Vinhedo: Horizonte, 2013. PINTO, C. R. J. Mulher, literatura e irmandade nacional. In: HOLLANDA, H. B. de (Org. Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. x. Coimbra: Almedina, 2010. ROIZ, D. D. S. n. p. setembro/ dezembro. SCHNEIDER, L. G. p. setembro/ dezembro. SIMÕES, J. A. O Brasil é um paraíso sexual –para quem? Caderno Pagu [online], Campinas, n. jun. ZOLIN, L. O. Representações initerculturais de gênero no romance A república dos sonhos, de Nélida Piñon. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, n.

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