Trabalho acadêmico de Letras

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Finanças

Documento 1

Em situações de contato pode ocorrer, no limite, o surgimento de uma nova língua, uma língua crioula. Muito já se discutiu quanto à possibilidade de o português ser/ter sido uma língua crioula, já que, além do contexto histórico ser semelhante ao de lugares onde se tem notícia de crioulos, há inúmeras características gramaticais que remetem às línguas crioulas. É provável que alterações foram introduzidas na língua a partir do contato linguístico, sem que necessariamente tenhamos que pensar na formação de uma única língua crioula base do português do Brasil. Já a hipótese da deriva linguística tenta provar que as características do português do Brasil seriam fruto do jogo interno da estrutura.

Um exemplo disso seria a perda da inversão do sujeito. Seguem uma diretriz; há uma corrente nas mudanças. O conceito é neutro: a língua não melhora nem piora; apenas constata-se que ela muda. Várias são as razões dessa mudança, mas a principal situa-se na relação que se estabelece entre língua e cultura. A rapidez ou lentidão no processo de deriva está condicionada a condições histórico-sociais. Naro e Scherrer (2007) afirmam que o português do Brasil sempre foi o português e sustentam essa afirmação argumentando que apesar do imenso território que hoje ocupa como língua materna, o português falado no Brasil não estabeleceu nenhum traço estrutural estranho à estrutura original em relação ao português de Portugal.

Os autores reconhecem essas exceções e argumentam que essas, bem como tantas outras que ocorreram tanto no Brasil quanto em Portugal depois da transferência da língua para o Brasil, mas que essas mudanças posteriores nada têm a ver com as origens dos traços ditos crioulizantes no Brasil. A tendência em direção à restauração da marcação explícita do plural em alguns setores da comunidade brasileira, com o aumento da escolarização e da urbanização. Esse fenômeno tem duas vertentes: de um lado o favorecimento de formas verbais marcadas, como “vão” em preferência a “vai” no contexto plural, e, de outro lado, o uso mais frequente do próprio sujeito pronominal, por exemplo, “eles vão” em vez de “vão”, o que tem efeito de facilitar o aumento no uso das desinências verbais e consequente diminuição de formas verbais sem marcação explícita de plural.

É impossível precisar quando exatamente esse fenômeno se iniciou – o mais provável é que tenha sido com o incremento da escolarização. A hipótese mais verossímil para o Brasil é que sempre tenha havido “fluxos e contrafluxos” na concordância, ou seja, movimentos diversos de perda, de restauração e de estabilização em diversos momentos, dado o caráter sistemático deste fenômeno em termos linguísticos, mas fortemente discriminado na comunidade de fala portuguesa. Para uma maior eficácia na conversão do gentio, os jesuítas também adotaram a língua geral, chegando mesmo a codificála e dar-lhe feição escrita, empregando o modelo da gramática portuguesa de então. Sendo a sociedade em determinado período majoritariamente mestiça e tendo a esfera doméstica da criação dos filhos, muitos deles bastardos, entregue às mulheres índias, a sociedade paulista foi logo tomada pelo uso massivo da língua geral.

As bandeiras também difundiram o uso da língua geral pelo interior do país até entre as tribos de língua não tupi. Além das funções já citadas a língua geral também era usada como língua franca no intercurso dos colonizadores portugueses e indígenas. Entretanto, a resistência cultural intrínseca do índio ao trabalho forçado,sobretudo ao trabalho agrícola (que na sua cultura nômade extrativista ocupava uma posição subalterna, sendo entregue às mulheres e crianças), aliada às campanhas contra a escravidão indígena movidas pelos jesuítas, fez com que se fizesse necessário buscar uma outra fonte de mão de obra para atender as crescentes demandas dos emergentes e muito prósperos engenhos de cana de açúcar, que começaram a se instalar no Nordeste brasileiro.

Esse quadro está bastante distante do que deu ensejo às formas mais típicas de crioulização. LUCCHESI; BAXTER; RIBEIRO, 2009). A natureza crioula de uma determinada língua é sempre definida em termos relativos e nunca de forma absoluta ou universal, pois todas as características estruturais e mudanças que ocorrem nas línguas crioulas podem ocorrer em outras línguas naturais, não crioulas. E nem poderia ser diferente, na medida em que as línguas crioulas também são línguas humanas naturais. Uma língua crioula já formada desempenha virtualmente as mesmas funções comunicativas e sociais que qualquer outra língua natural e é transmitida normalmente de geração para geração, sendo adquirida pelas crianças com base na faculdade humana da linguagem como qualquer outra língua.

PAGOTO, 1993). Pagotto (1993) procura investigar a história social do português nas mais diversas regiões do Brasil não como um momento numa linha sucessiva de acontecimentos, mas como um episódio com começo, meio e fim, fechado em si mesmo, abrindo-se, porém, ao mesmo tempo, às intersecções com as demais histórias que se sucediam em outros pontos do território. A história do português do Brasil seria desta maneira, segundo o autor “um caleidoscópio de avanços e recuos, de rupturas radicais e de acomodações que, no século XX, vão produzir uma síntese no português urbano de notável unidade quanto ao seu núcleo gramatical”. De maneira geral, tem-se uma corrente a favor da chamada crioulização prévia, com posterior descrioulização quando tomado rumo ao português lusitano; uma segunda corrente que reconhece a formação do PB como fruto de um processo de transmissão lingüística irregular, em que o contato do PE com línguas africanas no Brasil, permitiu o surgimento de uma variedade da língua portuguesa; e a deriva secular e a confluência de motivos, que considera serem as modificações pelas quais o PE passou no Brasil já previstas no sistema, ou seja, a mudança reside na freqüência dos usos, pois a gramática da língua já a pressupunha.

LINS, 2009). V. As mudanças línguísticas: ontem/hoje. In. Caderno do VIII Congresso Nacional de Linguística e Filologia. n. A transmissão linguística irregular. In: LUCCHESI, D. LUCCHESI, D. História do contato entre línguas no Brasil. In: LUCCHESI, D. São Paulo, Parábola. PAGOTTO, Emilio Gozze. Variedades do português no mundo e no Brasil. Cienc. Cult.

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