Sustentabilidade: um processo histórico da relação entre a sociedade e meio ambiente

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Administração

Documento 1

Trata-se de uma pesquisa documental e bibliográfica. Palavras-chaves: Sustentabilidade. Desenvolvimento Sustentável. Gestão de Pessoas. Desenvolvimento de Competências A ruptura dos valores e crenças que sustentaram a sociedade e a economia mundial desde a segunda metade do século XX até os dias atuais, mostra que a velocidade das mudanças tem sido a principal característica do mundo contemporâneo ao mesmo tempo em que sinaliza a nossa incapacidade de compreender a realidade em sua totalidade (TEIXEIRA, 2005). Todavia, percebe-se que dentro das organizações cada uma dessas três dimensões gera diferentes opiniões e enfoque sobre o modo de lidar com os desafios da atualidade, refletido, com isso, no grau de importância que se atribui a cada uma delas nos diferentes níveis hierárquicos da companhia.

Se por um lado este conflito de idéias e percepções dentro das organizações se configura em um importante recurso para a melhoria da competitividade empresarial – uma vez que impulsionam as empresas para novos desafios e novas descobertas – por outro lado, essas divergências muitas vezes significam que a cultura e os valores não estão sendo compartilhados por todos e isto se constitui num importante elemento a ser trabalhado pelos gestores de pessoas nas organizações. Além disso, o caráter cada vez mais intelectualizado do trabalho implica na mobilização de domínios cognitivos mais complexos que vão além da dimensão técnica e que considerem a competência humana em sua dimensão ética (DELUIZ, 2007). Contraditoriamente a isso, o que se presencia em grande parte das organizações é a promoção de práticas de educação corporativa direcionadas apenas a favorecer aprendizagens de ordem incremental ou adaptativa, buscando resultados de curto prazo e domínio de tarefas rotineiras (GARRIDO, 2006), sem estimular uma visão ampliada e ética, comprometida com a busca da justiça social, a equalização das contradições sociais ou ainda, com a associação do tema sustentabilidade como uma estratégia de inovação empresarial.

Para agir diferente é preciso ver diferente. Mas, “ao contrário do que ocorreu na origem do ambientalismo, o objeto de escolha do pensamento ecológico atualmente não se situa mais entre desenvolvimento ou proteção do meio ambiente [. mas sim, entre] que tipo de desenvolvimento que se deseja implementar” (LAYRARGUES, 1997, p. No relatorio “Nosso Futuro Comum” a ONU define o conceito de desenvolvimento sustentável como a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana, no qual se aceita o preenchimento das necessidades individuais e coletivas ao mesmo tempo em que se preserva a biodiversidade e os ecossistemas naturais. Para DELUIZ e NOVICKI (2004), a análise desta concepção revela em seu discurso a proposta de um “ambientalismo de livre mercado” e de “alocação eficiente dos recursos planetários”, o que trará sérias conseqüências, já que adota como princípio norteador o crescimento econômico combinado com a eficiência na lógica do mercado.

LAYRARGUES (1997) ao discutir o uso indiscriminado do termo Desenvolvimento Sustentável chama atenção para a obra “Etapas do Desenvolvimento Econômico” de Rostow que conceitua desenvolvimento a partir da idéia do darwinismo social, ou seja, uma sucessão evolutiva de estágios onde as sociedades humanas evoluiriam de formas inferiores para superiores. SICHE (2007) destaca que da busca de se definir padrões sustentáveis para o desenvolvimento durante a conferência mundial sobre o meio ambiente, a Rio 92, surgiram às propostas de indicadores para avaliar a sustentabilidade. Duas importantes contribuições no uso de indicadores de sustentabilidade: a Pegada Ecológica (Ecological Footprint) e o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI - Environmental Sustainability Index). O primeiro indicador objetiva calcular a área de terra necessária para a produção e a manutenção de bens e serviços consumidos por uma determinada comunidade, enquanto o segundo mede a capacidade dos países de proteger o ambiente; o segundo se propõe a identificar a performance financeira das empresas líderes em sustentabilidade numa visão de longo prazo e, portanto, capazes de considerar aspectos econômicos, ambientais e sociais na análise de riscos e oportunidades.

COSTA (2005), buscando compreender as implicações do modelo de gestão de negócios baseados na Responsabilidade Social Empresarial aponta que na década de 1990 houve um significativo aumento no número de empresas em busca de uma melhoria de imagem, através de investimentos em ações sociais com recursos privados, e que, a despeito do seu significado político ou das reais mudanças produzidas, esta solidariedade empresarial tem se mostrado como uma nova fórmula organizacional para a produção do bem comum, apesar das críticas que os opositores a esse modelo recorrem como o papel essencial das empresas. Sobre este tema a autora diz que “de acordo com a fórmula clássica, a função do setor privado é realizar sua vocação natural: gerar dividendos para investidores e acionistas, contribuir para o crescimento econômico, criar empregos e fornecer bens e serviços ao mercado.

A revisão da literatura permitiu identificar que duas matrizes no campo do desenvolvimento sustentável concentram os debates dessa área: discurso originário dos trabalhos promovidos pela Conferencia de Estocolmo (1972) que enfatiza a dimensão econômica e tecnológica, entende a economia a partir da lógica de mercado e defende a possibilidade de articular crescimento econômico com preservação ambiental e deixa em segundo plano, considerações éticas e políticas, assim como questões relacionadas à equidade e justiça social. A segunda matriz tem origem nos trabalhos sobre Ecodesenvolvimento (1973) desenvolvidos por Ignácio Saches como forma de se aproximar dos princípios da democracia participativa onde a sociedade civil organizada tem um papel predominante nessa mudança e usa a expressão “sociedade sustentável” para salientar suas idéias.

Esta matriz fundamenta-se na crítica à civilização capitalista, enfatiza a equidade social e faz oposição ao reducionismo econômico e tecnológico defendendo que não há sustentabilidade se não houver a incorporação das desigualdades sociais e políticas e de valores éticos de respeito à vida e às diferenças culturais. LAYRARGUES (1997) denuncia o uso indiscriminado dos termos Desenvolvimento Sustentável e Ecodesenvolvimento, muitas vezes definidos como sinônimo, e esclarece que apesar de algumas semelhanças, há grandes diferenças entre ambos. Uma delas, por exemplo, é a visão relacionada às questões de consumo: enquanto que o Ecodesenvolvimento defende um “nivelamento médio entre o Primeiro e Terceiro Mundo”, o Desenvolvimento Sustentável propõe “estabelecer um piso de consumo, omitindo o peso da responsabilidade da poluição da riqueza”.

Não se pode dizer que este documento preliminar da ISO CD26000 encerra o debate acerca desses termos, mas sim ele busca contemporizar diferenças e estabelecer limites do debate entre o público e o privado ao afirmar que “a sustentabilidade de uma organização pode ou não ser compatível com a sustentabilidade da sociedade no conjunto. ” Todavia, há de se questionar se no campo do compromisso com o futuro uma organização pode se isentar dessas responsabilidades. O contexto histórico brasileiro da sustentabilidade A redemocratização do Brasil a partir da década de 1980 estabeleceu regras do jogo para a governança nacional condicionada a critérios - ainda que superficiais - de sustentabilidade. Uma série de leis ambientais criadas nesse período nos permite reconhecer a força relativa de diferentes stakeholders no sentido de implementar um processo de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no país (ALEXANDRE e KRISCHKE, 2006).

A Política Nacional do Meio Ambiente (1981), p. ANTUNES (2002), ao analisar os mitos e verdades acerca do Capital Intelectual - conjunto de benefícios intangíveis que agregam valor às organizações como, por exemplo, o conhecimento e as tecnologias disponíveis e empregadas para atuação no mercado globalizado - observa que a transição da Sociedade Industrial para a Sociedade do Conhecimento trouxe novas preocupações para as organizações, em especial, à gestão do conhecimento, pois provavelmente três quartos do valor agregado a um produto derivam do conhecimento embutido nele. Dessa forma, ao reconhecer que o conhecimento é um recurso singular e essencial para as organizações, as empresas deveriam estar mais preocupadas com as condições de trabalho oferecidas aos seus recursos humanos, uma vez que estes constituem o bem mais precioso.

Todavia, o que se observa é que os diversos processos de reestruturação produtiva, principalmente ocorrida nos anos de 1990, levaram as organizações a agirem de forma desleal, até mesmo desiludido os trabalhadores. Em geral a cultura empresarial não está compromissada com o investimento no real desenvolvimento de seus funcionários devido à imprevisibilidade gerada pelo ambiente competitivo. QUELHAS (2006) destaca que as lideranças nas organizações nem sempre se dão conta de suas responsabilidades em relação à carreira das pessoas ou aos efeitos que as empresas causam na sociedade. Isso favoreceu a precarização do trabalho e a necessidade de formação de indivíduos multiqualificados para o exercício de funções mais complexas, abstratas e intelectualizadas, requerendo do trabalhador a mobilização de domínios cognitivos mais complexos que vão além da dimensão técnica.

A concepção de competência, afirma DELUIZ (2004), não pode ser reduzida à simples execução de tarefas na dimensão técnico-instrumental, mas sim, ampliada para a dimensão ética da competência humana do cuidado e do assumir responsabilidades frente às situações de trabalho complexas. Os dilemas da atualidade enfrentados pelas organizações evidenciam a importância das políticas desenvolvimento de pessoas nas empresas. Do lado econômico, a introdução de novas tecnologias aplicadas à produção e novos modelos de gestão requer pessoal cada vez mais qualificado para lidar com as inovações. Do lado social, a necessidade de mudanças em comportamentos, valores e cultura, requer um exercício constante dos gestores em busca do alinhamento de objetivos individuais e organizacionais. Os objetivos da organização são atingidos na medida em que seus gestores propiciam condições para que estes satisfaçam suas necessidades individuais.

E é nessa interface – trabalhador-organização – que se identificam claramente os traços do indivíduo e do profissional adaptando-se, a cada momento, a uma nova realidade. Na década de 1950 a Teoria Comportamental procurou explicar o comportamento humano nas organizações e serviu de contraponto às teorias Clássica e das Relações Humanas. Essa teoria procurou fundamentar o processo pelo qual um conjunto de razões ou motivos explica, induz, incentiva ou provoca algum tipo de ação ou comportamento humano. Os fundamentos dessa teoria logo ganharam espaço na administração, tornando-se matéria necessária para que os gestores passassem a conhecer as necessidades humanas e, com isso, compreendessem melhor os comportamentos organizacionais e utilizassem a motivação humana como meio para melhorar o ambiente organizacional, ou seja, motivar sua equipe para agir em prol dos objetivos da empresa e, simultaneamente, alcançar satisfação das pessoas por meio do contexto organizacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão inicial da literatura possibilitou revisitar o debate em torno dos temas Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade a partir do contexto social, político e econômico que direcionou as empresas brasileiras na implantação dessa visão. Da revisão realizada, conclui-se que as empresas, de uma forma em geral, tiveram suas motivações para a implementação de políticas de desenvolvimento sustentável entre as décadas de 1970 e 1980, premidas pelos seguintes contextos: 1. Contexto político provocado por grandes desastres ambientais impulsionaram os debates acerca dos impactos da ação humana sobre o meio ambiente, gerando irritação em grupos sociais (em especial os de origem ambiental) e o aumento da consciência a população sobre os problemas ambientais: − Baía de Minamata (1968) – envenenamento de centenas de pessoas por metilmercúrio ocorrido na cidade de Minamata, no Japão.

− Bhopal (1968) – vazamento de quarenta toneladas de gases tóxicos de uma fábrica de pesticida na Índia. − Chernobyl (1986) – explosão um reator numa usina nuclear na Ucrânia, liberando uma imensa nuvem radioativa contaminando pessoas, animais e o meio ambiente de uma vasta extensão da Europa. BARATA, 2007) Especificamente no caso das empresas brasileiras constatou-se que esse movimento é mais recente e remonta para as décadas de 1990 e 2000: − criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial na Bolsa de São Paulo (2005) − iniciativas não governamentais como o Instituto Ethos de Responsabilidade Social e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) com relatórios para relatar às partes interessadas o desempenho ambiental e social − leis ambientais criadas por diferentes stakeholders no sentido de implementar um processo de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável − a ampliação da produção acadêmica sobre o tema Sustentabilidade em cerca de 712% no período de 1999 a 2008 conforme levantado na base de dados da Capes Outra importante consideração apontada pelo estudo foi a diversidade de definições acerca dos termos Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade, mas que podem perfeitamente ser classificados em basicamente duas matrizes conceituais (Layrargues, 1997; Lima, 2003; Deluiz e Novick, 2004) que polarizam os debates e posicionam a multiplicidade de tendências político-filosóficas: − a que corresponde ao discurso oficial da sustentabilidade, detém a hegemonia e atua como “a verdade” sobre o tema.

É originaria dos trabalhos da Comissão Brundtland e possui um discurso pragmático, enfatizando as dimensões econômicas e tecnológicas como a solução para o atingimento da sustentabilidade. Defende a articulação do crescimento econômico com a preservação ambiental sendo possível elevar a produção com a redução do consumo de recursos naturais e a diminuição de lançamento de resíduos industriais; − e a que se coloca contraria ao discurso oficial da sustentabilidade e tenta integrar um conjunto de dimensões da vida individual e social, identificando-se com princípios da democracia participativa e considerando a importância da sociedade civil na transição para a sustentabilidade. É originária da proposta de Ecodesenvolvimento idealizada por Ignacy Sachs. Prioriza a equidade social e desconfia da capacidade do mercado como alocador de recursos.

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WAGNER III, J.

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