A obra de Cláudio Manuel da Costa da formação da literatura brasileira à inconfidência mineira

Tipo de documento:Redação

Área de estudo:Física

Documento 1

A atualidade da obra 1. A obra de Cláudio Manuel da Costa da formação da literatura brasileira à inconfidência mineira Tratar da obra de Cláudio Manuel da Costa implica tratar de questões que extravasam os limites da poesia e do fazer poético, tendo isto ficado claro para o redator deste trabalho ao longo da leitura de várias obras da fortuna crítica dedicada ao poeta. Dentre essas obras pesquisadas para a redação do presente texto, uma chama a atenção pela sua envergadura, que é a “Formação da Literatura Brasileira” de Antonio Candido. No primeiro volume dessa obra, a grosso modo, o ensaísta usa um terço de sua extensão tratando de questões que mantém relação direta ou indireta com a obra de Cláudio Manuel da costa.

São muitos os fatores que obrigado Candido a se delongar nas conjecturas a respeito do autor de “Vila Rica”, isso principalmente se deve, como é mais ou menos fácil de constatar, pelo fato do poeta em questão ser um dos pioneiros da literatura propriamente brasileira. Ainda de acordo com Candido (2000, p. sabe-se que o meio literário brasileiro era pobre e pouco estimulante, já que a cultura, de maneira geral, era um subproduto da vida religiosa e das classes dirigentes. O crítico atribui a produção escrita dessa época o título de subliteratura, porque além de ser esteticamente inconsistente, inferior, é quase que integralmente feita e consumida por um grupo seleto de pessoas invariavelmente da elite ou ligadas à ela. No momento de formação de Cláudio como poeta, em Coimbra, o jovem estudante teria aprendido a vertente estética então dominante nas letras, tanto na metrópole quanto na colônia: o Cultismo, mas Candido deixa claro, não se trata da forma estética em seu apogeu, como o praticara Gôngora, por exemplo, era antes um estertor dessa corrente estética.

O que sucedera com Cláudio, e que explica sua duplicidade poética, se deve muito a particularidade de seu tempo histórico, o que largamente afetou sua formação como artista. é enfático quando manifesta a importância de Cláudio, não apenas como poeta, mas como chefe da “Escola de Minas”, e também lhe atribui o título de maior animador cultural do Brasil em sua época. Através do sumário apresentado acima vê-se que a expressão da obra de Cláudio Manuel da Costa transborda os limites da poesia, já que influencia o caminhar da história, além de ser pioneiro na literatura propriamente brasileira. Lopes (1997, p. atribui ao poeta papel central no que chama de “projeto do colonizado”. O que Cláudio, Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Basílio e outros fizeram foi produzir na literatura matéria análoga ao que se vinha sendo elaborado no plano político, que acabou passando para as páginas da história como Inconfidência Mineira.

indica contudo que essa aparente oposição de valores entre o local e o europeu cumpre um propósito menos preconceituoso, e inteiramente de acordo com sua organicidade poética. Lopes afirma que a convencionalização do Tejo ou do Mondego como topus poéticos só aconteceu por um esforço de poetas como Camões, Sá de Miranda e outros, e do ponto de vista setecentista de Cláudio esses rios eram tão míticos quanto o campo grego celebrado por Teócrito. Dessa forma a inclusão do Ribeirão do Carmo no ​soneto II deve ser entendida como tentativa análoga de elevar o espaço real de Minas à mesma condição mítica dos outros topoi, exatamente como fizera Camões no quinhentos quando transformara o Tejo em símbolo da mitologia portuguesa.

Contudo Cidade2 acerta ao afirmar as qualidade musicais da poesia de Cláudio, já que esse é o recurso técnico que mais chama a atenção na obra do poeta mineiro. O poeta distribui as vogais cuidadosamente, faz aliterações calculadas, além de fazer uso do decassílabo heróico empregando sílabas semifortes mais ao começo dos versos. Há casos ainda em que o poeta marca rítimo com as aliterações, demonstração de virtuosismo, o trecho a seguir a aliteração é marcada como nas consoantes ​b, s, d e ​r. “Que é fazer mais soberba a formosura Adorar o rigor da resistência” Há ainda casos de quatro aliterações num mesmo verso: “​Todos da ​terra os fundamen​tos ​tremem” Essa musicalidade, de certo modo, pode ser vista como uma maneira de impregnar o verso com exuberância velada, já que talvez não tivesse lugar para expressar o sublime dentro de um sistema poético tão restrito esteticamente como o arcadismo.

É como se o poeta transpusesse o sublime dos negaceios retóricos, das metáforas e da agudeza para a musicalidade, qualidade que, embora manifesta, não interfere na linguagem, que em aparência permanece simples, como manda a preceptiva neo-quinhentista. Outro sinal do convívio da estética barroca e do arcadismo se revela no soneto II, por exemplo. O poeta celebra o rio de sua cidade, e com isso espera que ele se imortalize, ou seja entre para o espaço mítico, porém na segunda estrofe o poeta recorre, para definir o pátrio rio, a uma definição por oposição, que presume que o rio brasileiro é diferente dos rios europeus, que tem álamos, e ninfas às suas margens. Nesse poema épico Cláudio teria tentado modificar suas tendências formais, de modo a compor um poema com mais características árcades.

Porém, como diz Candido, a forte influência cultista impediu que o poeta adotasse o verso branco. O poeta teria tentado imitar a métrica alexandrina paralela, boa no francês, mas inviável em português, o que acabou dando ar monótono e frouxo ao poema. Apesar das qualidades negativas de ​Vila Rica, o poema celebra, como já foi dito aqui, o triunfo da justiça, tema tratado dentro dos moldes racionais do arcadismo. Esse poema é interessante pois demonstra como Cláudio não conseguiu adotar atitudes modernas, de acordo com o que era de bom gosto para os neo-quinhentistas, além de ter sido motivado por Basílio da Gama, segundo Candido (2000, p. São Paulo, 1997, pp. Os estudos literários sofrem muitos reveses ao longo do tempo, embora tautológico é bom que seja dito, já que nosso campo pode e deve fazer justiça às obras, e as eventuais injustiças, quando cometidas, se voltam contra quem as ajuizou.

Não foram poucos os críticos (Ribeiro, Veríssimo, até mesmo Cândido) que trataram da obra claudiana sublinhando sua inferioridade, porém o que mais chama a atenção é o pequeno volume de obras de referência dedicadas ao poeta mineiro. Nada justifica tão parca bibliografia sobre quem, em tese, fundou a literatura verdadeiramente brasileira. Por isso os estudos acerca da obra de Cláudio são ainda muito importantes, como se pode observar nas teses que hoje em dia se tornam públicas, e que dão até outras interpretações principalmente a obra épica do poeta. O que em si mesmo encerra um certo complexo de inferioridade, e por outro lado um grande preconceito cultural, para não dizer mais. Silvio Romero afirma que “todo brasileiro é mestiço, quando não no físico, na cultura, pelo menos”.

Quando considerada por esse ângulo, a obra de Cláudio ganha, até dentro do sistema formativo da literatura brasileira estabelecido por Antonio Candido, um novo sentido, já que, não apenas a concebemos como literatura empenhada, ou seja, arte que queria ser brasileira, mas sobretudo por seu sincretismo cultural, traço estético/cultural/antropológico tipicamente brasileiro, que foi reforçado durante o modernismo, e depois. Sendo vista por esse viés a obra de Cláudio se estabelece, não apenas como alta cultura, mas como uma manifestação literária de um fenômeno brasileiro por excelência, que àquela altura do século XVIII talvez não tivesse tomada dimensão na consciência do poeta, mas que certamente já era algo pressentido por ele. Bibliografia AMARAL, Aracy.

In. voc. ​Cláudio Manuel da Costa. COSTA, Cláudio Manoel da. ​Obras poéticas. da. ​Obras poéticas. Rio de Janeiro: Garnier, 1903. VERÍSSIMO, José. ​História da literatura brasileira.

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