LUTO POR UM ENTE QUERIDO: AS CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL PARA O LUTO

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Psicologia

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Além disso, utiliza técnicas tais como reestruturação cognitiva, treino de habilidades sociais, automonitoramento e prevenção de recaídas. Foi possível concluir que a TCC é eficiente para o tratamento do luto complicado, uma vez que possibilita a alteração das crenças e emoções relacionadas aos sintomas deste transtorno. Palavras – Chave: Luto complicado. Terapia Cognitivo Comportamental. TCC para o luto. Desta forma, deve ser dedicado especial atenção e cuidado ao diagnóstico diferencial entre quadros depressivos e luto (BASSO & WAINER, 2011). Conforme os autores supracitados, existem dois tipos de luto, a saber: luto saudável (ou não complicado) e o luto complicado. O luto não complicado ocorre quando a morte é tolerável e mantém-se a habilidade de dar continuidade à vida normalmente, sem que seja necessária qualquer intervenção farmacológica ou psicológica.

Por outro lado, o luto complicado diz respeito a quando este processo não é vivenciado de uma forma saudável ou normativa, apresentando maior duração e intensidade dos sintomas do que o esperado, além de impedir o funcionamento normal da vida anterior à morte. Mas, diante desse quadro, o que o psicólogo pode fazer neste momento de rompimento de vínculo tão difícil para o indivíduo? A psicoterapia, em especial aquela orientada pela Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), pode ajudar na redução da sensação de caos internos apresentada por estes pacientes. Diante disso, a justificativa deste trabalho é a de conhecer as técnicas da TCC para o tratamento do luto complicado, no sentido de contribuir com a comunidade acadêmica ao expor o modo como uma das abordagens da Psicologia pode ajudar estes indivíduos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5. O processo de luto Para compreender os fatos relacionados à finitude da vida e ao luto, é necessário verificar as concepções de morte que perpassa as diferentes décadas e culturas existentes no mundo. Segundo Porto e Lustosa (2010), embora do ponto de vista biológico a morte seja um evento natural, do ponto de vista simbólico pode variar dependendo do significado que o indivíduo dá a ela, sendo que este varia de acordo com a cultura e período da história. Ainda nos dias atuais, é comum que compreendam a doença e a morte como um castigo, no entanto, é necessário desmistificar este conceito, uma vez que a morte é uma necessidade da vida, pois proporciona descanso após um período de sofrimento. Por outro lado, o luto mal elaborado pode culminar no desenvolvimento de depressão, ansiedade, entre outros transtornos psicológicos (GOMES, GONÇALVES, 2015).

Conforme Silva e Ferreira Alves (2012), o luto é um processo multidimensional e complexo, uma vez que sua elaboração e suas consequências ocorrem por influência da interação dos componentes psicológicos, sociais e físicos. Para Ramos (2016), a morte de um indivíduo significante pode influenciar a dinâmica do enlutado, uma vez que o indivíduo é obrigado a se reorganizar diante da morte do outro. Segundo a autora, existem algumas teorias que explicam o processo de luto. De acordo com Marinho, Marinonio e Rodrigues (2007), os sintomas do luto podem ser categorizados em níveis, quais sejam: - nível afetivo: sofrimento, dor mental, tristeza, disforia, depressão, desespero, raiva, ansiedade, medo, etc. Neste sentido, acrescenta que as mudanças significativas e repentinas que ocorrem durante a vida determinam o tipo de reestruturação das concepções que a pessoa constrói sobre o mundo, sobretudo as que persistem no tempo e que ocorrem em um curto período, tal como o luto da perda repentina de um ente querido, denominada de transição psicossocial.

Ramos (2016) ainda aponta Worden que, em 1983, afirmou que existem algumas tarefas que precisam ser cumpridas para que o luto seja concluído, quais sejam: - aceitar a realidade da perda: aceitação emocional e intelectual da perda, uma vez que é comum que o indivíduo não acredite na morte do ente querido, sobretudo se esta ocorrer de modo repentino. experienciar e processar a dor: compreende o processamento da dor e, caso isto não ocorra, o luto pode se complicar e tomar forma de um sintoma somático ou reaparecer após outra perda, denominado de luto retardado. Neste sentido, o indivíduo deve atravessar este processo de modo a vivenciar a dor de forma controlada e moderada, a fim de evitar uma sobrecarga emocional. adaptação ao ambiente: fase em que o indivíduo toma consciência de forma progressiva da perda e se adapta à ela, ao seu novo meio sem o ente perdido, considerando o tipo de relação estabelecida entre ambos.

Desta maneira, as crenças referentes a morte de uma pessoa próxima serão acionadas e processadas de acordo com o entendimento que o sujeito tem em relação a morte, isto é, sua atitude será de acordo com os padrões e recursos internos anteriormente aprendidos, que interferirão nas alterações emocionais e comportamentais apresentadas, em decorrência dos pensamentos disfuncionais. Conforme Young, Klosko e Weishaar (2008) a maior parte dos indivíduos que sofrem eventos estressantes, tal como o falecimento de um parente ou amigo querido, desenvolvem comportamentos e cognições desadaptativos de enfrentamento, quer dizer, uma estratégia apresentada diante de tal circunstância que ajuda a pessoa a enfrentar o evento traumático. Assim, na iminência de um evento desagradável, os Esquemas Iniciais Disfuncionais (EIDs) latentes, definido por um conjunto de crenças globais, com regras e inferências sobre o mundo, podem ser estimulados, alterando o humor e o comportamento do indivíduo.

Segundo os autores supracitados, o indivíduo apresenta determinadas respostas diante à ameaça e nos Esquemas Iniciais Disfuncionais as respostas são nomeadas da seguinte maneira: - hipercompensação: quando o indivíduo luta em oposição à estrutura cognitiva de crenças disfuncionais pensando, agindo e sentindo como se o contrário da cognição fosse legítimo. evitação: o sujeito organiza sua vida de modo que a estrutura cognitiva não seja ativada, bloqueando pensamentos e imagens referentes ao ente perdido com o objetivo de evitar os sentimentos despertados pelas crenças. Ressaltam a importância de o terapeuta utilizar de forma inteligente as informações que possui, uma vez que fornecer informações insuficientes e desnecessárias ou negar dados que lhe são solicitados, podem conduzir o indivíduo ao desenvolvimento de maiores distorções cognitivas.

Cerentini, Duarte e Pergher (2011) relatam que cada indivíduo experimentará um conjunto de respostas psicológicas, fisiológicas e comportamentais frente a perda de um ente querido. Precisará aprender a lidar com a falta da pessoa em situações as quais partilhavam dos momentos,e isto, para muitas pessoas, é um processo extremamente difícil e doloroso. Assim, existem vários fatores que influenciam esta experiência e determinam o resultado do luto. Neste sentido, uma das metas da fase de avaliação da TCC no tratamento do luto é compreender a influência desses fatores em cada indivíduo. Nível de desesperança diante da perda: é a etapa onde o terapeuta investiga o nível de desesperança e a menos valia, onde se fazem presentes a baixa autoestima, baixo autoconceito, o esquema disfuncional e sua tríade cognitiva.

Além disso, é necessário avaliar o sentimento de culpa do indivíduo, tendo em vista que nos casos de luto por um filho perdido é comum os pais apresentarem sentimento de impotência diante do evento, o que pode leva-los a questionar a qualidade de seu amor, como se tivessem fracassado, condenando-os a sobreviverem ao próprio filho perdido. O enlutado perde a funcionalidade nos aspectos importantes de sua vida? Se sim, avaliar quais os prejuízos decorrentes disto: é comum que o enlutado apresente alterações em suas relações familiares e sociais devido ao transtorno que este contato lhe causa. Assim, cabe ao terapeuta avaliar a existência de um suporte familiar e social que possam assegurar ajuda tanto nas condições físicas do indivíduo como na reorganização da rotina cotidiana.

Segundo as autoras, pode ser que o psicólogo perceba o entorno social do indivíduo como sendo positivo, ao passo que essa pessoa não perceba a situação da mesma maneira. São questões comumente levantadas pelo terapeuta: “Quais são os recursos disponíveis que podem nos ajudar neste momento?”, “Quais empecilhos podemos encontrar?” e “Quais as outras formas de lidar com esta situação?”. Automonitoramento: tem como escopo ampliar a capacidade de metacognição, com o escopo de o indivíduo constatar a forma como pensa, sente e se comporta devido às suas crenças. O terapeuta deve recomendar que, frente a um evento ou situação difícil, o enlutado verifique o que está pensando, sentindo e fazendo. Conforme os autores esta estratégia pode ser exemplificada em “Verificar o próprio pensamento: "A partir do momento que fulano faleceu, meus amigos deixaram de me procurar [.

Como eu me sentiria se isto fosse verdade?". Reestruturação cognitiva: indivíduo e psicólogo identificam pensamentos catastróficos e irracionais e examinam as evidencias favoráveis e desfavoráveis aos pensamentos distorcidos, com o objetivo de substituí-los por pensamentos adaptativos. Para esta estratégia os autores sugerem o modelo A-B-C que consiste em: A= situação, B= pensamento e C= consequência. Este modelo auxilia o indivíduo a verificar a situação ameaçadora e o pensamento que ocorre imediatamente após. Desta maneira, o indivíduo poderá questionar: "O que ocorreu para que eu me sentisse assim?"; "Quais pensamentos passaram pela minha cabeça?". Após identificar o pensamento o indivíduo deverá analisar a veracidade deste pensamento: “Quais as evidências que comprovam este pensamento?”.

Descoberta Guiada: técnica que visa localizar significados mais enraizados com base nas informações oferecidas pelo indivíduo. Assim, o terapeuta deverá descobrir o que o indivíduo atribui, pensa e entende diante de determinada situação para evocar suas crenças centrais. Dessensibilização Sistemática: terapeuta e indivíduo estabelecem quais as situações mais ansiogênicas ao indivíduo e, sucessivamente, do menor ao maior evento ansiogênico, para realizar a dessensibilização. Pesquisas em amostras específicas indicam que a TCC é uma das abordagens psicológicas de referência no tratamento do luto. Para corroborar com isto, vale mencionar o estudo de caso realizado por Silva e Nardi (2011), sobre o tratamento de uma indivíduo em luto pela morte súbita do cônjuge, embasado pela TCC.

Os resultados obtidos foram satisfatórios, uma vez que a paciente apresentou redução de todos os sintomas mensurados nos instrumentos utilizados. Houve diminuição nos sintomas de depressão que passou de grave (56) para moderada (32), na desesperança que de grave (19) passou para leve (6) e ansiedade, também grave (47) para moderada (21) estando muito próxima a leve (pontos de corte: 19-20). Além disso, apresentou melhoras no estresse psíquico que de 95% passou a 50%, distúrbios do sono (95% para 45%), desejo de morte (95% para 20%) e dúvidas sobre seu próprio desempenho (90% para 40%). Além do mais, no final da psicoterapia a paciente já se encontrava de volta ao trabalho e tinha retomado as suas relações sociais. Para corroborar com isso, Zwielewski e Santana (2016) realizaram um estudo de caso de uma paciente enlutada pela morte de um filho.

Silva e Nardi (2010) realizaram outro estudo com uma paciente de 28 anos, casada, mãe de dois filhos e enlutada pela perda de um desses. A paciente procurou pela psicoterapia seis semanas após o falecimento do filho mais velho em um acidente. Relatou que apresentava bom relacionamento com seu cônjuge antes da morte, no entanto, passaram a brigar constantemente, pois, segundo ela, o marido não sente a perda com a mesma intensidade. Além disso, perdeu 8 quilos em um mês, apresentava choro frequente, acesso de raiva contra o marido e contra si mesma por não terem conseguido impedir o acontecimento, além de ter rompido suas atividades laborais, sociais e passar cerca de nove horas no quarto do filho falecido se lamentando pelo ocorrido. A psicoterapia foi composta por doze sessões, as quais contaram com o trabalho do terapeuta envolvido em alterações cognitivas, emocionais, aprendizagem de novas habilidades, treinamento para manejo dos comportamentos disfuncionais e desenvolvimento de estratégias para lidar com o sofrimento.

Segundo Minayo (2001), este tipo de abordagem atenta-se à aspectos que estão baseados nas relações sociais e que não podem ser quantificados. Assim, a abordagem qualitativa viabiliza ao pesquisador um aprofundamento nos processos e motivos do tema estudado, uma vez que não podem ser reduzidos à variáveis. Para a elaboração deste trabalho serão consultados artigos publicados em bibliotecas eletrônicas e periódicos científicos, tais como Scielo e Pepsic, além de livros, no idioma português. Os critérios estabelecidos para selecionar as referências se apoiarão em cinco fatores, quais sejam: a consistência, que está relacionada à coerência com que o autor expõe o conteúdo, além de analisar se as referências estão devidamente expostas. O segundo fator a ser levado em consideração será o período de pesquisa que terá como objetivo estabelecer um limite nas datas de publicação de modo a evitar o comprometimento do trabalho com fontes obsoletas.

Assim, o luto complicado ocorre quando a pessoa tem os sintomas do luto normal em tal intensidade que interfere em sua rotina, o que viabiliza um repertório comportamental não adaptativo e acaba permanecendo no processo de luto por tempo indefinido, ocasionando sofrimento intenso, tanto para o enlutado quanto para seus familiares. Com este estudo foi possível compreender que a TCC é uma abordagem apropriada para o tratamento do luto complicado. Este modelo de terapia entende que as crenças de um indivíduo direcionam seus pensamentos, suas emoções e suas ações. Diante disso, seu objetivo é modificar estas crenças para que o paciente altere seus pensamentos e comportamentos, promovendo alterações em sua vida, além de educar o paciente sobre seu problema, para que ele possa lidar melhor com seus sintomas e, consequentemente, ter melhor qualidade de vida.

Para tanto, o profissional deverá utilizar técnicas apropriadas, tais como automonitoramento, resolução de problemas, treino de habilidades sociais, estratégia de coping, prevenção de recaída e reestruturação cognitiva. ter. cogn.  Rio de Janeiro, v.  n.  p. L, PERGHER, G. K. Terapia Cognitivo Comportamental no Luto. In: Novas Temáticas em Terapia Cognitiva. Porto Alegre: Sinopsys, 2011, v. LIMA, T. C. S. de; MIOTO, R. C. C. A. O processo de luto na vida adulta decorrente de morte de um ente querido. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Psicologia - Universidade Estácio de Sá, 2007, 35 fls. scielo. br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642019000100217&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 14 Mar. MINAYO, M. Psicologia Hospitalar e Cuidados Paliativos.  Rev. SBPH,  Rio de Janeiro ,  v.

 n.  p. O Portal dos Psicólogos. Psicologia PT. ISSN 1646-6977. Disponível em: https://www. psicologia.  Revista Psicologia e Saúde, [S. l. jul. ISSN 2177-093X. Disponível em: <http://www. Dissertação (Mestrado). Instituto Superior de Ciências da Saúde-Norte. Programa Psicologia Clínica e da Saúde. SILVA, M. D. E. Terapia cognitivo-comportamental para luto pela morte súbita de cônjuge.  Rev. psiquiatr. clín. Detalhes de protocolo de luto e a terapia cognitivo-comportamental.  Rev. bras. ter. cogn. KLOSKO, J. WEISHAAR, M. Terapia do esquema. Guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed.

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