Sujeito neoliberal

Tipo de documento:Projeto

Área de estudo:Ciências Políticas

Documento 1

PROCESSO HISTÓRICO A condição neoliberal do homem provém de uma mutação de discurso decorrente da intersecção entre ciência e capitalismo. O sujeito ocidental moderno era cooptado por regimes normativos heterogêneos e conflituosos e vivia em três espaços distintos: “o dos serviços e das crenças de uma sociedade ainda ruralizada e cristianizada; o dos Estados-nações e da comunidade política; e o do mercado monetário do trabalho e da produção” (DARDOT & LAVAL, 2016:322-323). A mutação do discurso sobre o sujeito decorreu do surgimento e desenvolvimento das democracias políticas e do capitalismo, onde o segundo se sobrepôs ao primeiro. Sendo assim, o sujeito liberal, antecedendo o futuro neoliberal, acreditava que desfrutava de suas “faculdades naturais, do livre exercício de sua razão e vontade, podia proclamar ao mundo sua autonomia irredutível” (DARDOT & LAVAL, 2016:324).

No entanto, era apenas uma peça da engrenagem. Para isso, deve-se reconhecer nele a parte irredutível do desejo que o constitui. ” (DARDOT & LAVAL, 2016:327). O alvo do poder é a vontade e a motivação: da realização pessoal, do projeto, da animação do funcionário - ou, como colocam os autores, as aspas em “colaboradores” -, de maneira geral, do desejo. Desta forma, o efeito que este poder procura é o de fazer o sujeito trabalhar para a empresa como se trabalhasse para si próprio, eliminando a sensação de alienação e o distanciamento entre instituição e indivíduo. Transformar o sujeito em empresa, gestor de si mesmo, vai além da cultura empresarial vigente: o sujeito passa a agir como uma “entidade em competição”, buscando maximizar resultados, assumindo responsabilidade por fracassos e correndo riscos.

A empresa - real - torna-se uma instituição composta de pequenas instituições - as empresas de si mesmo. O indivíduo vê a si mesmo não como um funcionário, mas como uma empresa que oferece o serviço. Este comportamento atinge o pico na abolição da relação salarial. Um exemplo contemporâneo de formação de discursos que operam sobre o sujeito neoliberal é a chamada “pejotização”, o ato de contratar um funcionário sob a forma de Micro Empreendedor Individual, uma forma de trabalho com intervenção estatal minimizada onde ocorrem menos impostos e menos responsabilidades por parte da empresa, sendo o funcionário obrigado a pagar taxas sobre sua empresa - si mesmo - e abdicando de todo direito trabalhista conquistado pela luta de classes.

O trabalho torna-se produto. A ética neoliberal além de confundir o sucesso profissional com pessoal, busca controles e avaliações de personalidade, caráter, trejeitos de fala, movimentação e até, motivações inconscientes. As gestões modernas assim agem na tentativa de “aliciar” as subjetividades individuais. Estar em um estado de espírito adequado passa a ser uma 4 exigência da instituição empresa que por meio de seu poder, visa controlar não apenas a produtividade, mas também a subjetividade de cada um de seus funcionários. As técnicas do que Dardot & Laval chamam de “governamentalidade” são aplicadas sobretudo no meio profissional. As decisivas relações empresariais dependem da atitude aberta e positiva de seus atores e estão no âmbito da psicologia. A busca em acabar com a alienação do trabalho acaba por gerar uma alienação geral: os problemas econômicos são agora problemas organizacionais, mesmo na esfera pessoal que, por sua vez, são problemas psicológicos e psíquicos decorrentes de uma falta de domínio de si e de relações interpessoais.

A origem da eficácia é o indivíduo, não há fonte externa. Assim, a coerção econômica e financeira torna-se autocoerção, autoresponsabilização, autoculpabilização. O capital humano é o valor do sujeito neoliberal. Capital este que deve ser acumulado por meio de escolhas e cálculos individuais, aprendizado contínuo, desenvolvimento pessoal. DARDOT & LAVAL, 2016:355) 3. EFEITOS Perpassado pelos discursos que o constroem, o sujeito neoliberal também sofre com os efeitos da nova governamentalidade que o produz. Estresse e assédio, casos de suicídio são riscos psicossociais perigosos. O sujeito empresarial se percebe como desprovido de autonomia real, em risco constante, com a personalidade volátil e quando vincula seu sucesso ao sucesso empresarial, torna-se frágil, criando uma situação delicada, pois uma vez que “decide” participar deste processo, não pode contestá-lo.

O sujeito desmoralizado, então, inserido no culto ao desempenho neoliberal, desenvolve depressão ao perceber sua insuficiência.

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