Resenha:A re-significação da prova segundo Moretto

Palavras-chave: Prova. Avaliação, Sóciointeracionista Construtivista, Moretto. INTRODUÇÃO Vasco Pedro Moretto é Mestre em Didática das Ciências e professor há mais de 40 anos, trabalha com a reflexão de professores e, nesta trajetória percebe cotidianamente a forma como estes profissionais avaliam o ensino: por meio de provas. Estas, quase sempre estão ligadas à cultura do “sucesso ou insucesso escolar” do aluno. Deste modo, caracterizam-se muitas vezes pela descontextualização da aprendizagem, significando um momento de pontuar a relação de poder estabelecida pelo professor em relação ao aluno, na perspectiva tradicional de ensino (alguns professores transformam o momento da prova no momento de cobrar à indisciplina, o desinteresse do aluno, a falta de estudo e outros, é como se fosse a “hora do acerto de contas”). Como o professor reproduz o conteúdo acriticamente não oportuniza aprendizagem significativa por parte deste a partir da forma como ele interpreta uma informação, relacionando-a com o material estudado numa determinada disciplina e sua aplicação noutras situações de aprendizagem, como por exemplo, a prova.

O ensino de sucesso para Moretto parte do estabelecimento de metas a serem atingidas, de objetivos e conteúdos relevantes de serem apreendidos de acordo com o contexto escolar. Contrariando a perspectiva tradicional de ensino, hoje a educação busca desenvolver competências em vários campos do saber, desenvolver habilidades que possibilitem ao educando acompanhar o desenvolvimento tecnológico e as mudanças sociais, preparando-o para o exercício de uma profissão. Ensino para o desenvolvimento de competências A Competência conceituada por Moretto (2008, p 19) diz respeito às habilidades, apreensão de recursos em contexto escolar e segue o proposto por Philippe Perrenoud, isto é: Competência é a capacidade do sujeito de mobilizar recursos (cognitivos) visando abordar uma situação complexa. Ela relaciona quatro aspectos: “o ser capaz de fazer, o mobilizar que diz respeito a motivação, a idéia de recursos implica aspectos intelectivos, emocionais e cognitivos, e a finalidade da aprendizagem; resolver situações complexas.

p. O processo de apropriação do conhecimento Moretto (2008, p. conceitua a apropriação do conhecimento como a capacidade de internalizar informações e relacioná-las com outras experiências, ampliando ou transformando a estrutura conceitual do sujeito. O autor acredita que pesquisas piagetianas interessam diretamente à educação. É importante ao professor saber como o aluno resolve problemas pertinentes a determinados conteúdos, que meios emprega em suas tentativas de solução, como integra conhecimentos e informações sobre dado assunto, quais estratégias de aprendizagem utiliza. p. e a teoria Construtivista Sócio-interacionista é a concepção que melhor expressa o papel da educação no processo de conhecer e “ler” o mundo porque a aprendizagem não ocorre de modo isolado e o aluno tem condições de gerenciar suas decisões, fazer escolhas entre o conhecimento relevante e aquele que provavelmente será utilizado somente no momento de uma avaliação.

Ao dizer que o sujeito constitui suas competências em atividade e sua consciência nas relações sociais, Moretto aponta caminhos para a superação da dicotomia social/individual, pois a ação do sujeito (aluno) é considerada a partir da ação entre sujeitos (professor/aluno) no contexto social. A negociação dialética (aprendizagem) que se faz entre professor e aluno é dialética e contínua. A prova, neste contexto deve seguir os mesmos pressupostos. O autor reitera que existe uma infinidade de estratégias de avaliação. O redimensionamento da prova numa perspectiva construtivista sociointeracionista deve segundo Moretto (2008, p. estar sustentada nos seguintes princípios: • A aprendizagem é um processo interno do sujeito expressa por indicadores externos; • Os indicadores (palavras, gestos, desenhos, textos) passam pela interpretação do professor e estas nem sempre correspondem ao que o aluno pensa.

• O conhecimento é um conjunto de relações acordadas entre professor e aluno num contexto específico - a escola; • O conhecimento significativo é estável e estruturado; • O conhecimento mecânico é instável e isolado; • A avaliação é um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas. Deste modo o autor caracteriza como deve ser a avaliação: eficaz e eficiente. Neste sentido ele constrói um conjunto de recomendações para os professores com vistas à elaboração da prova escrita sob a perspectiva dialética. • Determinar com clareza e precisão o objetivo da questão. • Verificar se o conteúdo cobrado é relevante no contexto e potencialmente significativo. • Buscar concepções prévias do aluno, ligadas ao conteúdo explorado. • Contextualizar a questão para que o aluno a compreenda.

O contexto atual apresenta novas demandas para o professor. A avaliação deve ser resignificada constituindo-se em um momento privilegiado de aprendizagem. Acreditamos que a obra de Moretto oferece um aporte teórico que demarca historicamente um enfoque diferenciado para a didática em relação ao processo de avaliação, mais especificamente a prova escrita: o papel ativo dos sujeitos na aprendizagem escolar, a construção de conceitos a partir das representações dos alunos, a relação entre o conhecimento e a realidade, a consideração das variáveis que envolvem o momento da prova e que influenciam o resultado da mesma. Esperamos que esta análise do significado da prova possibilite contribuições aos professores de todas as áreas no momento de elaborá-las, de modo que este instrumento contemple a aprendizagem real dos educandos.

REFERÊNCIAS GASPARIN, J. Artigo Científico: percorrendo caminhos para sua elaboração. Canoas: ULBRA.