O Senso Comum como Verdade em contínua Transformação

Tipo de documento:Projeto de Pesquisa

Área de estudo:Filosofia

Documento 1

n. p. O artigo em pauta, útil e bem redigido, reflete sobre como o senso comum, o pensamento ordinário, é transformado e amplia sua visão de mundo impactado pelo avanço do conhecimento científico, mas apenas sob a condição de esse conhecimento se permitir ser entendido por cientistas e leigos. Novos saberes costumam desafiar o pensamento corrente e pôr em dúvida sua legitimidade. Há resistências, naturalmente, mas a continuidade de seu estudo, culminando em seu entendimento e aceitação pelos meios acadêmicos e posterior disseminação ao grande público, termina por substituir o senso comum vigente por um renovado. Mas também reconhece o caráter ambíguo do termo. E prossegue: alguns o veem como equivalente à “opinião comum”, deixando transparecer um certo viés negativo, já que “se relaciona com os usos de uma cultura ou de uma civilização, impregnado de seu imaginário e de ideias convencionais ou preconceituosas”, em oposição “à razão crítica e ao espírito científico” (p.

Para outros, equivale ao “bom senso”, julgamento baseado na razão (portanto de caráter positivo), “um fundo de noções e de aptidões necessárias ao exercício da capacidade de julgar partilhado por todos os homens, inscrito por toda a eternidade na natureza humana, que constituiria a base inalterável de todo pensamento racional e, portanto, de toda ciência” (p. Analisando expressões atuais como “o senso comum o diz, rapaz” (aqui uma melhor tradução para o Brasil seria “o bom senso o diz, rapaz”) e “isso não tem senso comum” (melhor tradução para o Brasil, “isso não faz sentido”, sendo a expressão “fazer sentido” um apelo ao pensamento racional e equivalendo a “ter lógica”) o artigo afirma que tais sentenças “sugerem uma aceitação implícita da noção de ‘senso comum’ pelo … senso comum”, porque “valoriza seu lado racional e sua legitimidade ‘natural’ como instância de julgamento”.

Mas existe a suspeita de haver ambiguidade contínua, pois “mesmo ao enfatizar a referência à razão, elas implicam a ideia de um julgamento médio adaptado à vida prática e social, que se deve tanto ao hábito quanto à opinião e às convenções”, daí tais expressões indicarem “que a razão que deve guiar o julgamento é a de que dispomos, nutrida dos conhecimentos admitidos”. “Mas”, completa, “esse novo senso comum diferia do antigo pelo fato de fazer sua uma visão crítica de noções que anteriormente foram recebidas sem análise: admitia uma crítica das ‘noções comuns’ como as de espaço e de tempo” (p. O texto prossegue concluindo, do exemplo anterior, que “o caráter ‘natural’ dos novos conceitos” é aceito “tanto pelos homens de ciência, especialistas na área, que podem acompanhar as explicações de equações ou de experiências reais” quanto pelo grande público “que não conhece os detalhes teóricos ou técnicos”.

“Pelo menos este último”, pondera, pode “integrar na sua própria visão do mundo, em sua cultura pessoal, as lições tiradas da relação entre os conceitos e os fenômenos e da significação da mediação teórica numa representação científica” (p. Como reforço cita “os dois longos diálogos” de Galileu Galilei, para quem “a argumentação, racional e com relação aos fenômenos” permitia a “toda pessoa dotada de bom senso (e motivada por vontade sincera)” compreender “a maior verdade do sistema do mundo de Copérnico em detrimento do de Ptolomeu” ou “as leis elementares da mecânica e da queda dos corpos”. E destaca: “Toda pessoa dotada de bom senso (e de boa vontade): isto é, dispondo de senso comum” (p.

Argumenta o autor que, enquanto na física clássica “Tanto a teoria quanto a experiência” permitem “um ‘acesso direto’ aos objetos e aos fenômenos considerados”, realizado através de grandezas (espaço, tempo, massa, energia etc. finitas trabalhadas por ferramentas matemáticas como equações diferenciais e técnicas de integração, na física quântica são necessárias “regras de correspondência” que “põem em relação as grandezas quânticas (teóricas) e as grandezas clássicas observadas”, permitindo analisar indiretamente aquelas através dos efeitos (perfeitamente mensuráveis) causados nestas. Assim, continua, “o problema de interpretação” na física quântica “volta a ser essencialmente o da significação da diferença e da relação por um lado, entre os estados e grandezas teóricos” (dados pela grandeza quântica função de estado) “e, por outro, os estados e grandezas observados” (dados pelas grandezas quânticas chamadas de variáveis dinâmicas) “já que todas as propriedades especificamente quânticas podem ser consideradas como consequências da aplicação do princípio de superposição” (p.

Ainda assim, lamenta, “a teoria quântica é frequentemente considerada como um ‘formalismo matemático’, cujas grandezas (funções de estado, variáveis dinâmicas, operadores) não teriam uma contrapartida física direta”. A função de estado, explica, “é uma grandeza com propriedades matemáticas definidas com precisão, cujo quadrado da amplitude fornece as probabilidades das configurações de estado observadas, ou observáveis, correspondendo aos resultados estatísticos das medidas”. Na fase de aprendizado parecia necessário observar o fenômeno (por instrumentos) para compreendê-lo. Agora, “foi preciso desfazer-se das sujeições do senso comum anterior, para aceder a uma racionalidade mais imediata“ (p. O artigo termina refletindo sobre os problemas éticos da relação entre conhecimento científico e senso comum, da aplicação desses conhecimentos “e seus efeitos sobre o mundo, sobre o homem”.

Também se preocupa “com o processo de comunicação, isto é, com a possibilidade de compartilhar o conhecimento em termos inteligíveis com os não-especialistas através do senso comum submetido à crítica”. E alerta: “Sem uma compreensão reflexiva que possa garantir que a ciência tenha consciência dela mesma nas suas diversas dimensões, corre-se o risco de asfixiá-la, por mais rica que seja” (p.

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