A luta pelo reconhecimento no interior da filosofia hegeliana: um sobrevoo parcial no movimento da consciência-de-si e o problema (ou papel) da Revolu

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Filosofia

Documento 1

The purpose of this dissertation will be the contextualization of the passage from consciousness to self-consciousness, alluding subsequently to the "metaphor" of the Lord and the Slave in conjunction with the re-reading proposed by Buck-Morrs. Keywords:​ ​Hegel; Lord and Bondsman Dialetic; aknowledgement; freedom RESUMO: O movimento teórico tão famoso de Hegel - a dialética do Senhor e do Escravo - constitui uma passagem central a fim de prover uma base à teoria do reconhecimento, contrapondo algumas das diversas interpretações posteriores, que se deram, entre outros motivos, pela consideração de que Hegel é uma espécie de ranço do idealismo alemão. Entre algumas delas, podemos mencionar a problematização tomada por Karl Marx ao considerar a passagem da seção IV da ​Fenomenologia do Espírito como uma “metáfora”; o problema é justamente este: tratar o movimento por trás das figuras do Senhor e do Escravo como se apenas fossem um recurso linguístico utilizado por Hegel com o objetivo de ilustrar sua dialética.

Uma saída, porém, a fim de manter a teoria do reconhecimento em Hegel, será a adoção da interpretação de Susan Buck-Morss em ​Hegel e Haiti​, que relegará o caráter concreto do problema, ao repropor o contexto hegeliano em que se deu a escrita da importante obra. O objetivo desta dissertação será a contextualização da passagem da consciência à consciência-de-si, aludindo, posteriormente, a “metáfora” do Senhor e do Escravo em conjugação com a releitura proposta por Buck-Morrs. ”1 - tem por plano de fundo a problemática da guerra total devido à saída do estado de natureza, em que, apesar da presença da igualdade natural, esta não importa na consolidação do bem comum, mas resulta num conflito sem fim entre os homens devido ao interesse concorrencial, como ressalta Vladmir Safatle (2017); é preciso recobrar que o desejo, em Hobbes, decorrem de uma mimese, o que direciona a uma ideia de dependência intersubjetiva que, no entanto, acabará por gerar rivalidade e violência, sendo essas impassíveis de serem reguladas pelos próprios indivíduos, o que denota a necessidade do Estado a fim de sobrepujar o conflito.

Ainda em foco a ideia de naturalização, há de se ressaltar que, além da concorrência, o sentimento de posse e a propriedade são princípios naturalizados por parte da proposição do filósofo, demandando a presença de um terceiro capaz de dar conta dos indivíduos - que sempre buscarão fazer prevalecer o interesse próprio mediante o do outro, afinal o bem comum pode ser alcançado nessa perspectiva -, uma força externa que regulará as relações intersubjetivas a partir do medo, o que abre, nesse ponto, espaço a duas críticas relativas ao que se tomará como teoria do reconhecimento(a primeira um pouco mais ampla que a segunda): a partida de um estado de natureza realizada não HOBBES, Thomas.

​Leviathan​: <​http://www. dominiopublico. gov. Oxford University Press, 1999, 2. ed. p. Do original: (. For Thomas Hobbes, slavery was an inevitable part of the logic of power. Há diversos momentos de 4 5 E que alusões podemos fazer a respeito da consciência-de-si? Como considera Hyppolite, “A originalidade de Hegel é tomar tal consciência de si como um segundo momento oposto à consciência e, dela, acompanhar a dialética original”7, ora, daqui é necessário tirar ao menos duas colocações antes de prosseguir: a consciência-de-si é “o segundo momento oposto à consciência”, ou seja, a consciência é o primeiro momento, que acabava por visar o Outro, momento que há pouco foi mencionado em que a medida da verdade dava-se pela adequação entre as representações e os objetos, o que passou a ser um problema na medida em que os objetos da experiência invertiam as representações do pensar, implicando uma situação em que a consciência parecia perder a capacidade descritiva dos estados de coisas independentes e dotados de autonomia metafísica, como bem trata Safatle (2017).

Ainda em relação à consciência, no momento em que o objeto acaba por corresponder ao conceito, e vice-versa, surgindo uma verdade que seja igual à certeza, esta acontece quando a consciência, ao acreditar estar lidando com objetos autônomos, estava nos percalços da estrutura do saber, em que “o objeto corresponde ao conceito, não só para nós, mas para o próprio saber”8; o que tudo isso acarreta é que há identidade entre o Em-si do objeto e o ser-para-um-Outro, decorrendo disso que o Eu é o conteúdo e a relação, e o percalço tomado pelo Eu é: “defronta um Outro e ao mesmo tempo o ultrapassa; e este Outro, para ele, é apenas ele próprio. Neste momento, pode-se dizer que a certeza do outro é a certeza de si mesmo, “O eu tomou-se a si mesmo como objeto ao superar o Outro”10.

O outro aspecto é a abstração em que se encontra a consciência-de-si, condensando desejo, satisfação e a dialética anteriormente ignorada sob forma concreta; ora, a diferença que podemos apontar entre a consciência e a consciência-de-si é que a primeira visava ao Outro, enquanto a segunda “visa-se a si mesma através do Outro”11, conforme é desejo. grande relevância que poderiam ser citados, mas o relato dos soldados franceses que, enviados à colônia a fim de abafar a revolta, perguntaram-se em voz alta se estavam dispostos no lado certo da luta, ao se depararem com os ex-escravos proferindo a Marselhesa; diante de um momento como o mencionado, é perceptível o quão diferente é a proposta da recognição e do reconhecimento, e em que este segundo traz consigo um processo de transformação das relações, afinal não é sempre que se poderia esperar que soldados franceses, na época de um nacionalismo fervoroso como o pós-revolucionária [Revolução Francesa], conceberiam a possibilidade de estar lutando contra o seu próprio povo, ainda que estes fossem ex-escravos.

ed. p. HEGEL, idem. HYPPOLITE, Jean. Idem, p. Num passo adiante, com a negação do caráter particular da certeza sensível, a consciência, como se pode denotar, não estava apenas incorrendo numa inadequação do saber a respeito das coisas, mas uma manifestação da vida, como podemos reparar em “o objeto do desejo imediato é um ser vivo”13, ou seja, o primeiro objeto do desejo é a vida, considerando que é o desejo que fornece um novo parâmetro de estruturação relacional na consciência-de-si, não se tratando, porém, de um objeto autônomo ou da própria consciência-de-si, mas da vida. Ainda buscando precisar a concepção de vida, bem, recobra-se o caráter de reiteração acerca da intersubjetividade, o que afasta Hegel do teor apresentado por Fichte e por Kant14, além de outros pensadores da modernidade, como bem informa Habermas: “Contra as personificações autoritárias da razão centrada no sujeito, Hegel convoca o poder unificador da intersubjetividade, que se apresenta sob os títulos de “amor e vida”15, mas também, ressalta o autor sobre a comunicação como meio entre a comunicação intersubjetiva - “O lugar da relação reflexiva entre sujeito e objeto é ocupado por uma mediação comunicativa, no sentido mais amplo, dos sujeitos entre si”16.

A vida, além do mais, é o Outro da consciência-de-si, ou seja, o que se encontra como consciência-de-si em face do Eu é a vida, sendo esta, simultaneamente, “o outro e o mesmo”, como bem marca Hyppolite (p. E como se pode proceder a respeito do desejo, que foi inúmeras vezes já mencionado até então? Ora, o desejo (​Begierde​)17 será a maneira pela qual a consciência-de-si aparece em seu primeiro estágio, tratando-se de um modo de interação social e modo de relação com o objeto. E qual o problema em jogo? O desejo é movido pela falta , que aparece sob a forma do objeto, além de poder ser dito que a consciência encontra satisfação a partir do consumo do objeto, contudo apresenta aqui um problema: “A consciência-de-si não pode suprimir o objeto através de sua relação negativa para com ele, pois essa relação antes reproduz o objeto, assim como o desejo”18; em outros termos, a satisfação do desejo dá-se por meio da reflexão HEGEL, G.

p. HABERMAS, Jürgen. Idem. A opção linguística por desejo ao invés de apetite segue a postura de J. Hyppolite. Ibidem, p. ​Novamente pode ser feita uma boa alusão a uma hipótese, logo refutada, em relação à teoria hobbesiana por Safatle - “de início, a consciência-de-si é animada pela realização de suas necessidades, pela afirmação de suas propriedades”, como seria em um estado hobbesiano”. ​Uma resposta disponível é a de Robert Brandom, em ​The Structure of Desire and Recognition​: “The answer we are given in Self-Consciousness is that one identifies with what one is willing to risk and sacrifice for. Hegel’s metonymic image for this point concerns the important case of making the initial transition from being merely a living organism, belonging to the realm of Nature, to being a denizen of the realm of Spirit.

The key Há importância na distinção realizada no trecho do parágrafo 187 - “o indivíduo que não arriscou a vida pode ser bem reconhecido como pessoa (. Por isso esse caminho pode ser considerado o caminho da dúvida [Zweifeln] ou, com mais propriedade, caminho do desespero [Veizweilflung] (. aniquilamento [​zugrundgeher​] enquanto aderência ao ser-aí natural e a descoberta de que é negação de si em relação a si mesma, como bem opera Safatle (2017) ao apontar este jogo de termos empregado por Hegel. Enfim, no contexto hegeliano, morte é aquilo que não se submete à determinação do Eu ou aos contornos auto-idênticos da representação, incorrendo numa experiência de fragilidade das imagens do mundo e do sistema normatizado de práticas de ações e justificações.

Aqui aparece novamente a ideia da negação determinada, na medida em que à vida falta a negação determinada, enquanto a morte se trata de uma negação natural, como o trecho do §188 da FE bem constata: Com efeito, como a vida é a posição natural da consciência, a independência sem a absoluta negatividade, assim a morte é a negação natural desta mesma consciência, a negação sem a independência, que assim fica privada da significação pretendida do reconhecimento. FE, 1998, p. “Na história, a verdadeira maestria pertence ao escravo trabalhador, não ao nobre, que somente colocou sua vida em jogo, mas afastou de si a mediação do ser-aí vital. O Senhor exprime a tautologia do Eu = Eu, a consciência de si abstrata e imediata.

negação do que é condicionado e finito; e, a liberdade, por outro lado, demanda essa subordinação27 prévia a fim de alçar uma capacidade de autogoverno. É necessária a passagem, portanto, a fim do Escravo romper com seus grilhões e ser livre, como se pode revolver pela passagem de Hyppolite: “O escravo exprimirá a mediação essencial à consciência de si, mas desapercebida pelo Senhor. Quando efetuar conscientemente essa mediação, o escravo se libertará. Ver Davis, Ralph. The rise of the atlantic economies​. Ithaca: Cornell University Press, 1973, p. ainda mais, Buck-Morss faz referência a várias obras que tratam do assunto colonial e da liberdade, não sendo o objeto da dissertação arguir acerca de cada uma, porém tomá-las como um dado. temos também a postura dos franceses que, ainda que no interior do Iluminismo, apresentavam (os burgueses) uma dependência de cerca de 20% em relação à atividades comerciais vinculadas à exploração escravagista31, sem contar com a vigência do ​Code Noir (1685-1848), ou seja, um código legislativo francês aplicado aos escravos negros nas colônias.

deixado por um movimento revolucionário, liderado por escravos em 1791, numa colônia cuja metrópole era não outra senão a França, e que passava por nenhum outro momento senão a Revolução Francesa, cujo mote era a liberdade e a igualdade, mas que defendia a escravidão por meio de seu suposto mecanismo de legalidade previsto no ​Code Noir​? Como imaginar o impacto de um movimento de escravos, que não eram apenas uma metáfora como se passou a consolidar posteriormente às propostas teóricas de Marx, contra seu Senhor, presente ainda o fracasso num primeiro intento como se deu com a prisão de Toussaint Louverture? Conclusão Ressalta-se, por fim, a dificuldade do movimento hegeliano que ruma ao reconhecimento, que passa pelo ‘arriscar a vida’, por uma cisão do Eu e pela operação de uma negação dialética (determinada) a fim de alcançar a liberdade.

Não apenas, deve-se levar em conta que o concreto, em sentido hegeliano, não são os indivíduos, mas as relações, e, além disso, a busca pela liberdade incorre em diversos impasses traçados na FE, não se resumindo ao que fora trabalhado nesta dissertação, ou seja, “Ser livre não é ser senhor ou escravo, se encontrar localizado nesta ou naquela situação no seio da vida; ser livre é comportar-se como ser pensante, quaisquer que sejam as circunstâncias”34 Por fim, cumpre lembrar que o problema do reconhecimento não se reduz somente à recognição, ou seja, trazer à luz um conhecimento que já se sabia anteriormente, nem fica restrito à consideração de um indivíduo como pessoa capaz de exercer direitos positivos, entre os quais ser proprietária; o reconhecimento requer o reconhecer e ser reconhecido pelo Outro, o que implica no movimento dialético percorrido na ​Fenomenologia do Espírito​.

Bibliografia BRANDOM​, Robert. ​The structure of Desire and Recognition: Self-Consciousness and Self-Constitution​. Acessado por <​booksandjournals. br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002011000200010> DAVIS​, David Brion. ​The problem of slavery in the age of revolution​. Oxford University Press, 1999, 2. ed. F. ​Enciclopédia das ciências filosóficas​. Edições 70: 1988. ed. HEGEL​, G. Acessado em: <​http://socserv2. socsci. mcmaster. ca/~econ/ugcm/3ll3/hegel/history. pdf​>. ​Menon​. Rio de Janeiro: ed. PUC-Rio. ed. PIPPIN​, R.

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